No espaço que ocupa simultaneamente em O Globo e na Folha de São Paulo, Elio Gaspari escreveu ontem artigo sobre as confusões que estão envolvendo o ex-presidente Lula e concluiu sustentando a tese que “seus maiores aliados, como sempre são seus adversários”. Compreendo o sentido das palavras usadas pelo brilhante Gaspari, mas acredito que faltou um complemento: é o que está no título deste artigo. Pois, na realidade, a maior parte da culpa que possa ser atribuída a Luiz Inácio da Silva parte de suas próprias escolhas, ações e comportamentos.
Isso porque todos aqueles que ocupam postos no poder sabem muito bem distinguir – ou pelo menos deveriam saber – as qualidades e intenções daqueles que o cercam. Afinal de contas quem nomeou José Dirceu, chefe da Casa Civil, e o chamou de capitão do time? Foi Lula. Quem assinou o ato nomeando Renato Duque para a diretoria da Petrobrás? Quem viajou para o exterior em companhia do mesmo Dirceu e de Marcelo Odebrecht para defender a realização de obras em Portugal e em Angola? Surpreende inclusive a presença de José Dirceu em Lisboa, pois encontrava-se ele incluído no regime de prisão semi aberta durante o governo Dilma Rousseff.
Todos sabem também os interesses defendidos nas sombras administrativas por grandes empresas, como a OAS, Andrade Gutierrez, UTC, de Ricardo Pessoa, e a Odebrecht. Elas contratam especialistas em criar nuvens de prazer e ambientes sedutores a quem lhes interessa agradar. Fechar os olhos para isso é uma responsabilidade ética e moral dos que são objetos de tais ações sedutoras.
HUMOR CHAPLINIANO
Aliás, com o humor chapliniano, Ruy Castro focalizou o tema em seu artigo de ontem na Folha de São Paulo. A responsabilidade de decidir cabe a quem tem a caneta mágica nas mãos. Assim deixar usar-se o instrumento mágico por outras pessoas, impulsionadas por objetivos pessoais, significa abrir mão de parcelas do poder, o qual na realidade é indivisível.
Elio Gaspari referiu-se ao episódio que marcou, no Irã de Reza Pahlevi, a substituição da imperatriz Soraya por Fara Diba, porque a primeira esposa era estéril. Multidões na rua pediam o fim da monarquia, mas o Xá foi em frente até sua queda do poder. Mudara-se para Paris. Mas esta é outra história. O fato é que as manifestações populares que o Xá armou no Irã não deram certo. Ele não conseguiu transferir a outros a responsabilidade por seus erros.
O poder será eternamente um palco marcado pela solidão individual e interior dos seus ocupantes. É verdade que os piores adversários são os falsos aliados e os que usam o nome de quem os beneficia para beneficiarem-se a si mesmos sem se preocuparem com a imagem e o destino das fontes que os elevaram a uma ascensão social e uma oportunidade administrativa para que conseguissem um lugar ao sol, para citar o título de filme famoso de Rene Clement. No fundo o poder conduz à solidão e, por isso mesmo, exige atenção e desconfiança permanente em a todos aqueles que dele tentam se aproximar por caminhos diferentes, mas com objetivo único de enriquecer, sejam quais forem os métodos adotados.
Essa é a verdade dos fatos, eterna como a condição humana.
12 de fevereiro de 2016
Pedro do Coutto
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