A multidão se concentrava defronte ao palácio de El Pardo, em Madri, onde agonizava Francisco Franco, depois de 40 anos como caudilho da Espanha, ditador do mais prolongado regime fascista do século passado. Auxiliares mais chegados e a equipe de médicos explicavam ao chefe do Estado espanhol a causa do intenso rumor que entrava pelas janelas: “é o povo, generalíssimo, que veio despedir-se”. Resposta: “para onde vai o povo?”
Guardadas as proporções e sem qualquer relação com a saúde do Lula, que vai muito bem, corre que na sacada do apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, o ícone do PT perguntou a razão das manifestações populares na praça, lá em baixo. Paulo Okamoto e outros, com muito jeito, disseram ser os companheiros que tinham ido despedir-se. E veio a réplica: “e para onde vão os companheiros?”
Essa a dúvida que assola São Paulo: os companheiros se despedem, mas ninguém revela ao Lula para onde vão. Permanecer no partido parece difícil, dada a perda de credibilidade que inunda a legenda e o vazio em que se transformaram o governo de Madame e a perspectiva do retorno do antecessor. A esperança de mudanças sociais profundas desfaz-se no ar. Correr para os aliados, como o PMDB, significa pular no precipício. Refundar o PT através de profunda renovação torna-se missão impossível, pela falta de jovens dispostos a repetir o exemplo dos mais velhos. Os antigos líderes evaporaram, quando não recolhidos à cadeia ou entregues às delações premiadas.
O resultado é que os petistas despedem-se do Lula mas não tem para onde ir. Nem ele, ao dar adeus aos companheiros. Muito menos Madame. O que parecia uma epopeia virou uma aventura e, em seguida, um desastre. Sumiram as reformas sociais, desapareceu o sonho de uma nação mais justa. O desemprego em massa, o aumento do custo de vida, a multiplicação dos impostos, taxas e tarifas, a economia em frangalhos, a corrupção desenfreada, o abandono da saúde e educação públicas e a ausência de um plano de afirmação nacional são apenas faces variadas de um poliedro de horror.
Sendo assim, não há lugar para os companheiros. Nem para o Lula. Muito menos para Dilma. Estão passando. Ou já passaram. O pior é que para substituí-los fica o vazio.
Vale começar onde terminamos, ou seja, no exemplo da Espanha depois de Franco. Foi possível virar tudo de cabeça para baixo. União Nacional, Pacto de Moncloa, Rei Juan Carlos, Socialismo Democrático. Claro que dificuldades sociais, também, mas suportáveis...
21 de janeiro de 2016
Carlos Chagas
Guardadas as proporções e sem qualquer relação com a saúde do Lula, que vai muito bem, corre que na sacada do apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, o ícone do PT perguntou a razão das manifestações populares na praça, lá em baixo. Paulo Okamoto e outros, com muito jeito, disseram ser os companheiros que tinham ido despedir-se. E veio a réplica: “e para onde vão os companheiros?”
Essa a dúvida que assola São Paulo: os companheiros se despedem, mas ninguém revela ao Lula para onde vão. Permanecer no partido parece difícil, dada a perda de credibilidade que inunda a legenda e o vazio em que se transformaram o governo de Madame e a perspectiva do retorno do antecessor. A esperança de mudanças sociais profundas desfaz-se no ar. Correr para os aliados, como o PMDB, significa pular no precipício. Refundar o PT através de profunda renovação torna-se missão impossível, pela falta de jovens dispostos a repetir o exemplo dos mais velhos. Os antigos líderes evaporaram, quando não recolhidos à cadeia ou entregues às delações premiadas.
O resultado é que os petistas despedem-se do Lula mas não tem para onde ir. Nem ele, ao dar adeus aos companheiros. Muito menos Madame. O que parecia uma epopeia virou uma aventura e, em seguida, um desastre. Sumiram as reformas sociais, desapareceu o sonho de uma nação mais justa. O desemprego em massa, o aumento do custo de vida, a multiplicação dos impostos, taxas e tarifas, a economia em frangalhos, a corrupção desenfreada, o abandono da saúde e educação públicas e a ausência de um plano de afirmação nacional são apenas faces variadas de um poliedro de horror.
Sendo assim, não há lugar para os companheiros. Nem para o Lula. Muito menos para Dilma. Estão passando. Ou já passaram. O pior é que para substituí-los fica o vazio.
Vale começar onde terminamos, ou seja, no exemplo da Espanha depois de Franco. Foi possível virar tudo de cabeça para baixo. União Nacional, Pacto de Moncloa, Rei Juan Carlos, Socialismo Democrático. Claro que dificuldades sociais, também, mas suportáveis...
21 de janeiro de 2016
Carlos Chagas
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