"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TEMER SAI DAS SOMBRAS PARA SER CANDIDATO À VAGA DE DILMA

No dia 25 de agosto de 1954, ameaçado de ser deposto pelos militares, o presidente Getúlio Vargas trancou-se no seu quarto do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, apontou o revólver para o coração e atirou. Saiu da vida para entrar na História.

No dia 7 de dezembro de 2015, farto de desempenhar o papel de figura decorativa da República, o vice-presidente Michel Temer sacou de uma caneta, em São Paulo, e atirou no coração... da presidente Dilma. Saiu das sombras para entrar na História.

Resta saber se será protagonista de um capítulo ou de uma simples nota de rodapé.

Onde ficou o Temer austero, de gestos contidos, de palavras amenas, mais um jurista impoluto como sempre quis ser visto do que um político que parecia destinado a jamais atingir o cume do poder?

Na carta que remeteu a Dilma, não perdeu a elegância. Perdeu a aparente timidez que o impediu ao longo da vida de romper os limites da prudência. Aproveitou o embalo e rompeu com a presidente.

O que ele escreveu foi mais do que um desabafo. Temer acusou Dilma de não trata-lo com consideração, de desprezá-lo com frequência, de humilhá-lo vez por outra, e de não confiar nele nem no seu partido, o PMDB.


Na política não existe “sempre” nem “jamais”. Temer e Dilma, um dia, ainda poderão se reconciliar. 
Mas não parece provável que isso ocorra, seja pelo temperamento dela, seja pela condição assumida por Temer desde que enviou a carta.

Quer negue ou não, para surpresa de políticos que nunca o julgaram capaz de tamanha ousadia, Temer é desde ontem aspirante declarado à vaga de Dilma, caso ela acabe derrubada por meio do impeachment.

Nada que Dilma não soubesse. Mas isso era tudo o que ela tentava evitar com a sua falta de jeito, seus modos grosseiros, sua arrogância habitual, e a dificuldade de compreender e saber lidar com seus semelhantes.

Pela natureza do PMDB, não se espere que a banda governista do partido troque Dilma por Temer, devolvendo os cargos que ocupa. Até poderá proceder assim desde que se convença que o impeachment dará certo.

O que importa, por ora, é que Temer, com seu gesto, mostrou que quer ser levado a sério como uma perspectiva real de poder.



08 de dezembro de 2015
Ricardo Noblat

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