Passado um ano da reeleição de Dilma Rousseff, o que dizer do tempo decorrido? Que foi um ano perdido, simplesmente. Nada do que se fez deixou de ser uma sucessão inacreditável de erros. Pouco se caminhou na direção do resgate da dinâmica econômica do crescimento.
Escolhido para dar consistência à política econômica, o ministro Joaquim Levy acabou sistematicamente esvaziado, com sua agenda sabotada, seus alertas ignorados. Suas iniciativas dormitam nos escaninhos do Planalto. Ele vaga pelo governo na esperança de estabilizar um orçamento deficitário.
Para evitar a expressão “tragédia completa”, deve-se reconhecer que a equipe econômica conseguiu implantar uma política cambial e uma administração de preços públicos mais realistas. Os preços deixaram de ser represados artificialmente e apontam para um maior realismo, com menos populismo fiscal.
O ministro Aloizio Mercadante surgiu no segundo mandato como o homem forte, o ideólogo do Planalto. Costurou o novo ministério, dirigiu a campanha contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara, estimulou blocos partidários contra o PMDB. Sabotou o vice-presidente, Michel Temer, como coordenador político. Nada deu certo. Mercadante, então, saiu pela porta lateral.
Na minirreforma ministerial, a presidente Dilma ficou longe de conquistar o que queria. Nem mesmo a certeza de que terá os votos necessários para barrar um eventual processo de impeachment. Terminou irritando mais os aliados do que satisfazendo seu apetite clientelístico.
O Palácio não dispõe de votos para aprovar o ajuste fiscal nem garantia para evitar as pautas-bomba que assombram as contas públicas. Tampouco tem liderança para conduzir o país para a saída do gargalo em que se encontra.
Na questão do impeachment, supera-se em incompetência ao inflar os riscos de sua ocorrência. Várias vezes Dilma e os ministros se manifestaram sobre o tema sem a mínima necessidade. Aos poucos, o governo transforma o impeachment em unanimidade nacional.
Apesar de contar com a presença de Joaquim Levy e de tentar fortalecer a coordenação política e a base no Congresso, o ajuste fiscal não está sendo implementado. Já perdemos o “investment grade” e caminhamos para tempos dramáticos no campo econômico.
No curto prazo, são nulas as expectativas de aprovação da DRU e da CPMF no Congresso. Nem o governo é capaz de criar uma narrativa para justificar, minimamente, um aumento de impostos. O máximo que produz é a ampliação dos números do déficit público, sem precisar de onde irá tirar receita para enfrentá-lo.
Além disso, não consegue encaminhar uma solução para as repercussões econômicas da operação Lava Jato. Deveria estar liderando um grande acordo entre a Advocacia Geral da União, o Ministério Público, a Petrobras e as empresas envolvidas para ressarcir as perdas com a corrupção e imaginando uma fórmula para manter tais empresas operando.
Enfim, o ano que deveria ter sido de ajustes fortes e de decisões voltadas para liberar o país para crescer perdeu-se em tentativas e recuos. Nada do que deveria ter ocorrido, de fato, aconteceu. O que foi feito resultou incompleto, irrelevante, fracassou, exceto, talvez, no campo da política agrícola, uma honrosa exceção.
A inconsistência do Planalto fez de 2015 um ano perdido, transferindo para os próximos 12 meses a responsabilidade de pôr em execução um ajuste cada vez mais pesado. Sob pena de o governo não chegar ao fim.
29 de outubro de 2015
Murillo de Aragão
Escolhido para dar consistência à política econômica, o ministro Joaquim Levy acabou sistematicamente esvaziado, com sua agenda sabotada, seus alertas ignorados. Suas iniciativas dormitam nos escaninhos do Planalto. Ele vaga pelo governo na esperança de estabilizar um orçamento deficitário.
Para evitar a expressão “tragédia completa”, deve-se reconhecer que a equipe econômica conseguiu implantar uma política cambial e uma administração de preços públicos mais realistas. Os preços deixaram de ser represados artificialmente e apontam para um maior realismo, com menos populismo fiscal.
O ministro Aloizio Mercadante surgiu no segundo mandato como o homem forte, o ideólogo do Planalto. Costurou o novo ministério, dirigiu a campanha contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara, estimulou blocos partidários contra o PMDB. Sabotou o vice-presidente, Michel Temer, como coordenador político. Nada deu certo. Mercadante, então, saiu pela porta lateral.
Na minirreforma ministerial, a presidente Dilma ficou longe de conquistar o que queria. Nem mesmo a certeza de que terá os votos necessários para barrar um eventual processo de impeachment. Terminou irritando mais os aliados do que satisfazendo seu apetite clientelístico.
O Palácio não dispõe de votos para aprovar o ajuste fiscal nem garantia para evitar as pautas-bomba que assombram as contas públicas. Tampouco tem liderança para conduzir o país para a saída do gargalo em que se encontra.
Na questão do impeachment, supera-se em incompetência ao inflar os riscos de sua ocorrência. Várias vezes Dilma e os ministros se manifestaram sobre o tema sem a mínima necessidade. Aos poucos, o governo transforma o impeachment em unanimidade nacional.
Apesar de contar com a presença de Joaquim Levy e de tentar fortalecer a coordenação política e a base no Congresso, o ajuste fiscal não está sendo implementado. Já perdemos o “investment grade” e caminhamos para tempos dramáticos no campo econômico.
No curto prazo, são nulas as expectativas de aprovação da DRU e da CPMF no Congresso. Nem o governo é capaz de criar uma narrativa para justificar, minimamente, um aumento de impostos. O máximo que produz é a ampliação dos números do déficit público, sem precisar de onde irá tirar receita para enfrentá-lo.
Além disso, não consegue encaminhar uma solução para as repercussões econômicas da operação Lava Jato. Deveria estar liderando um grande acordo entre a Advocacia Geral da União, o Ministério Público, a Petrobras e as empresas envolvidas para ressarcir as perdas com a corrupção e imaginando uma fórmula para manter tais empresas operando.
Enfim, o ano que deveria ter sido de ajustes fortes e de decisões voltadas para liberar o país para crescer perdeu-se em tentativas e recuos. Nada do que deveria ter ocorrido, de fato, aconteceu. O que foi feito resultou incompleto, irrelevante, fracassou, exceto, talvez, no campo da política agrícola, uma honrosa exceção.
A inconsistência do Planalto fez de 2015 um ano perdido, transferindo para os próximos 12 meses a responsabilidade de pôr em execução um ajuste cada vez mais pesado. Sob pena de o governo não chegar ao fim.
29 de outubro de 2015
Murillo de Aragão
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