Ao longo de muitos anos, desde o seu aparecimento, Lula nos deu a impressão – pelo menos na aparência – de esperteza e sagacidade. Agora, ao criticar a gestão da presidente Dilma e o PT, confirmou que esses “atributos” eram produtos de marketing. O povo brasileiro sabe que a grave situação por que passa o país se deve a ele.
Foi ele quem implantou tudo o que hoje critica e, de lambuja, após oito anos na Presidência da República, inventou a sua sucessora – uma candidata de bolso de colete, que logo se mostrou um desastre. A sua vinculação à presidente e ao seu partido é simplesmente insofismável. Soa muito mal a intenção de se desgarrar das suas criaturas. Além de ser o mais importante componente do PT, Lula ainda manda no governo contra o qual há dias se insurgiu. A sua presença em Brasília com dirigentes e parlamentares do PT, além do marqueteiro João Santana (de volta à cena com seus feitiços à custa de muito dinheiro), só agrava a crise gerada pela operação Lava Jato.
Os eleitores brasileiros (refiro-me, sobretudo, aos menos favorecidos; os ricos só lucraram com ele) foram extremamente pacientes, além de condescendentes, com o ex-presidente, que, no início, empolgou o país. Acreditaram nele, e ele, sem nenhum escrúpulo, os decepcionou. Mostrou, enfim, que nunca esteve à altura do cargo para o qual foi eleito duas vezes consecutivas. Esperteza e sagacidade podem às vezes contribuir, mas não bastam à trajetória de um político sério, que jamais admitiria o argumento sujo de que os fins justificam os meios.
Não são apenas ex-filiados ao PT que se sentem desiludidos, há bastante tempo, com Luiz Inácio Lula da Silva – um ex-torneiro mecânico que se encantou com a vida de rico. Também eu me sinto assim. Em 1989, depois de optar pelo candidato Mário Covas, e, diante da candidatura em perigosa ascensão de Fernando Collor de Mello (o mesmo que está hoje às voltas com propinas), optei, no segundo turno, pelo “sapo barbudo”, em companhia de milhões de brasileiros. Em 2002, embora não tenha mais votado nele, senti orgulho do meu país quando vi, na Presidência da República, como sucessor de um professor universitário, um homem do povo. As mudanças por que precisava passar o Brasil – dizia eu, como justificativa, naquela época – poderiam, quem sabe, se iniciar pelas mãos de um simples trabalhador.
Até que, nos primeiros momentos, desde sua posse – elegante e respeitosa da parte dos dois, mas, sobretudo, da parte do seu antecessor, que, poucos anos antes, militara politicamente em fileiras semelhantes –, senti-me, além de orgulhoso, também esperançoso. Os primeiros dias de um operário na Presidência da República, depois da famosa “Carta aos brasileiros”, levaram-me a sonhar com um país justo. Foi eleito, pensei, alguém capaz de lutar pela melhoria da sua classe, mas, também, pela paz, pelo diálogo e pela concórdia entre todos. Capaz de admitir que o maior problema do país estava (e está) na educação, à qual ele, ao lado de milhões de brasileiros, não teve acesso; capaz de iniciar no país um período no qual a ética fosse o primeiro mandamento.
Tudo isso foi pelo ralo, para onde, se não acordarmos já, irá também o país. As reuniões que Lula fez, em Brasília, nessa terça-feira, com o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros, foram patéticas. A melhor ajuda que Lula poderia dar ao país hoje é se afastar do cenário político. Ele já esgotou o (falso) capital de líder que teve um dia.
Se é que teve…
02 de julho de 2015
Acílio Lara Resende
Foi ele quem implantou tudo o que hoje critica e, de lambuja, após oito anos na Presidência da República, inventou a sua sucessora – uma candidata de bolso de colete, que logo se mostrou um desastre. A sua vinculação à presidente e ao seu partido é simplesmente insofismável. Soa muito mal a intenção de se desgarrar das suas criaturas. Além de ser o mais importante componente do PT, Lula ainda manda no governo contra o qual há dias se insurgiu. A sua presença em Brasília com dirigentes e parlamentares do PT, além do marqueteiro João Santana (de volta à cena com seus feitiços à custa de muito dinheiro), só agrava a crise gerada pela operação Lava Jato.
Os eleitores brasileiros (refiro-me, sobretudo, aos menos favorecidos; os ricos só lucraram com ele) foram extremamente pacientes, além de condescendentes, com o ex-presidente, que, no início, empolgou o país. Acreditaram nele, e ele, sem nenhum escrúpulo, os decepcionou. Mostrou, enfim, que nunca esteve à altura do cargo para o qual foi eleito duas vezes consecutivas. Esperteza e sagacidade podem às vezes contribuir, mas não bastam à trajetória de um político sério, que jamais admitiria o argumento sujo de que os fins justificam os meios.
Não são apenas ex-filiados ao PT que se sentem desiludidos, há bastante tempo, com Luiz Inácio Lula da Silva – um ex-torneiro mecânico que se encantou com a vida de rico. Também eu me sinto assim. Em 1989, depois de optar pelo candidato Mário Covas, e, diante da candidatura em perigosa ascensão de Fernando Collor de Mello (o mesmo que está hoje às voltas com propinas), optei, no segundo turno, pelo “sapo barbudo”, em companhia de milhões de brasileiros. Em 2002, embora não tenha mais votado nele, senti orgulho do meu país quando vi, na Presidência da República, como sucessor de um professor universitário, um homem do povo. As mudanças por que precisava passar o Brasil – dizia eu, como justificativa, naquela época – poderiam, quem sabe, se iniciar pelas mãos de um simples trabalhador.
Até que, nos primeiros momentos, desde sua posse – elegante e respeitosa da parte dos dois, mas, sobretudo, da parte do seu antecessor, que, poucos anos antes, militara politicamente em fileiras semelhantes –, senti-me, além de orgulhoso, também esperançoso. Os primeiros dias de um operário na Presidência da República, depois da famosa “Carta aos brasileiros”, levaram-me a sonhar com um país justo. Foi eleito, pensei, alguém capaz de lutar pela melhoria da sua classe, mas, também, pela paz, pelo diálogo e pela concórdia entre todos. Capaz de admitir que o maior problema do país estava (e está) na educação, à qual ele, ao lado de milhões de brasileiros, não teve acesso; capaz de iniciar no país um período no qual a ética fosse o primeiro mandamento.
Tudo isso foi pelo ralo, para onde, se não acordarmos já, irá também o país. As reuniões que Lula fez, em Brasília, nessa terça-feira, com o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros, foram patéticas. A melhor ajuda que Lula poderia dar ao país hoje é se afastar do cenário político. Ele já esgotou o (falso) capital de líder que teve um dia.
Se é que teve…
02 de julho de 2015
Acílio Lara Resende
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