"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

SE LEVY DEVE SER TRATADO COMO UM CRISTO, O GOVERNO ESTÁ MUITO MAL


Reportagem de Sérgio Roxo, Tatiana Farah, Catarina Alencastro e Washington Luiz, O Globo edição de 9, destaca as dificuldades que estão envolvendo a Convenção Nacional do PT que se instala quinta-feira em Salvador e se estende até sábado, a partir das divergências em torno da política econômica traçada pelo ministro Joaquim Levy. A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer defendem o ministro da Fazenda e, segundo a reportagem tentam amenizar as críticas que partem do próprio Partido dos Trabalhadores.
As contradições partidárias são evidentes. Tanto assim que Dilma Rousseff, em entrevista ao Estado de São Paulo, considerou injustas as críticas do PT a seu ministro. Não se pode fazer isso, criar um Judas. Isso é mais fácil e bem típico de uma forma errada de resolver o problema, acrescentou a presidente, ressaltando que o ajuste das contas públicas é essencial: não há outra solução a ser feita e para isso é preciso coragem. Nesta sequência, entrou em cena o vice Michel Temer. Procurou reforçar a defesa do ministro da Fazenda e disse textualmente: “Ele tem que ser tratado como um Cristo, que sofreu muito, foi crucificado mas teve uma vitória extraordinária na medida em que deixou um exemplo magnífico para o mundo. Penso que o ajuste fiscal que o ministro Joaquim Levy está levando a diante vai representar exatamente isso.”
Ao destacar a posição de Joaquim Levy a de um salvador, Michel Temer tacitamente reconheceu que o governo encontra-se mal. Já que só se pode salvar o que está dando errado. Temer assim além de reconhecer que o governo está mal, esqueceu de que ele também fez parte dele, como vice-presidente da República no primeiro ciclo do mandato de Dilma Rousseff. Recorrer a Jesus Cristo, filho de Deus, é um apelo desesperado à salvação. Pois Jesus Cristo, a maior figura da humanidade colocou-se numa escala histórica inultrapassável: dividiu o tempo entre ele e depois dele. Não pode haver corte mais profundo do que este.
FORÇAS DIVINAS
Mas deixando a história de mais de dois milênios e voltando a Convenção petista que se desenrola, podemos perceber que os apelos bíblicos de Dilma e Temer não foram suficientes para alterar os choques das correntes que dividem o PT. A CUT, por exemplo, vai a Convenção com documento próprio no qual faz restrições a Joaquim Levy e ao próprio governo Dilma Rousseff. Não está sozinha na posição. Uniu-se a outras correntes partidárias que condenam o ajuste fiscal, por causar desemprego, e querem que o governo cumpra o programa da legenda que prevê, com princípio, a taxação sobre grandes fortunas. O ministro Joaquim Levy é contra, prefere tributar as heranças, não diferenciando uma das outras. Acha que tributar as grandes fortunas afastará o ingresso de capitais esternos no país.
Vamos ver qual será a síntese do encontro ao qual deverão estar presentes tanto o ex-presidente Lula quanto a presidente Dilma Rousseff. São várias as facções em confronto. O Globo destaca três em que se dividem: os grupos Partido que muda o Brasil, Mensagem ao Partido e Partido Para Todos. O grupo majoritário Partido Que Muda o Brasil reúne Lula, José Dirceu, José Genoíno, Ricardo Bersoini, Jaques Wagner e surpreendentemente, Aloizio Mercadante. Logo abaixo a corrente na qual se integra Tarso Genro e os ministros José Eduardo Cardoso e Miguel Rossetto. Este grupo é contrário ao ministro Joaquim Levy. A terceira corrente, liderada por Marco Maia, Maria do Rosário e Arlindo Chinaglia, também ataca a política econômica de Joaquim Levy e entende suas restrições ao destaque que o PMDB possui no governo. Observa-se assim a existência de forças opostos ponderadas e que se equilibram no debate das teses principais.
Michel Temer talvez tenha razão, não por comparar Joaquim Levy a Jesus Cristo, mas por apelar por uma salvação do governo a partir do impulso de forças divinas.

11 de junho de 2015
Pedro do Coutto

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