Durante visita a Nova York, na semana passada, o governador Geraldo Alckmin deu uma declaração das mais pertinentes sobre o momento político que atravessamos. Lúcido e moderado, Alckmin sublinhou que o país vive o ápice do corporativismo, em detrimento do bem comum e do interesse coletivo. Concordo.
Basta um olhar relanceado sobre o noticiário para se observar como a agenda nacional – no que diz respeito à modernização institucional e do aparato legal para novos tempos – tem sido escanteada pelo imediatismo e pelo senso de oportunidade de alguns grupos de pressão de duvidosa legitimidade.
Bom exemplo é a reforma política gestada. As distorções do atual sistema são evidentes, mas só avançam pontos como o distritão, que aumenta o personalismo, reduz a renovação e enfraquece o já combalido conteúdo programático dos partidos. Contra os males da política, dá-lhe despolitização. Quem ganha? Quem já está no poder.
O mesmo se dá em outras esferas da vida nacional. Setores inteiros pressionam por benesses de escasso benefício coletivo. Categorias batalham por privilégios a despeito da conjuntura. Mesmo as bancadas temáticas acabam se tornando guetos de ninharias políticas, tal o descolamento de uma agenda mais ampla e plural.
A ideia de pactuação e consenso, embora central na democracia representativa, tem caído em desuso no debate público. Em parte devido ao forte sectarismo da condução política, em parte pela total ausência de um projeto nacional minimamente alinhavado pelo governo petista. Pior. Impõe ajuste de contas sacrificando duramente a população e agravando a crise. Só para sobreviver?
O corporativismo que paralisa nossa vida institucional é consequência direta dessa concepção de coalizão calcada na acomodação de interesses à custa do Estado. Tomado por verdadeiros condomínios de pressão corporativista, o governo Dilma, sem liderança, sem respaldo e sem credibilidade, torna-se espectador. Patético.
O caldo de cultura que se forma em torno dessa desconexão dos interesses gerais invade todos os setores da sociedade. O Estadão de domingo, por exemplo, retratou a construção da nova sede da UNE no Rio de Janeiro – uma luxuosa torre de 12 andares, na praia do Flamengo, ao custo de R$ 65 milhões.
A obra supostamente é financiada por um parceiro estrangeiro, que deverá explorar parte do prédio por um tempo, embora a UNE faça segredo de seus passos empresariais. Pelo que sei, a UNE não tem fins lucrativos, nem ensaia um grito do Ipiranga em relação ao governo, dado sua subvenção estatal e sua subalternidade política.
Ao contrário, a instituição tornou-se uma fabriqueta de carteirinhas de estudante e provedora de figurantes para atos governistas. Ao expandir suas atividades para o ramo imobiliário, a UNE busca tão somente viabilizar-se politicamente, tornando-se um braço (mais um!) robusto da distorção petista. Quem acredita que se trata de defender a pátria educadora, errou.
20 de maio de 2015
José Anibal
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