A CPI da Petrobras anunciou nesta terça-feira que decidiu pedir a prisão do lobista brasileiro Julio Faerman, intermediário do esquema de propina entre a empresa holandesa SBM Offshore e a Petrobras. A decisão foi divulgada após uma comitiva de oito deputados ouvir o ex-diretor da SBM Jonathan Taylor, executivo britânico e delator do caso, em umHOTEL na cidade de Farnborough, nos arredores Londres.
“A CPI vai pedir a prisão do Faerman porque ele virou fundamental após a reunião com o Taylor”, informou o vice-presidente da CPI, Antonio Imbassahy (PSDB-BA).
O paradeiro de Faerman é incerto desde o ano passado – há especulação de que estaria morando inclusive em Londres. Ele foi convocado para depor à CPI em março, mas não foi encontrado. Ao pedir sua prisão, a CPI pretende requerer que a Justiça acione a Interpol para localizá-lo.
PROVAS MATERIAIS
Jonathan Taylor entregou documentos e gravações que detalham a atuação de Faerman dentro da SBM, informação que a CPI não dispunha, já que a empresa não tem colaborado com as investigações e o brasileiro não compareceu ao depoimento marcado. Foram repassados, por exemplo, papéis mostrando que pelo menos US$ 31 milhões da Petrobras foram parar em uma conta do lobista em empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal.
Segundo os deputados presentes no Reino Unido, será um dado um prazo formal para Faerman comparecer à comissão até terça-feira (26), apenas como mera formalidade antes de emitir o pedido de prisão. “Vamos dar esse prazo por termos o ouvido o Taylor e, depois, requerer a prisão do Faerman à Justiça no mesmo dia”, disse Efraim Filho (DEM-PB).
O depoimento de Jonathan Taylor ocorreu depois de entrevista dele à Folha no mês passado. Ele foi ouvido de maneira reservada pelos deputados, a pedido dele, mas as informações não estão sob sigilo, segundo a CPI.
A CPI quer que Faerman se manifeste, entre outras coisas, sobre a versão do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco de que a SBM deu US$ 300 mil à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 – o valor não aparece na prestação de contas daquele ano. Como representante da SBM no Brasil, Faerman recebeu US$ 139 milhões entre 2007 e 2011, e Barusco já confessou que recebeu parte disso como propina em contas na Suíça.
A CPI informou que pretende convocar o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Valdir Simão, para dar mais explicações sobre possível atraso na abertura de processo contra a SBM, feita somente em 12 de novembro, após as eleições presidenciais.
No depoimento desta terça, e depois em entrevista aos jornalistas, Jonathan Taylor volto acusar a CGU de esperar a reeleição da presidente Dilma para abrir o processo mais de dois meses depois de ter recebido dele um dossiê sobre o caso.
O material foi entregue ao órgão de controle no dia 27 de agosto, além de ter prestado um depoimento no dia 3 de outubro.
CGU RETARDOU MESMO
Para a CPI, as informações prestadas por Taylor apontam que a CGU tinha elementos para abrir o processo no período da campanha. “Ficamos com a percepção de que houve retardamento. A negligência é gravíssima”, disse o deputado Imbassahy.
Ele criticou o argumento da CGU de que os documentos de Taylor poderiam ter origem ilícitas. “Os documentos são autênticos e o Taylor não furtou nada, ele participou de uma auditoria da SBM em 2012. Era o advogado número 2 da empresa”, afirmou o vice-presidente da CPI.
Na ocasião do contato com a CGU, pouco se sabia sobre o caso –somente no fim de novembro, por exemplo, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco revelou às autoridades brasileiras, em delação premiada, ter recebido propina de Faerman.
A controladoria nega protelação política e minimiza a contribuição do delator. O órgão alega que tomou a iniciativa de instaurar ação contra empresa após obter indícios de materialidade de irregularidades no âmbito de uma sindicância aberta em abril. Hoje, os dois lados, CGU e SBM, negociam um acordo de leniência.
20 de maio de 2015
Leandro Colon
Folha
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