O FBI, dirigido por James Comey, e a Secretária de Justiça dos EUA, Loreta Lynch, em ação conjunta, revelaram de maneira firme, objetiva e direta, como é o estilo de Washington, os tortuosos caminhos da estrada da corrupção que, durante vinte anos, pelo menos, envolveram a FIFA, de modo geral, e a CBF, no Brasil, entre outras entidades responsáveis pelo futebol em diversos continentes e países. A presença americana no processo deve-se ao fato – revelam Leandro Colón e Giuliana Valone, Folha de São Paulo de sexta-feira – de os trajetos dos roubos praticados ter incluído a passagem por terras norte-americanas.
No caso da Confederação Brasileira de Futebol, acrescentam Fabiano Maisonave, Bernardo Itri, Marcel Rizo e Rafael Reis, na mesma edição, as propinas tiveram como principais fontes as empresas Traffic e Kefler, cujos titulares são os ex-repórteres José Havilla e Kleber Leite, este também ex-presidente do Flamengo. Para o FBI, que obteve a ordem de prisão dos acusados e está se empenhando para extraditá-los para os EUA, a onda de corrupção tinha origem nas negociações em torno dos direitos de transmissão dos jogos e dos direitos de marketing da publicidade veiculada através das telas da TV e das peças nos estádios. A Traffic negociava os direitos de transmissão; a Kefler as mensagens publicitárias, entre elas as divulgadas pelos próprios canais.
MISTÉRIO REVELADO
Um mistério, agora revelado, com a repercussão internacional destacada e intensa. Afinal de contas, quais os motivos que levavam à existência de intermediários no campo dos direitos de transmissão e no plano de veiculação da publicidade? Tais direitos, tanto por parte da FIFA quanto por parte da CBF, deveriam, isso sim, serem articulados diretamente com as empresas interessadas. Sobretudo porque jamais faltaram empresas com interesse em publicidade por intermédio do futebol. Na televisão, nas placas dos estádios, nas emissoras de rádio, de uns tempos para cá até nas camisas de clubes e seleções.
Inclusive, assinalam Leandro Colón e Giuliana Velone, José Havilla concordou em se integrar num esquema de delação premiada e – vejam só – colocar parte de seu patrimônio (151 milhões de dólares) à disposição do governo americano para que seja confiscado. A corrupção, como aliás sempre denunciou o senador Romário, avançou pelos campos do futebol. Com isso, os torcedores, quase todos nós, no fundo e ao lado de lances ilegais, exercíamos o papel de massa de manobra.
TEATRO DO ABSURDO
O esporte que apaixona multidões mundo à fora transformava-se, nas mãos de ladrões, em teatro do absurdo como se estivéssemos numa peça de Ionesco. A paixão que acelera corações, produz emoções intensas, faz surgir suores no corpo e lágrimas nos olhos, de alegria e de tristeza, passava a ser um motivo a mais para pilhagens e assaltos em sequência. os quais alcançavam também os governos que sediavam as competições, que, no caso do Brasil, em 2014, desembolsaram grandes somas na construção, modernização e ampliação de estádios.
A intermediação descoberta pelo FBI possivelmente passou também pela realização dessas obras, das quais, hoje, resultaram estádios abandonados pelo país, ou então sem jogos capazes de atrair público suficiente para cobrir os investimentos concretizados. As intermediações e os roubos, como se constata, no Brasil encontram-se em toda parte. Em nosso país, as execuções confirmam as quase consolidadas regras de assaltar o patrimônio público. Nos Estados Unidos não é assim. Os códigos são diferentes. Tanto assim que ao cruzarem as fronteiras, os ladrões esqueceram-se do FBI e da Secretaria Federal de Justiça. Foram flagrados, presos, e estão sob o risco de extradição e condenações. Os crimes praticados são múltiplos. Os principais personagens também.
30 de maio de 2015
Pedro do Coutto
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