Escárnio. Abuso. Estupro. Afronta. Tragédia. Vergonha. Essas foram algumas das palavras ouvidas nesta quinta no plenário do Senado. O tema dos discursos era o chamado shopping dos deputados, projeto de Eduardo Cunha para construir três edifícios com gabinetes, restaurantes e lojas na Câmara.
O ímpeto empreendedor do peemedebista forjou uma aliança incomum no Senado. Adversários políticos se uniram contra a inclusão do artigo que abriu caminho ao “parlashopping” em uma medida provisória sobre a tributação de importados.
“É um estupro que se coloca, um escárnio. É um deboche”, protestou Cristovam Buarque (PDT-DF). “É um desmantelamento completo, um insulto”, emendou Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). “É uma verdadeira tragédia legislativa”, disse Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). “É uma bomba, fonte de escândalos futuros garantidos”, avisou José Serra (PSDB-SP).
MERCADO PERSA
“Aquela Câmara dos Deputados, que já é de muito tempo um balcão de negócios pela prática do governo do PT, vai se transformar agora num mercado persa”, sintetizou Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Outros senadores atacaram a profusão dos “jabutis”, artigos incluídos em MPs sobre outros temas. A do “parlashopping” reuniu mais 16, distribuindo incentivos a produtores de leite, igrejas, fábricas de bebidas. A palavra “negociata” foi pronunciada seis vezes antes do meio-dia.
“Daqui a pouco, nós vamos ter que fazer uma CPI sobre tramitação de medida provisória”, disse Jorge Viana (PT-AC). “Há anos, estamos vendo acontecer algo, negociatas, um balcão de negócios, em que parlamentares fecham acordos para pagar dívida de campanha, para financiar novas campanhas, para enriquecer.”
Diante da ousadia de Cunha, até Jader Barbalho (PMDB-PA) se sentiu autorizado a protestar. “Só está faltando mesmo, me desculpem, proporem aqui no Congresso a construção de um motel”, disse.
Do jeito que a coisa vai, é melhor não duvidar.
30 de maio de 2015
Bernardo Mello Franco
Folha
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