"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 30 de maio de 2015

FICARÁ O MAIS DO MESMO






No fim, a montanha gerou um rato. Da reforma política tão decantada pela presidente Dilma, o Lula, deputados e senadores de todos os matizes, sobrou apenas a extinção do direito de reeleição para presidentes da República, governadores e prefeitos no período seguinte a seus primeiros mandatos, sem necessidade de desincompatibilização. Provavelmente terão, semana que vem, seus mandatos estendidos de quatro para cinco anos, além da data de suas posses passar do esdrúxulo primeiro dia do ano para dez dias depois. Discute-se outra desimportante proposta, da coincidência num só dia de todas as eleições nacionais, estaduais e municipais, mudança que afastará o eleitorado das urnas, ficando em aberto, apenas, se os senadores disporão de cinco anos, como os deputados, ou se dobrarão para dez o seu período de sacrifícios para a nação.
No mais, tudo ficará como antes, ou seja, o sistema eleitoral permanecerá o mesmo, meio proporcional e meio majoritário. As empresas continuarão dominando as eleições através de empréstimos-doações aos partidos, por sua vez canalizando-os aos candidatos, que pagarão os vultosos investimentos na forma da aprovação de leis e benesses favoráveis aos doadores.
Em suma, nada de novo sob o sol. A Câmara dos Deputados deixou passar a oportunidade de aprimorar as instituições, assim como o Senado manterá os mesmos postulados político-eleitorais, retornando-se apenas à nossa tradição histórica de proibir reeleições. Uma experiência canhestra que não deveria ter sido intentada, não fosse pela ambição desmedida dos tucanos no período em que galgaram o poder.
BALAIO DE JABOTIS
Sequer uma das maiores aberrações jurídicas dos tempos modernos foi suprimida. No caso, as medidas provisórias próprias do parlamentarismo e impostas ao presidencialismo, quando governo e Congresso esquecem seu caráter, que deveria ser de urgência e relevância, para transformá-las num balaio de caranguejos, ratos e jabotis.
Não se dirá que a população frustrou-se com a reforma política em vias de escoar pelo ralo, já que a maioria dos cidadãos pouca ou nenhuma atenção deu às reuniões parlamentares da última semana. Mesmo assim, perdeu-se mais uma oportunidade de passar o Brasil a limpo. Ficará o mais do mesmo, para satisfação das elites e econômicas e políticas.
MAIS UM MONUMENTO
Um monumento deverá ser erigido na já arquitetonicamente conturbada Praça dos Três Poderes: um centro comercial cheio de lojas, lanchonetes, restaurantes, biroscas e luxuosos gabinetes para deputados, ao preço mínimo de um bilhão de reais.
Ainda sobre a reforma política, deve-se ressaltar momentos de baixaria explícita verificados no plenário da Câmara durante debates onde deputados demonstraram péssimas relações com o vernáculo e as boas maneiras.
Se uma imagem fica da semana que passou, deve ser buscada nos versos de Cervantes sobre os Cavaleiros de Granada, aqueles que “alta madrugada, brandindo lança e espada, saíram em louca cavalgada. Para quê? Para nada…”

30 de maio de 2015
Carlos Chagas

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