"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 30 de maio de 2015

ESTADO CORRUPTO E ESTADO VIOLENTO: A CONJUNÇÃO

Hora de mudar hábitos e trocar rotinas: acostumados a acompanhar os escândalos nas páginas de política, a violência urbana no noticiário local e os desmandos no futebol nos cadernos de esporte, agora se tornou impossível escapar do confronto com a totalidade.
Estamos condenados ao holismo, não há alternativas: o tamanho e concomitância das nossas desgraças nos obriga a encará-las como aberração única, expandida e integrada. A complacência e, sobretudo, a impunidade colocaram ao lado do gigante adormecido outro gigante, desperto e esperto que maliciosamente juntou num único pacote aquilo que por comodismo sempre tratamos de forma descuidada e fragmentada.

Os assombrosos resultados da Operação Lava Jato, o pavoroso crescimento da delinquência nas ruas e, agora, o encarceramento na Suíça de um dirigente máximo do nosso futebol não são ficções, esta consolidação dos ilícitos não é casual, não estamos nos capítulos finais de uma telenovela com pretensões planetárias nem diante de uma fábula catastrofista.


A realidade, ela sim, assume conotações apocalípticas porque perversamente nos distrai com querelas secundárias – maioridade penal, distritos eleitorais, shopping no parlamento etc. – e nos faz esquecer de mazelas descomunais: o presidente da Câmara dos Deputados assim como o seu colega, presidente do Senado e chefe do Legislativo, não têm no momento legitimidade para propor, debater e votar emendas à Constituição. Incluídos nas investigações conduzidas pela Procuradoria-Geral da República, no chamado petrolão, estão sob suspeita.


Em sociedades onde impera a decência e a compostura, incriminados em qualquer ação de improbidade se afastam voluntariamente de funções onde sua atuação possa ser eventualmente questionada. Aqui, ao contrário, a praxe é agarrar-se ostensivamente ao poder até como prova de inocência. E, assim, assistimos impassíveis ao deprimente espetáculo – digno do Coliseu Romano – de uma Carta Magna sendo emendada por representantes do povo com idoneidade ainda não comprovada.

Normal, ninguém estrila ou esperneia. A sociedade se esgoela na discussão sobre a maioridade penal enquanto alguns cidadãos encanecidos sentem-se no direito de gozar de imunidades indevidas.


A impunidade é o cimento que junta os malfeitores da Petrobras com os delinquentes de rua e a bandidagem que rodeia os gramados de futebol. A extrema elasticidade na punição de certos pecados, ao longo dos séculos criou uma sociedade desatenta às infrações, conivente. O fenômeno da cartolagem não se restringe ao âmbito do nobre esporte bretão, todos se consideram imunes e inimputáveis, certos de seus privilégios.

Além de vulneráveis à tempestade perfeita na esfera socioeconômica estamos sendo convocados para uma tarefa urgente, inédita, no âmbito moral e político: o despertar para as dimensões do fenômeno sem colocar em risco o sistema que escolhemos para viver: a legalidade democrática.

O Estado corrompido é naturalmente violento. Nosso desafio é acabar com a causa e com o efeito, sem ferir o paciente. Coisa de adultos


30 de maio de 2015
Alberto Dines

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