"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

POSTE DILMA INAUGURA O PARLAMENTARISMO DE SAIAS

O poste no Planalto (apud Lula) sempre foi famosa por não saber negociar, por não ter jogo de cintura. Dilma se parece muito com aquela figura a que se referia Machadão, o bruxo do Cosme Velho: “É incapaz de odiar, talvez não seja capaz de  amar”.
Causa espanto dizer que Dilma é solarmente incapaz de odiar? Não. Absolutamente não. Dilma não sabe amar, nem odiar, porque geneticamente invocacionada para qualquer tipo de expressão.
Conheci muitos comunistas ortodoxos talhados nesse feitio. Confesso: eram pessoas boas de se lidar, esses postes. Jamais se mexeriam por algo que não fosse emanado de sua vontade mais íntima. Eram capazes de admitir serem levados até o mais atávico dos infernos desde que isso não contrariasse suas vontades. Sempre foi bom lidar com comunistas expressamente confessos. Eram aquilo e ponto final. Tipo: você sabe o que esperar de um Bolsonaro, Conte Lopes, Telhada ou de Malufs da vida: são aquilo e ponto final.
Comunistas puro sangue são assim também. Quando não querem, não querem. E pronto. Não se fala mais nisso.
Óbvio que, daí, esse código de comportamento não faz bem ao animal político –afinal, notava o poeta  E. E. Cummings, “Um político é uma bunda sobre a qual todo mundo sentou, menos ser humano. (in CUMMINGS, E. E. 1x1. New York: Harcourt-Brace, Jovanovich, 1944).
Dilma não é um animal político. Quando o Brasil ia aparentemente bem, ela podia se dar ao luxo de manter sua “puissance”, sua arrogância auto-referente.
Quebrado o país, Dilma teve de cogitar a adoção da arte de negociar. Coisa que comunistas puro-sangue sempre foram incapazes de fazer. Lula o fazia de bom grado. Sempre foi um internacionalista (digite nos sites de busca “Lula Stanley Gacek” e verá as ligações dele com a central pelega dos EUA, a AFL CIO).
Lula amava Henrique Meirelles, do Bank of Boston, porque este, CEO incomparável, sempre foi  capaz de atrair capital estrangeiro ao Brasil.
Dilma afastou a grana gringa de nós. Volto à carga: Dilma é incapaz de negociar.
Quebrado o país, Dilma teve de aprender a fazer o que jamais soube ou optou por. Cheia de mágoas trinfais, e rancores idem, foi pedir o colo do PMDB. Queria que alguém fizesse o que não sabe fazer: o toma-lá-dá-cá do estado de direito básico de um animal político.
Dilma bem que tentou. Como Pepe Vargas (PT-RS) era um zero à esquerda como ministro das Relações Institucionais, Dilma foi pedir colo a quem não lhe deu: queria na vaga de Pepe o Padilha, deputado pemedebista gaúcho, ex-braço direito de FHC, que lhe ocupou a pasta dos Transportes, de 1997 a 2001.
Dilma, masoquista, pediu de joelhos ao Padilha do PMDB: “Fica, fica, fica comigo na minha pasta, vai…”. O masoquista Padilha lhe respondeu,  repoltronando-se como um cardeal: “Não fico naummmmmm, dona…”
As coisas ficariam piores. Com o fim da Secretaria de Relações Institucionais, e passagem de seu poder para o pemedebista Michel Temer, os petistas passaram a tremer dentro dos sapatos, desde a semana passada.
Afinal agora cabe a Temer o que a Secretaria de Relações Institucionais tinha de melhor: a relação com as prefeituras.
Vejam o que o PMDB fez: mandava na Congresso, na Câmara, e agora impôs tecnicamente a Dilma um sistema parlamentarista. E mais"agora negocia com as prefeituras.
O poste Dilma, com isso,  inaugurou o parlamentarismo de saias.
O perigo ao PT não está só aí.
O PMDB agora comanda, via Temer, o que sempre soube fazer de melhor: a relação com prefeituras. É um dote velho dos pemedebistas.
Lembrem-se que Quércia foi quem inventou as frentes municipalistas. Elas fizeram do partido o mais forte do Brasil (Luiz Fernando de Souza, o Pezão, o mais novo arauto do municipalismo, vem de uma terra carioca de ninguém, obscuro município de Piraí).
O PMDB aprendeu a resistir a ditadura e a gerenciar o poder depois que ela acabou. Irrigou a democracia dominando nos bairros, nos rincões.
Lembre-se: o PMDB saiu das eleições de 2014 como o maior partido do país em Estados administrados. Dispõe também do maior número de municípios e de parlamentares no Congresso Nacional; emplacou sete governadores, a maior quantidade entre as nove legendas que elegeram governantes no ano passado. Em 2012, lembre-se também, o PMDB fez o maior número de prefeitos (1.019 ao todo).
O PMDB dominou a superestrutura, a infraestrutura e , agora, a microesterutura.
A arrogância e plenipotência de Dilma fizeram algo de bom pelo país: inauguraram o parlamentarismo de saias.
O PMDB agradece. O brasileiro, nem tanto: ou haverá alguém que confie em Cunha, Renan et caterva?
09 de abril de 2015
Claudio Tognolli, Yahoo

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