"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

OS PROTEGIDOS DA SOCIEDADE E A MORTE DO IDEALISMO




Paulo Delgado é psicólogo e ex-deputado pelo PT-MG

Doutor Joaquim aplica Band-Aid no corpo do atropelado certo de que o paciente sofre, mas não é bem sua dor que interessa. Não pode operá-lo, temeroso da reação de quem provocou o acidente. Ganha tempo inadmissível dando aulas de ficção para enfermeiros de Chicago, pois sabe que a dona do hospital não está em condições de demiti-lo.

Os governos democráticos no Brasil abusam do direito de governar quando testam o limite do cidadão para a prudência e a temperança. Os apetites pessoais que têm levado nosso país a crises políticas rotineiras e sucessivas não nascem da sociedade. 
Uma geração de descendentes e vítimas do poder arbitrário está chegando ao fim, quatro gerações depois, vendo a democracia como uma volúpia do poder sobre o desejo das pessoas. Um estado de espírito que vai e volta, um período excelente, que não dura e nunca é o que estamos vivendo.

A morte do idealismo no Brasil e da simplicidade da política é resultado da proliferação de líderes de comportamentos velados, cujo poder não é o recebido dos eleitores. É a política exercida como autoexame, mesmo que sob a ótica de pessoas honestas, permitindo a vitória do mundo privado, pessoal, sobre a farsa do universo constitucional que não rege mais nada.

DINHEIRO E VULGARIDADE

Atualmente, dinheiro e vulgaridade dominam tudo, fazendo a política não se submeter ao princípio da verificação e, por isso, seu significado prático não precisa ser demonstrado. Bastam variações do velho modelo do presidencialismo de reeleição para capturar a energia social em direção a cópias de cópias de ideias de escassa autoridade. 
A relação entre a política e a sociedade não é mais essencial. Virou uma dominação fundada na correlação que seleciona membros para a construção de interesses e a formação de trincheiras de sócios em clubes exclusivos.

No momento em que o Estado quiser encontrar na sociedade uma coletividade essencial à sustentação do nosso país no mundo, ele deixará de ser a farsa deste modelo como o toleramos. E nele a política será uma atividade simples, de pessoas que pretendem e possuem vocação para representar os outros. 

Hoje, se as coisas não são simples, não é por serem complicadas ou complexas, é porque andam falsas. E neste quadro, cada “novidade desnecessária” exige alguém necessário. E por causa disso no Brasil qualquer coisa só existe se for regulamentada. Nos países viáveis, só se regulamenta o que dá errado. É esta má tradição que confirma que nunca tivemos nenhum governo seguro de que a Constituição é a lei que protege a sociedade contra a falta de limites do governo.

MODELO INSEPULTO

Não deveriam ser efemeridades essas magníficas intuições econômicas e políticas desses 21 anos de presidentes de esquerda que não conseguiram ir além do condicionamento histórico de seus sonhos pessoais. Afinal, o governante aqui descumpre a lei dizendo que é para salvar a democracia. Mas o que sempre se viu é que tudo que é urgente para nossos democratas serve para justificar algum arbítrio e seu método injusto. O modelo político e econômico atual chegou ao fim. Se anda insepulto, é por ser protegido da sociedade.

(artigo enviado por Mário Assis)

09 de abril de 2015
Paulo Delgado

O Globo

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