"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

A PRIMAZIA DA BURRICE

Assumo o ônus da afirmação. Vivemos sob a primazia da burrice. Considero-me diante de inegável sinal de burrice, tão perceptível, tão audível quanto um zurro, quando a mais simples sugestão da racionalidade sobre contas públicas ou definição de funções do Estado é recusada assim: "Essa é a lógica neoliberal!". Não importa se o autor da expressão se julga tão sábio quanto Nicolas Maduro ou tão cartesiano quanto Lula ou Dilma. A expressão é tola. Ideias se enfrentam com ideias e não com adjetivos. As coisas se complicam ainda mais para todos quando quem se vale de adjetivos para afastar a racionalidade do debate político ocupa relevante função de Estado.

 O resultado disso é uma conta devedora, com efeitos tão devastadores sobre a nação quanto o provocado por um rombo de caixa na vida familiar de qualquer cidadão. Habitualmente, governos gastam mal e gastam mais do que arrecadam. Eis por que todo ano - quase ninguém sabe disso - 42 % do nosso dinheiro em mãos do governo vai para o pagamento de compromissos da dívida pública, formada pelo excessivo gasto ao longo dos anos!
 
Como parte dessa tragédia, quando as pessoas dela tomam conhecimento, em vez de mudarem de atitude em relação ao Estado seus usos e costumes, seus abusos e maus costumes, imediatamente começam a falar em calote, em não pagar a conta, em não nos sujeitarmos aos sanguessugas do sistema financeiro, à lógica neoliberal, aos interesses do grande capital e por aí afora (até parece que estou lendo algum documento da CNBB não é mesmo?).
 
Primeiro, assistimos o desperdício dos impostos que pagamos em cada caderno escolar que compramos para nossos filhos. Depois, aceitamos, inertes, as regalias, os abusos, os privilégios auto-concedidos, ou arrancados sob pressão das galerias nos parlamentos. Em seguida, convivemos com a ideia de que há, em tudo que é "estatal", um poço sem fundo, aberto à generosidade e ao interesse público. Logo, colocamos o "privado" sob suspeita do mais perverso egoísmo, avesso à conveniência social. Por fim, assumimos como elevada exigência moral que o sistema financeiro banque eternamente a gastança do governo. E o faça a fundo perdido.
 
Perdidos ficamos, mesmo, quando a burrice começa a influenciar as opiniões desde as salas de aula do ensino fundamental, com explicações ideologizadas sobre os acontecimentos de cada dia. Ao fim e ao cabo, a burrice acaba sendo a forma de pensar e de governar a nação. Ou, então, o burro sou eu e o Brasil vai muito bem, obrigado.
 
09 de abril de 2015
Percival Puggina

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