Foi inacreditável, impensável e inimaginável a decisão do governo Dilma Rousseff, que decidiu divulgar que os presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), estão incluídos na lista que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está enviando ao Supremo Tribunal Federal (STF) para abertura de inquérito sobre envolvimento de políticos e autoridades federais e estaduais no esquema de corrupção da Petrobras.
Os jornalistas que se encarregam da cobertura da Presidência da República fizeram questão de registrar que a informação lhes foi transmitida por assessores do Planalto. E não se pode dizer que houve um equívoco e que os assessores tomaram essa iniciativa por conta própria, porque, com toda certeza, somente liberaram a notícia mediante autorização superior.
Ninguém sabe os motivos que levaram o governo a tomar essa insólita atitude de atacar frontalmente dois líderes políticos que até então eram tidos como supostos aliados, com agravante de haver recomendação expressa de Lula para que Dilma procurasse se reaproximar deles.
E pior: o vazamento dessa informação altamente negativa se deu justamente quando estava em curso um esforço de entendimento político com o PMDB, iniciado por Lula e que vinha sendo costurado pessoalmente pela própria presidente Dilma.
A ORDEM FOI DIFAMAR
A liberação dessa notícia altamente desabonadora é ainda mais grave porque em Brasília todos sabem que o ministro Teori Zavascki, relator dos processos no Supremo Tribunal Federal, ainda vai demorar muito para divulgar os nomes das autoridades e dos investigados que têm foro privilegiado. Zavascki já declarou que vai fazê-lo de uma vez só. Todos juntos. E não um a um, em conta-gotas, conforme fosse se inteirando de cada acusação.
O ministro-relator se justificou explicando que, se fosse divulgando um de cada vez, o parlamentar mencionado ficaria muito mais exposto do que os outros que ficassem para o final de sua análise. Ou seja, os primeiros nomes a serem divulgados teriam um juízo na imprensa e na sociedade de maior peso do que os outros, independentemente da dimensão de seu envolvimento.
E como procedeu o Planalto? Simplesmente fez o oposto do que sugeriu Zavascki, vazando propositadamente para a imprensa os nomes de Calheiros e Cunha, sem que se tenha a menor noção do grau de envolvimento dos dois no esquema de corrupção montado pelo PT para se eternizar no Poder.
CAVANDO A PRÓPRIA COVA
A atitude impensada e verdadeiramente suicida do Planalto terá consequências devastadoras. Foram atingidos justamente os dois dirigentes do Congresso Nacional, justamente aqueles que vão conduzir a tramitação do inevitável pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mesmo que não fique comprovada a participação direta dela no esquema de corrupção.
Como todos sabem, o processo de impeachment é essencialmente político. As provas podem ser meramente circunstanciais, como ocorreu no caso do presidente Fernando Collor, que teve de renunciar ao cargo momentos antes de ser cassado, e 20 anos depois acabou sendo absolvido pelo Supremo.
Agora, Eduardo Cunha e Renan Calheiros vão demolir o que ainda resta do governo de Dilma Rousseff, que ficaria na História como a primeira mulher presidente do Brasil, mas passará a ser a primeira presidenta (ou governanta) a sofrer impeachment no mundo. É uma pena.
04 de março de 2015
Carlos Newton
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