Na lanchonete de um grande hospital, um ex-ministro petista é insultado a gritos e acaba tendo de se retirar.
No Rio, onde se realizava um ato governista, um senhor de cabelos brancos, com camiseta pró-impeachment, é agredido a pontapés por manifestantes petistas. E os líderes partidários acirram as tensões.
Palavra de Lula: “Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas”. Frase perigosa – no dia 15, estão marcadas manifestações contra Dilma. Será levado para a política o clima das torcidas organizadas, que marcam brigas pela Internet?
Certas coisas ficaram claras com a declaração de Lula: o MST, como sempre disseram seus adversários, não é um movimento autônomo, mas tropa auxiliar do PT; e os sem-terra não são sem-terra, mas soldados do exército de João Pedro Stedile, comandante do MST, que pode ir às ruas a chamado de Lula. Tanto os radicais que agrediram verbalmente um ex-ministro (que sempre se comportou civilizadamente) quanto Lula, é este o futuro que desejam para o Brasil?
E vamos parar de besteiras, cavalheiros, a respeito da força de cada lado. Em 1964, havia Generais do Povo (um deles, o marechal Osvino Alves, era presidente da Petrobras), havia as Ligas Camponesas de Francisco Julião, havia os Grupos dos Onze de Leonel Brizola, havia os marinheiros amotinados, e era tudo fumaça. O Governo caiu sem resistência. Perderam todos, de ambos os lados.
A hora é de calma. Ninguém deve ser Tiradentes com o pescoço dos outros.
Dos três líderes civis do movimento vitorioso contra Jango, dois foram cassados, Lacerda e Adhemar, e um, Magalhães Pinto, que sonhava ser presidente, teve de contentar-se em ser chanceler (mais tarde, perderia até seu banco).
O militar que iniciou a revolta, general Mourão Filho, foi encostado.
Do lado do Governo, quem mais pedia luta não chegou a lutar: muitos foram exilados, inúmeros presos, muitos torturados, vários assassinados. O líder dos marinheiros amotinados, Cabo Anselmo, jogou dos dois lados. E nada ganhou de nenhum deles. Vive na clandestinidade, é malvisto, nem fortuna amealhou.
Quem quer o confronto sempre perde. Vence quem não estava na briga.
Alguns dos movimentos de rua mais sanguinários, como os camisas pardas nazistas e os camisas negras fascistas, nasceram do recrutamento de marginais pagos. Depois reuniram oportunistas e prepotentes. Quem os comparar com esse pessoal que recebe 50 reais, sanduíche e tubaína, estará certo. Cuidado com eles.
Não aposte na permanência do juiz Flávio Roberto de Souza, aquele que foi fotografado dirigindo o Porsche Cayenne de Eike Batista, que mandara apreender, no caso. Não bastasse o ridículo, o Ministério Público pediu ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região que afaste o juiz e anule as decisões já proferidas. Importante: as decisões do juiz sempre foram favoráveis à acusação.
O caro leitor ficou feliz com a eleição de Eduardo Cunha para a Presidência da Câmara, por ser uma derrota do Governo? Tudo bem – mas Eduardo Cunha não mudou por causa disso. Uma de suas primeiras medidas foi restabelecer as passagens aéreas para os ilustríssimos cônjuges dos Nobres Deputados.
As passagens aéreas, pagas com dinheiro público, se destinam a facilitar idas e vindas de Sua Excelência de Brasília até seu Estado, e eventuais viagens a serviço (bem eventuais, claro).
Caras-metades? Por que têm de receber passagens pagas pelo contribuinte? Alguns deputados garantiram que nessa mordomia não entram. É esperar para ver.
Em outras épocas, até namoradas viajavam com as excelências. Namoradas é uma expressão deliberadamente vaga. Hellowwwww! Mas também viajavam, além de esposas e namoradas, agregados diversos e artistas amigos.
Em 2006, Julyenne Cristine, ex-mulher do deputado Arthur Lira, recebeu a visita do ex-marido. Segundo queixa que apresentou à Polícia, o deputado já entrou dando-lhe socos e chutes. A babá de seus filhos, Elane Melo da Silva, depôs dizendo que ouviu tudo e telefonou para a mãe de Julyenne.
A mãe foi ao apartamento e, segundo disse, encontrou o parlamentar sentado em cima da esposa, espancando-a. Júlio César Santos Lins, irmão de Julyenne, conseguiu segurar o ex-cunhado e levou a irmã e a mãe à Delegacia, onde prestaram queixa. O exame de corpo de delito, no Instituto Médico Legal, mostrou oito lesões em Julyenne.
Mas o tempo passa, o tempo voa. Justo nesse ano, quando o caso deve ser julgado, Arthur Lira espera assumir a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Se o tempo é relativo, como mostrou Einstein, por que os fatos não o seriam? Todo mundo esqueceu a versão anterior dos acontecimentos.
Todos, da esposa agredida à mãe dela, do irmão que apartou a briga à babá que chamou gente na hora da briga, ninguém mais lembra da agressão. Dizem agora, aliás, que agressão nunca houve. E Arthur Lira pode ganhar sua comissão.
02 de março de 2015
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.
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