Não dá para ficar repetindo haver pânico em Brasília, hoje, véspera da prometida entrega pelo Procurador Geral da República da lista dos parlamentares envolvidos no escândalo da Petrobras. Trata-se do óbvio.
Agora, engana-se quem imagina um só dos relacionados deputados e senadores com a disposição de reconhecer sua culpa. Todos, sem exceção, estão prontos para jurar inocência e dar início a prolongadas tentativas de escapar dos inquéritos que Rodrigo Janot espera venham a ser abertos.
Mesmo tendo sido citados em depoimentos de doleiros, empreiteiros e ex-dirigentes da estatal petroleira, vão declarar-se sem culpa. Deverão alegar que receberam dinheiro para as campanhas eleitorais, de acordo com a lei. Que sofrem perseguição de adversários, má vontade das autoridades policiais, erros processuais e até artes do Capeta.
Sabem que as investigações comandadas pelo Supremo Tribunal Federal serão demoradas, estarão cercados de montes de advogados e protegidos por uma série de recursos legais capazes de preservar seus mandatos por anos a fio. Se num episódio hoje de proporções tidas como menores – no caso, o mensalão – os julgamentos arrastaram-se por dois anos e meio, pensam os acusados de amanhã que o tempo será no mínimo dobrado. Sua atuação parlamentar, assim, poderá permanecer intocada. A menos que a mais alta corte nacional de justiça surpreenda, agilizando decisões e queimando etapas, coisa bem difícil.
Em suma, se o primeiro impacto da divulgação da lista prenderá atenções e despertará emoções, logo a rotina se estabelecerá. Mesmo podendo dispor de mecanismos para desvendar os inquéritos, durante os quais nenhum parlamentar será preso, a própria imprensa perderá o ímpeto investigativo.
SAUDADES DO ITAMA
Estivesse Itamar Franco na presidência da República e Joaquim Levy não seria mais ministro da Fazenda, isso no caso de sua escolha anterior, bastante problemática. Incompleta fica a equação pelo fato de o indigitado auxiliar apenas haver reconhecido que escorregou ao rotular como grosseria inócua a desoneração das folhas de pagamento das empresas.
A presidente Dilma reagiu como participante de uma discussão na Câmara ou no Senado: em pé de igualdade com o agressor. Deixou passar mais um daqueles momentos em que o chefe deve simplesmente despedir o subordinado que o atingiu.
02 de março de 2015
Carlos Chagas
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