Os tombos sucessivos das vendas do comércio varejista não podem ser vistos como efeitos de fatores episódicos e, portanto, de curta duração
Os tombos sucessivos das vendas do comércio varejista não podem ser vistos como efeitos de fatores episódicos e, portanto, de curta duração.
Esta é uma leitura conveniente para os defensores da atual política econômica desequilibrada. A forte queda das vendas ao consumidor em junho sobre maio (veja o gráfico), por exemplo, é interpretada como efeito inevitável da realização da Copa do Mundo, que teve muitos feriados e deixou o consumidor pouco disposto a largar o sofá e a reforçar as prateleiras da despensa de casa. Ou, na linha do que alegam as autoridades do Ministério da Fazenda, é mais uma dessas consequências da crise externa, contra as quais não haveria lá muito o que fazer.
Mais realista é entender que os desaceleradores imediatos das vendas internas são, em primeiro lugar, os estragos causados no poder aquisitivo do consumidor pela inflação. Em segundo, o esgotamento das políticas casuísticas de reduções tributárias e de alavancagem do crédito, que beneficiaram alguns setores, como o de veículos, o de aparelhos domésticos e o de materiais de construção. E, em terceiro lugar, o aumento das incertezas sobre a economia.
Sobre o impacto da inflação, não é preciso dizer muita coisa, a não ser advertir que a disparada dos preços dos serviços (alta de 8,44% no período de 12 meses terminado em julho) deixou menos margem no orçamento do trabalhador para compra de bens de consumo duráveis.
As reduções de IPI, especialmente, nas vendas de veículos não criaram mercado, como tanta gente acredita. Apenas anteciparam compras. Agora endividado, o consumidor não voltará tão cedo a puxar pelo seu cartão de crédito. É por isso também que, do ponto de vista do interesse das montadoras, essas bondades acabam tendo resultados de qualidade duvidosa. Concentram as vendas em determinado período e, em seguida, amontoam estoques de produtos acabados cuja desova exige promoções custosas e descontos sobre os preços.
Outro fator de desaceleração das vendas no varejo são as incertezas sobre o futuro, que levam o consumidor a uma reação mais conservadora. Ele percebe que a economia vai mal das pernas, que seu emprego está ameaçado e que um ajuste de contas é inevitável. Por isso, prefere não assumir mais compromissos que comprometam seu orçamento.
Tudo isso empurra para outro nível de questionamento. A política econômica do governo Dilma privilegiou o consumo e descuidou do investimento. Além disso, afrouxou excessivamente os controles das finanças públicas, desarrumou a economia e semeou o desânimo. Os resultados estão sob os olhos de todos e são sentidos ainda mais inclementemente no bolso de cada um.
Para consertar o que está aí não bastarão duas ou três demãos de tinta. O experimentalismo adotado pela administração Dilma trouxe prejuízos demais. O governo que tomar posse em janeiro, qualquer que seja ele, não só terá de distribuir uma conta enorme pela sociedade. Terá de ir aos fundamentos da economia, para recobrar a confiança hoje perdida e criar condições que deem sustentação ao crescimento econômico.
CONFIRA:
Distorções na petroquímica
Para reduzir importações de combustíveis, a Petrobrás está vendendo gasolina misturada com nafta (outro derivado do petróleo). Por isso, precisou importar mais nafta, principal insumo da petroquímica. A Braskem, principal grupo petroquímico do Brasil, está reclamando de que a Petrobrás quer agora descarregar sobre o setor da petroquímica a nafta bem mais cara.
Achatamento
O problema é consequência de duas distorções. A primeira é provocada pelo governo Dilma que achatou os preços dos combustíveis com o objetivo de segurar a inflação. É a mesma que vai sangrando o caixa da Petrobrás. A segunda distorção tem a ver com a derrubada dos custos da petroquímica nos Estados Unidos provocada pelo forte barateamento do gás natural de xisto, que pode substituir a nafta.
Sem resposta
Para as duas distorções, o governo Dilma não tem resposta adequada.
Os tombos sucessivos das vendas do comércio varejista não podem ser vistos como efeitos de fatores episódicos e, portanto, de curta duração.
Esta é uma leitura conveniente para os defensores da atual política econômica desequilibrada. A forte queda das vendas ao consumidor em junho sobre maio (veja o gráfico), por exemplo, é interpretada como efeito inevitável da realização da Copa do Mundo, que teve muitos feriados e deixou o consumidor pouco disposto a largar o sofá e a reforçar as prateleiras da despensa de casa. Ou, na linha do que alegam as autoridades do Ministério da Fazenda, é mais uma dessas consequências da crise externa, contra as quais não haveria lá muito o que fazer.
Mais realista é entender que os desaceleradores imediatos das vendas internas são, em primeiro lugar, os estragos causados no poder aquisitivo do consumidor pela inflação. Em segundo, o esgotamento das políticas casuísticas de reduções tributárias e de alavancagem do crédito, que beneficiaram alguns setores, como o de veículos, o de aparelhos domésticos e o de materiais de construção. E, em terceiro lugar, o aumento das incertezas sobre a economia.
Sobre o impacto da inflação, não é preciso dizer muita coisa, a não ser advertir que a disparada dos preços dos serviços (alta de 8,44% no período de 12 meses terminado em julho) deixou menos margem no orçamento do trabalhador para compra de bens de consumo duráveis.
As reduções de IPI, especialmente, nas vendas de veículos não criaram mercado, como tanta gente acredita. Apenas anteciparam compras. Agora endividado, o consumidor não voltará tão cedo a puxar pelo seu cartão de crédito. É por isso também que, do ponto de vista do interesse das montadoras, essas bondades acabam tendo resultados de qualidade duvidosa. Concentram as vendas em determinado período e, em seguida, amontoam estoques de produtos acabados cuja desova exige promoções custosas e descontos sobre os preços.
Outro fator de desaceleração das vendas no varejo são as incertezas sobre o futuro, que levam o consumidor a uma reação mais conservadora. Ele percebe que a economia vai mal das pernas, que seu emprego está ameaçado e que um ajuste de contas é inevitável. Por isso, prefere não assumir mais compromissos que comprometam seu orçamento.
Tudo isso empurra para outro nível de questionamento. A política econômica do governo Dilma privilegiou o consumo e descuidou do investimento. Além disso, afrouxou excessivamente os controles das finanças públicas, desarrumou a economia e semeou o desânimo. Os resultados estão sob os olhos de todos e são sentidos ainda mais inclementemente no bolso de cada um.
Para consertar o que está aí não bastarão duas ou três demãos de tinta. O experimentalismo adotado pela administração Dilma trouxe prejuízos demais. O governo que tomar posse em janeiro, qualquer que seja ele, não só terá de distribuir uma conta enorme pela sociedade. Terá de ir aos fundamentos da economia, para recobrar a confiança hoje perdida e criar condições que deem sustentação ao crescimento econômico.
CONFIRA:
Distorções na petroquímica
Para reduzir importações de combustíveis, a Petrobrás está vendendo gasolina misturada com nafta (outro derivado do petróleo). Por isso, precisou importar mais nafta, principal insumo da petroquímica. A Braskem, principal grupo petroquímico do Brasil, está reclamando de que a Petrobrás quer agora descarregar sobre o setor da petroquímica a nafta bem mais cara.
Achatamento
O problema é consequência de duas distorções. A primeira é provocada pelo governo Dilma que achatou os preços dos combustíveis com o objetivo de segurar a inflação. É a mesma que vai sangrando o caixa da Petrobrás. A segunda distorção tem a ver com a derrubada dos custos da petroquímica nos Estados Unidos provocada pelo forte barateamento do gás natural de xisto, que pode substituir a nafta.
Sem resposta
Para as duas distorções, o governo Dilma não tem resposta adequada.
21 de agosto de 2014
Celso Ming, O Estadão
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