O Brasil continuou perdendo espaço na economia mundial, no primeiro semestre, com desempenho muito pior que o da maior parte dos países, tanto emergentes quanto desenvolvidos. A recuperação global vem sendo mais lenta do que se previa há alguns meses, mas o quadro brasileiro é especial. O País tem exibido uma rara combinação de baixíssimo crescimento com inflação elevada, contas públicas em deterioração e comércio externo empacado. Na sexta-feira a estagnação foi confirmada por mais uma fonte oficial. Em junho, a atividade econômica foi 1,48% inferior à de maio e 2,68% menor que a de um ano antes, segundo o índice produzido mensalmente pelo Banco Central (IBC-Br). Esses números são da série livre de efeitos sazonais. O crescimento ficou em 0,08% na primeira metade do ano. Em 12 meses, chegou a 1,41%, mas com forte perda de ritmo na fase final.
O balanço completo do período janeiro-junho será divulgado no fim do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o índice do BC é considerado uma boa antecipação do Produto Interno Bruto (PIB) e, além disso, harmoniza-se muito bem com os dados parciais de produção, consumo e investimento conhecidos até agora e também com os números da balança comercial. Será enorme surpresa se o PIB vier muito melhor que o IBC-Br.
As projeções mais otimistas para o ano todo continuam sendo as do setor público. O Ministério do Planejamento publicou em julho uma estimativa de crescimento econômico de 1,8%. No mês anterior o BC havia divulgado uma projeção de 1,6%. As bolas de cristal do setor privado mostram cenários muito piores. A mediana das projeções do setor financeiro chegou a 0,81% no dia 8, segundo a pesquisa Focus, conduzida pelo BC. Na semana anterior a estimativa de crescimento estava em 0,86%. Na metade de julho havia chegado a 1,05%.
Os maus números de junho têm sido atribuídos, pelo menos em parte, à Copa do Mundo. Houve menos dias de trabalho e menor atenção aos negócios e, além disso, decisões importantes foram adiadas. Há alguma verdade nesse argumento. Mas a Copa durou cerca de um mês e a economia foi mal durante todo o semestre. Além disso, vários números da série do IBC-Br foram revistos para baixo, segundo a informação publicada ontem. O dado de maio passou de -0,18% para -0,80%. O de abril, de +0,05% para -0,01%. O de março, de +0,04% para -0,24%. Seria cômico atribuir todo esse desastre à mudança de rotina provocada pelo campeonato da Fifa.
O futebol pode servir para explicar parcialmente, portanto, a redução do consumo e o recuo da produção industrial em junho e, talvez, em parte de julho. Mas é necessário examinar outros fatores para analisar o atoleiro econômico do primeiro semestre deste ano. Um dos principais componentes do quadro é a estagnação da indústria.
A produção industrial nos primeiros seis meses foi 2,6% menor que a de janeiro a junho de 2013. A de bens de consumo duráveis, 8,6% inferior à de um ano antes. Esse número combina, à primeira vista, com os do consumo. O volume das vendas no varejo, no mesmo período, ficou 4,2% acima das de um ano antes, sem contar as de carros, veículos, peças e material de construção. Quando esses itens entram na conta, a diferença fica em apenas 0,1%. Isso se explica em parte pelo endividamento dos consumidores, pela alta dos juros e pelo efeito da inflação no orçamento familiar.
Mas o aumento da importação também é parte da conta. Nos 12 meses terminados em junho, a parcela de importados no mercado nacional de bens industriais chegou a 21,8%, o coeficiente mais alto desde 2007. O cálculo é da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Juntam-se nesse quadro a perda de vigor do mercado interno e o baixo poder de competição da indústria. A competitividade foi erodida por vários fatores desastrosos. Mais estímulo ao consumo que à produção, baixo nível de investimento, ineficiência da infraestrutura e política comercial mais ideológica do que pragmática são exemplos evidentes. Grandes erros nasceram das fantasias do governo, incluída a do mercado interno como seguro contra a crise.
O balanço completo do período janeiro-junho será divulgado no fim do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o índice do BC é considerado uma boa antecipação do Produto Interno Bruto (PIB) e, além disso, harmoniza-se muito bem com os dados parciais de produção, consumo e investimento conhecidos até agora e também com os números da balança comercial. Será enorme surpresa se o PIB vier muito melhor que o IBC-Br.
As projeções mais otimistas para o ano todo continuam sendo as do setor público. O Ministério do Planejamento publicou em julho uma estimativa de crescimento econômico de 1,8%. No mês anterior o BC havia divulgado uma projeção de 1,6%. As bolas de cristal do setor privado mostram cenários muito piores. A mediana das projeções do setor financeiro chegou a 0,81% no dia 8, segundo a pesquisa Focus, conduzida pelo BC. Na semana anterior a estimativa de crescimento estava em 0,86%. Na metade de julho havia chegado a 1,05%.
Os maus números de junho têm sido atribuídos, pelo menos em parte, à Copa do Mundo. Houve menos dias de trabalho e menor atenção aos negócios e, além disso, decisões importantes foram adiadas. Há alguma verdade nesse argumento. Mas a Copa durou cerca de um mês e a economia foi mal durante todo o semestre. Além disso, vários números da série do IBC-Br foram revistos para baixo, segundo a informação publicada ontem. O dado de maio passou de -0,18% para -0,80%. O de abril, de +0,05% para -0,01%. O de março, de +0,04% para -0,24%. Seria cômico atribuir todo esse desastre à mudança de rotina provocada pelo campeonato da Fifa.
O futebol pode servir para explicar parcialmente, portanto, a redução do consumo e o recuo da produção industrial em junho e, talvez, em parte de julho. Mas é necessário examinar outros fatores para analisar o atoleiro econômico do primeiro semestre deste ano. Um dos principais componentes do quadro é a estagnação da indústria.
A produção industrial nos primeiros seis meses foi 2,6% menor que a de janeiro a junho de 2013. A de bens de consumo duráveis, 8,6% inferior à de um ano antes. Esse número combina, à primeira vista, com os do consumo. O volume das vendas no varejo, no mesmo período, ficou 4,2% acima das de um ano antes, sem contar as de carros, veículos, peças e material de construção. Quando esses itens entram na conta, a diferença fica em apenas 0,1%. Isso se explica em parte pelo endividamento dos consumidores, pela alta dos juros e pelo efeito da inflação no orçamento familiar.
Mas o aumento da importação também é parte da conta. Nos 12 meses terminados em junho, a parcela de importados no mercado nacional de bens industriais chegou a 21,8%, o coeficiente mais alto desde 2007. O cálculo é da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Juntam-se nesse quadro a perda de vigor do mercado interno e o baixo poder de competição da indústria. A competitividade foi erodida por vários fatores desastrosos. Mais estímulo ao consumo que à produção, baixo nível de investimento, ineficiência da infraestrutura e política comercial mais ideológica do que pragmática são exemplos evidentes. Grandes erros nasceram das fantasias do governo, incluída a do mercado interno como seguro contra a crise.
21 de agosto de 2014
Editorial O Estadão
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