O melhor que os políticos teriam a fazer de agora em diante seria deixar de lado o assunto Copa do Mundo. Pelo menos no que diz respeito ao futebol.
Isso na teoria, com base na premissa de que a oposição não deve sair comemorando a derrota horripilante e a situação não tem como captar dividendos nem pode ser responsabilizada pela surpresa que a "caixinha" desta vez nos reservou.
Aliás, não deixa de ser uma cruel ironia que a lavada da Alemanha sobre o Brasil tenha contribuído significativamente para aumentar o saldo de gols dessa Copa tão festejada também pela quantidade de bolas no fundo das redes.
A desconexão entre esporte e política é uma tese confirmada em eleições anteriores. Agora, porém, tornou-se uma hipótese a ser submetida a teste. Por diversos fatores, sendo o principal deles a nítida tentativa do governo de se apropriar do sucesso caso a seleção tivesse conseguido ir até o fim e conquistado o hexa.
A outra razão é a enrustida torcida da oposição para que algo desse errado. Se antes tudo parecia conspirar contra, quando o campeonato começou os ares ficaram favoráveis e os políticos seguiram o rumo dos ventos. Sempre, claro, dizendo que estavam todos unidos em um só coração.
Ninguém poderia, contudo, prever uma surra daquela proporção. Uma coisa horrorosa que pode levar as pessoas a reavaliarem a posição predominantemente favorável à realização da Copa no Brasil enquanto tudo era festa, e voltarem a querer discutir a oportunidade, a necessidade, os gastos, os atrasos, as promessas não cumpridas e os falsos legados do Mundial.
Considerando que os problemas, assim como os aeroportos, não serão levados de volta nas malas dos turistas - para usar uma imagem da presidente Dilma - já seria de esperar o retorno do azedume. Agora, no entanto, acentuado por um fato inimaginável e altamente negativo.
A oposição naturalmente não vai se recusar a esse tipo de debate. E é neste aspecto que agora possa haver, sim, uma conexão entre o futebol e as eleições. Não uma ligação direta entre a derrota em campo e a vitória nas urnas ou vice-versa. Há muitos fatores envolvidos, todos eles devidamente expostos naquele clima de exasperação que há um ano se instalou no País.
Junte-se a Copa realizada no Brasil com eleição disputada e os ânimos profundamente alterados, tudo fica superlativo. Não foi apenas a seleção que se perdeu em campo diante do profissionalismo dos alemães.
O departamento de propaganda do governo também dá sinais de atabalhoamento, pois age no improviso, a cada momento reagindo de uma forma diferente. Antes, quando temia que se concretizassem as previsões de falhas graves de organização e infraestrutura, procurou distanciar-se do campeonato em si para se concentrar no "legado".
Depois, à medida que ia saindo tudo melhor que a encomenda, a equipe do marketing houve por bem aconselhar a presidente a pegar uma carona na amabilidade do brasileiro - contrariando a personalidade irascível de Dilma, a inflexível - a fim de construir às pressas uma identificação.
A presidente foi às redes sociais falar contra o "uso indevido do pessimismo", imitar gestos de Neymar, atacar os "urubus" e misturar condenações à política econômica com críticas à organização da Copa ou mesmo à atuação do time de Luiz Felipe Scolari.
Tal salada governista revelou-se precipitada no uso indevido do otimismo. A suposição era a de que, tendo chegado até as semifinais, o Brasil poderia conseguir o título, ou pelo menos uma colocação razoável. Farejou aí a possibilidade de dividir as honras e apressou-se em abraçar a Taça.
Uma vez consumada a tragédia no campo, o Planalto volta a dizer que a Copa é uma coisa e a política é outra coisa. Mas foi o governo, na palavra da presidente, quem insinuou que era a mesma coisa.
Isso na teoria, com base na premissa de que a oposição não deve sair comemorando a derrota horripilante e a situação não tem como captar dividendos nem pode ser responsabilizada pela surpresa que a "caixinha" desta vez nos reservou.
Aliás, não deixa de ser uma cruel ironia que a lavada da Alemanha sobre o Brasil tenha contribuído significativamente para aumentar o saldo de gols dessa Copa tão festejada também pela quantidade de bolas no fundo das redes.
A desconexão entre esporte e política é uma tese confirmada em eleições anteriores. Agora, porém, tornou-se uma hipótese a ser submetida a teste. Por diversos fatores, sendo o principal deles a nítida tentativa do governo de se apropriar do sucesso caso a seleção tivesse conseguido ir até o fim e conquistado o hexa.
A outra razão é a enrustida torcida da oposição para que algo desse errado. Se antes tudo parecia conspirar contra, quando o campeonato começou os ares ficaram favoráveis e os políticos seguiram o rumo dos ventos. Sempre, claro, dizendo que estavam todos unidos em um só coração.
Ninguém poderia, contudo, prever uma surra daquela proporção. Uma coisa horrorosa que pode levar as pessoas a reavaliarem a posição predominantemente favorável à realização da Copa no Brasil enquanto tudo era festa, e voltarem a querer discutir a oportunidade, a necessidade, os gastos, os atrasos, as promessas não cumpridas e os falsos legados do Mundial.
Considerando que os problemas, assim como os aeroportos, não serão levados de volta nas malas dos turistas - para usar uma imagem da presidente Dilma - já seria de esperar o retorno do azedume. Agora, no entanto, acentuado por um fato inimaginável e altamente negativo.
A oposição naturalmente não vai se recusar a esse tipo de debate. E é neste aspecto que agora possa haver, sim, uma conexão entre o futebol e as eleições. Não uma ligação direta entre a derrota em campo e a vitória nas urnas ou vice-versa. Há muitos fatores envolvidos, todos eles devidamente expostos naquele clima de exasperação que há um ano se instalou no País.
Junte-se a Copa realizada no Brasil com eleição disputada e os ânimos profundamente alterados, tudo fica superlativo. Não foi apenas a seleção que se perdeu em campo diante do profissionalismo dos alemães.
O departamento de propaganda do governo também dá sinais de atabalhoamento, pois age no improviso, a cada momento reagindo de uma forma diferente. Antes, quando temia que se concretizassem as previsões de falhas graves de organização e infraestrutura, procurou distanciar-se do campeonato em si para se concentrar no "legado".
Depois, à medida que ia saindo tudo melhor que a encomenda, a equipe do marketing houve por bem aconselhar a presidente a pegar uma carona na amabilidade do brasileiro - contrariando a personalidade irascível de Dilma, a inflexível - a fim de construir às pressas uma identificação.
A presidente foi às redes sociais falar contra o "uso indevido do pessimismo", imitar gestos de Neymar, atacar os "urubus" e misturar condenações à política econômica com críticas à organização da Copa ou mesmo à atuação do time de Luiz Felipe Scolari.
Tal salada governista revelou-se precipitada no uso indevido do otimismo. A suposição era a de que, tendo chegado até as semifinais, o Brasil poderia conseguir o título, ou pelo menos uma colocação razoável. Farejou aí a possibilidade de dividir as honras e apressou-se em abraçar a Taça.
Uma vez consumada a tragédia no campo, o Planalto volta a dizer que a Copa é uma coisa e a política é outra coisa. Mas foi o governo, na palavra da presidente, quem insinuou que era a mesma coisa.
11 de julho de 2014
Dora Kramer, O Estadão
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