"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

ORGANIZAÇÕES NÃ0-GOVERNAMENTAIS (ONGS), UM FEUDO DOS PÓS-MARXISTAS


 

“Se você quiser ganhar dinheiro fácil, funde uma ONG de esquerda. Chove dinheiro. Por isso elas estão se propagando como ratos. Invente um título bem genérico e apelativo, como "Instituto de Combate à Desigualdade Social", ou, mais amplo ainda, "Instituto Latino Americano", “Instituto de Estudos Sócio-Econômicos”. Alugue uma ou duas salas bem situadas, equipando-as com o que houver de mais moderno.
Abra um site na Internet. Registre-a como entidade não lucrativa, claro. Nomeie uma diretoria, da qual você é o presidente. E basta. Os objetivos declarados serão tão abstratos e imprecisos quanto inatacáveis:
”combater a desigualdade social“, “lutar contra a discriminação racial, ou de gênero", "assessorar projetos sociais", etc. etc.
Generosas contribuições virão de todo o mundo”
(“O Dinheiro das Esquerdas”, Nelson Lehmann da Silva, maio de 2002)


O texto abaixo, com críticas às atividades de ex-comunistas - denominados de pós-marxistas– bem como aos vínculos desses pós-marxistas com Organizações Não-Governamentais (ONGs) foi extraído do livro “Neoliberalismo: América Latina, EUA e Europa”, de autoria do escritor marxista e professor de Sociologia na Universidade do Estado de New York, James Petras.
O livro foi lançado no Rio de Janeiro em 20 de maio de 1999 pela Edifurb, com a presença do autor. O texto não pode ser considerado, portanto, como mais uma matéria produzida pela direita ensandecida com a finalidade de difamar a ideologia científica e seus seguidores.

Escreveu James Petras que os intelectuais ex-marxistas, que ele denomina de pós-marxistas, após a queda do socialismo real vêm criticando o marxismo valendo-se de uma série de argumentos básicos. Uma crítica arrasadora aos principais postulados do marxismo. Vejam:

- o socialismo foi um fracasso e todas as teorias gerais das sociedades estão condenadas a repetir esse processo porque refletem um mundo de idéias dominado por um único sistema racial/cultural/de gênero;

- a ênfase marxista colocada na classe social é reducionista, porque as classes estão se dissolvendo e agora os principais pontos de partida são culturais e enraizados em diversas entidades: raça, gênero, etnia, preferência sexual;

- o Estado é um provedor corrupto e ineficiente de bem-estar social. Em seu lugar, a sociedade civil é a protagonista da democracia e da melhoria social;

- o planejamento centralizado leva à burocracia e é um produto dela;

- a luta da esquerda tradicional pelo Poder estatal é corruptora e leva a regimes autoritários, os quais subordinam a sociedade civil ao seu controle;

- as revoluções sempre acabam mal: as transformações sociais ameaçam provocar reações autoritárias. A alternativa é lutar pela consolidação das tradições democráticas para salvaguardar os processos eleitorais;

- a solidariedade de classe faz parte das ideologias do passado, refletindo políticas e realidades antigas. Não existem mais classes;

- a luta de classes e o confronto não produzem resultados tangíveis, provocam derrotas e não conseguem solucionar problemas imediatos;

- o anti-imperialismo é outra expressão do passado que sobreviveu à sua época. Na economia globalizada de hoje não há possibilidade de um confronto entre os centros econômicos. 

Alguns pós-marxistas passaram a defender a idéia de que a fonte de Poder está nos novos sistemas de informação, nas novas tecnologias e naqueles que os gerenciam e controlam. A sociedade, segundo essa visão, estaria evoluindo para uma sociedade de novo tipo, na qual os operários irão desaparecendo em duas direções: para cima, integrando-se à nova classe média, e para baixo, juntando-se à subclasse marginal do trabalho informal.

Uma visão pessimista dos pós-marxistas relaciona o declínio da Esquerda Revolucionária à queda do socialismo real no Leste, à crise do marxismo, à perda de alternativas e ao vigor dos EUA. Todos esses argumentos são mobilizados para instigar a Esquerda a apoiar o possibilismo, ou seja, a necessidade de se trabalhar dentro dos nichos do livre-mercado impostos pelo Banco Mundial e pela agenda de ajustes estruturais, para confinar os políticos a esses parâmetros. Em suma, os pós-marxistas decidiram que as revoluções são coisa do passado.

Explica James Petras que os possibilistas adaptaram-se ao Neoliberalismo, aprofundando as suas políticas de livre-mercado, e muitos deles impondo medidas novas e cada vez mais austeras para manterem o Poder, passando à condição de eficientes e honestos gerentes do Neoliberalismo, capazes de garantir a confiança dos investidores e de pacificar as inquietações sociais. A luta de classes é encarada por eles como sendo um atavismo do passado que não mais existe.

O anti-imperialismo, prossegue Petras, desapareceu do vocabulário político dos pós-marxistas. A grande maioria dos ex-guerrilheiros da América Central, ex-sandinistas e ex-farabundistas, tornaram-se políticos e, agora, solicitam cada vez mais ajuda imperialista. Seus problemas não são mais os investimentos estrangeiros, mas a sua ausência.

No entanto, grandes setores de trabalhadores e camponeses, que antes estavam no mercado formal de trabalho, agora estão homogeneizados e com uma mobilidade para baixo. Isso gera uma grande possibilidade de ação revolucionária unificada. Em uma palavra: há uma identidade comum de classe que se constitui no terreno para organizar a luta dos pobres.

Ainda segundo Petras – um marxista, recorde-se -, uma das principais críticas dos pós-marxistas ao marxismo é a noção de que o Poder estatal corrompe e que a luta pelo mesmo é o pecado original. Eles argumentam que isso se deve ao fato de que o Estado está tão distante do cidadão, que as autoridades tornam-se autônomas e arbitrárias, esquecendo as metas originais e visando os seus próprios interesses. Hoje, as políticas de ajuste estrutural nos níveis nacional e internacional geram pobreza e desemprego, exaurindo recursos locais e obrigando as pessoas a migrar ou a se envolver no crime.

Para legitimar seu papel, os profissionais pós-marxistas das ONGs, como agentes do que passaram a chamar de “comunidades democráticas de base”, tendem a se desfazer da Esquerda em nível de Poder estatal. Os gerentes pós-marxistas das ONGs tornaram-se peritos na elaboração de projetos e em transmitir a nova identidade e o jargão globalista aos novos movimentos populares.

Os pós-marxistas têm-se adaptado e aprofundado as suas políticas de livre mercado, promovendo-se à condição de eficientes e honestos gerentes do Neoliberalismo, capazes de garantir a confiança dos investidores e de pacificar as inquietações sociais. Dão ênfase à auto-gestão, ao atacar o paternalismo e a dependência ao Estado. Nessa competição entre as ONGs para cativar as vítimas do Neoliberalismo, os pós-marxistas recebem importantes subsídios de seus parceiros da Europa e dos EUA. A ideologia de auto-gestão dá ênfase à substituição dos funcionários públicos por voluntários e por profissionais contratados temporariamente.

A prática marxista de solidariedade envolve, hoje, intelectuais que escrevem e falam em favor dos movimentos sociais em luta, engajados e dispostos a compartilhar as mesmas consequências políticas. A prática de solidariedade está ligada aos intelectuais orgânicos que fazem parte do movimento. Por outro lado, os pós-marxistas estão imersos no mundo das instituições, dos seminários acadêmicos, das fundações estrangeiras, das conferências internacionais e dos relatórios burocráticos. Eles escrevem num jargão pós-moderno e esotérico, somente compreendido pelos já iniciados.

Para os pós-marxistas, o principal objetivo é conseguir a ajuda financeira estrangeira para o projeto. Na nova condição de gerentes de ONGs, são eles fundamentalmente atores políticos, cujos projetos, treinamentos e workshops não têm nenhum impacto econômico significativo, tanto sobre o Produto Interno Bruto quanto sobre a diminuição da pobreza. Mas as suas atividades, segundo Petras, essas sim, têm impacto, pois desviam o povo da luta de classes para formas inofensivas e ineficientes de colaboração com os seus opressores.

03 de junho de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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