Ao engendrar o tema de hoje, tentei debochar do carnaval e as mesmices apresentadas como novidade. A única inovação é a dilatação das musas disso e daquilo que estão cada dia mais parecidas entre si e todas se assemelhando a homens parrudos. A proporção áurea de 90-60-90 restou apenas nas estátuas gregas.
Porém, como se fosse fixação, a situação da Venezuela e da Ucrânia insistiu em tomar espaço na mente e resolvi dar vazão ao assunto.
As análises internacionais são confortáveis para o comentarista porque conotam, ao olhar desavisado, muita inteligência e, se estiverem erradas, não há consequência relevante para a rotina dos leitores. Além disso, o frenesi dos acontecimentos lança no esquecimento todos os equívocos.
Ao ler a miríade de opiniões sobre as duas crises políticas, e suas repercussões econômicas, há denominador majoritário: são fomentadas pelos Estados Unidos, que desejam controlar suprimentos de petróleo na Venezuela e gasodutos na Ucrânia. Tais textos dão a sensação de déjà vu, como se estivesse lendo jornal de centro acadêmico nos anos 80, com citações de Marx e Lênin, que tenta explicar tudo a partir de uma única causa: as relações de produção. Talvez por iconoclastia e ceticismo, que me impedem de aceitar a supremacia messiânica de qualquer humano, penso que as explicações calcadas no grande satã do marxismo e quejandos são ideológicas e, portanto, sem compromisso com a realidade. São como as teses religiosas, sólidas por fé, não por ciência.
Abrupta queda de Maduro não interessa aos Estados Unidos. A débâcle econômica da Venezuela se alastraria aos países caribenhos viciados em petróleo chavista, levando milhões de hispanófonos a migrar para o Norte, à cata de emprego em Miami, Los Angeles, Nova York. Fácil imaginar os problemas na política doméstica dos EUA. Houve algo semelhante a quando a União Soviética morreu e deixou Cuba, sua parasita, comatosa.
Estima-se que em seis anos a extração de gás e petróleo do xisto tornará os Estados Unidos autossuficientes em energia. Situação oposta à da China, cada vez mais dependente de fontes externas de energia, água e alimentos. Razões para colonizar fornecedores sobram para os chineses e escasseiam para os norte-americanos. As análises combinatórias, e não conspiratórias, do cenário internacional devem ter em consideração a magnitude chinesa e seus pés de barro. Se há inferno, ele está sob nova direção!
Endógenas, as duas crises geram externalidades porque são Estados importantes no tamanho físico, demográfico e, no caso da Ucrânia, a localização como zona de amortecimento entre a Europa e a Rússia.
O orgulho nacional russo, lustrado na Olimpíada de Sochi, não se recuperou da implosão do império soviético. Acresça-se a iminência da perda do único porto de água quente na Crimeia e fica pronta a nitroglicerina resultante da perda do controle sobre a Ucrânia. Ferido, o urso é perigoso e sua vítima pode ser a Europa, que transpira frio mirando os caninos da besta.
A rigor, os norte-americanos deixaram de ser protagonistas e passaram à condição de figurantes desses eventos, encenados por outros gigantes.
Porém, como se fosse fixação, a situação da Venezuela e da Ucrânia insistiu em tomar espaço na mente e resolvi dar vazão ao assunto.
As análises internacionais são confortáveis para o comentarista porque conotam, ao olhar desavisado, muita inteligência e, se estiverem erradas, não há consequência relevante para a rotina dos leitores. Além disso, o frenesi dos acontecimentos lança no esquecimento todos os equívocos.
Ao ler a miríade de opiniões sobre as duas crises políticas, e suas repercussões econômicas, há denominador majoritário: são fomentadas pelos Estados Unidos, que desejam controlar suprimentos de petróleo na Venezuela e gasodutos na Ucrânia. Tais textos dão a sensação de déjà vu, como se estivesse lendo jornal de centro acadêmico nos anos 80, com citações de Marx e Lênin, que tenta explicar tudo a partir de uma única causa: as relações de produção. Talvez por iconoclastia e ceticismo, que me impedem de aceitar a supremacia messiânica de qualquer humano, penso que as explicações calcadas no grande satã do marxismo e quejandos são ideológicas e, portanto, sem compromisso com a realidade. São como as teses religiosas, sólidas por fé, não por ciência.
Abrupta queda de Maduro não interessa aos Estados Unidos. A débâcle econômica da Venezuela se alastraria aos países caribenhos viciados em petróleo chavista, levando milhões de hispanófonos a migrar para o Norte, à cata de emprego em Miami, Los Angeles, Nova York. Fácil imaginar os problemas na política doméstica dos EUA. Houve algo semelhante a quando a União Soviética morreu e deixou Cuba, sua parasita, comatosa.
Estima-se que em seis anos a extração de gás e petróleo do xisto tornará os Estados Unidos autossuficientes em energia. Situação oposta à da China, cada vez mais dependente de fontes externas de energia, água e alimentos. Razões para colonizar fornecedores sobram para os chineses e escasseiam para os norte-americanos. As análises combinatórias, e não conspiratórias, do cenário internacional devem ter em consideração a magnitude chinesa e seus pés de barro. Se há inferno, ele está sob nova direção!
Endógenas, as duas crises geram externalidades porque são Estados importantes no tamanho físico, demográfico e, no caso da Ucrânia, a localização como zona de amortecimento entre a Europa e a Rússia.
O orgulho nacional russo, lustrado na Olimpíada de Sochi, não se recuperou da implosão do império soviético. Acresça-se a iminência da perda do único porto de água quente na Crimeia e fica pronta a nitroglicerina resultante da perda do controle sobre a Ucrânia. Ferido, o urso é perigoso e sua vítima pode ser a Europa, que transpira frio mirando os caninos da besta.
A rigor, os norte-americanos deixaram de ser protagonistas e passaram à condição de figurantes desses eventos, encenados por outros gigantes.
10 de março de 2014
FRIEDMANN WENDPAP, Gazeta do Povo
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