"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

POVO CONFIADO

 

Suíço é povo muito confiado. Não emprego esse termo ― confiado ― no sentido familiar, que a gente às vezes usa pra designar gente «entrona» ou «pidona», gente que não se acanham de entrar onde for nem de pedir favores. Uso a palavra no sentido próprio. Quero dizer que os suíços têm confiança.
 
Cherchez le regard 1Confiam nas autoridades, nas instituições, na Justiça, nas leis, na honestidade do próximo, no patrão, no médico, no chefe, nos governantes. Para quem vive no Brasil, pode parecer desconcertante, mas assim é.
 
Essa certeza de que, respeitando as regras, tudo há de dar certo não deixa de ser ponto positivo. No entanto, quando é excessiva, essa segurança pode ser perigosa.
 
Todo excesso é, em princípio, pernicioso.
Cá, com lá, temos passagens para pedestres, daquelas sinalizadas por faixas amarelas cruzando o asfalto. Pedestre que atravessa a faixa tem absoluta prioridade, essa é a lei. Mas muita gente, quando atravessa a rua, leva essa convicção ao extremo: caminha pela faixa, decidido, sem ao menos olhar se vem vindo algum veículo.
 
Cherchez le regard 2Adolescentes e jovens adultos são especialistas nesse tipo de comportamento. É compreensível, estão naquela idade em que a gente acha que nada de ruim vai acontecer. Aquela idade beata em que a gente se considera blindado e imortal.
 
As autoridades que cuidam do tráfego vêm-se dando conta de que esse desleixo se tornou um problema sério. Resolveram promover uma campanha institucional, com cartazes e inserções televisivas, para conscientizar a população. O mote da campanha é: Cherchez le regard (em francês) e Such Blickkontakt (em alemão). Em nossa língua,
poderíamos dizer Olho no olho. A mensagem é: antes de cruzar para o outro lado da rua, olhe nos olhos do motorista e certifique-se de que ele se deu conta de que você vai atravessar.
 
No Brasil, tem disso não. Aquele que estiver ao volante de um veículo terá sempre razão e fará questão de reafirmá-lo a cada ocasião. Portanto, abre alas, que eu quero passar. Se você estiver a pé, azar seu. Cada terra com seu uso.
 
Se alguém tiver a curiosidade de assistir ao minifilme de 40 segundos, clique aqui.
 
09 de fevereiro de 2014
José Horta Manzano

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