A
pré-candidatura de Denise Abreu para a Presidência da República é uma
manifestação de oposição ao governo federal, cuja base está estabelecida desde
2003. O caso da ex-diretora da Anac é mais um caso que pode ser enquadrado como
assassinato de reputações. Trata-se de uma pré-candidata que conhece a agenda do
governo petista e, por isso, é uma grande pedra no sapato para o governo Dilma
Rousseff.
Especula-se
que Everaldo Pereira, do PSC, e Ronaldo Caiado, do DEM, possam ser candidatos à
presidência. No entanto, o partido do pastor está com a imagem manchada devido
ao deputado Marco Feliciano e dificilmente ganharia força. Ronaldo Caiado,
deputado que mais se opõe ao governo Dilma, defensor dos direitos de propriedade
e do agronégocio, que é o grande responsável pelo crescimento econômico do país
na última década, não definiu qual cargo deseja disputar e encontraria
dificuldades para lançar candidatura própria.
Por outro
lado, Denise Abreu é capaz de debater com Dilma Rousseff e realmente se opor à
sua forma de governo. Sua oposição não se limitaria apenas em âmbito
administrativo, mas no âmbito das ideias. Em entrevista para o músico e escritor
Lobão, Denise se declarou defensora das “coisas permanentes” – expressão
utilizada pela literato T.S. Eliot e pelo filósofo político Russell Kirk para
designar tudo aquilo que merece ser preservado e passado para as próximas
gerações -, demonstrando ser uma candidata conservadora. Os discursos liberal e
conservador são praticamente nulos na política nacional. Ultimamente, apenas
alguns deputados do antigo PFL – que mudou o nome para Democratas em 2007 para
não ser identificado como partido liberal, demonstrando como esse nome se tornou
obscuro em nossa nação “progressista” – discursaram em defesa do livre mercado
no Congresso Nacional.
O
conservadorismo é, em tese, defendido por alguns membros do PSC e do PP. Porém,
nota-se mais uma manifestação de “reacionarismo” que a postura reativa e
prudente do conservador que encontramos mundo afora – principalmente no Reino
Unido e nos Estados Unidos – por parte desses congressistas. Jair Bolsonaro é
mais um defensor do controle de natalidade, do voto obrigatório e da
reestatização de empresas que um defensor das “coisas permanentes” e da economia
de mercado.
Tendo em
vista a situação em que a direita brasileira se encontra, totalmente obscurecido
pelo meio acadêmico e pela grande mídia, qualquer candidato que defenda valores
conservadores ou liberais é satisfatório. Nos Estados Unidos, até a década de
1950, os grupos que compõe o atual movimento conservador, representado
majoritariamente pelo Partido Republicano, eram dispersos. Após a publicação de
“The Conservative Mind”, por Russell Kirk, em 1953 e a criação da revista
National Review, por William F. Buckley Jr., em 1955, facções adeptas às mais
divergentes ideias se uniram com uma única finalidade: vencer o comunismo, uma
doutrina armada.
Dizer-se
de direita é visto com péssimos olhos. Na era do relativismo moral, o bullying
esquerdista nunca foi tão poderoso. Deste modo, poucos evitam tal rótulo. Às
vezes, aceita-se o rótulo de liberal, posto que a palavra é ligada a liberdade,
e todos esquerdistas gostam de “liberdade” – para realizar abortos, claro. Pois
liberdade para portar armas de fogo e proteger sua família, educar os filhos,
comer e beber o que deseja e se expressar sem censuras politicamente corretas é
coisa de “extremista”.
Porém, a
partir do momento que você começa a defender a liberdade econômica, é visto com
maus olhos. Ou você “abre sua mente” para as ideias do lado oposto, ou você é
rotulado de neoliberal explorador dos fracos e oprimidos, ainda que demonstre
como a economia de mercado reduziu a pobreza ao redor do mundo. Não importa se o
Chile está em sétimo lugar no índice de liberdade econômica da Heritage
Foundation e o Brasil em centésimo décimo quarto, sendo aquele país mais
próspero que o nosso. Mostrar a verdade não basta. Afinal, verdade é um
“conceito burguês”.
Dizer-se
conservador então? “Mas que palavra obscena! Lave essa língua, pois isso que
você disse é muito feio.” A carga das palavras sempre foi enorme, e devemos
tomar cuidado ao utilizá-las. No entanto, a censura politicamente correta tornou
uma palavra que é utilizada normalmente em vários países do Ocidente em um
palavrão.
A grande
incógnita é o partido da pré-candidata Denise: o PEN, Partido Ecológico
Nacional, não seria um partido de esquerda? Já não há o PV? Não são as mesmas
ideias? Conforme a própria Denise, em entrevista para Lobão, o partido visa
defender a sustentabilidade do ser humano. É lugar-comum relacionar o
conservadorismo e a direita com a negligência e a devastação ambiental. Afinal,
foi através dessa bandeira que Al Gore lançou “Uma Verdade Inconveniente” – que
já está sendo contestado, com fatos, há bastante tempo.
O
filósofo, escritor e jornalista Roger Scruton resume as características do atual
movimento ambientalista: “Há uma classe de vítimas (as gerações futuras), uma
vanguarda iluminada que luta por elas (os guerreiros ecológicos), burgueses
poderosos que os exploram (os capitalistas) e oportunidades infindáveis de
expressar ressentimento contra o sucesso, a riqueza e o Ocidente”.
Porém,
para Scruton, os ambientalistas deviam se opor mais ao socialismo que ao
capitalismo: os projetos estatais dos países socialistas eram os que mais
desrespeitavam o meio ambiente. Tais projetos foram uma característica marcante
do Leste Europeu. O motivo é simples: o que o Estado determina é imposto de cima
para baixo.
O
ambientalismo autêntico deveria defender o contrato entre os mortos, os vivos, e
os que ainda não nasceram – a responsabilidade para com as gerações futuras. Tal
parceria certamente é uma ideia conservadora, e pode muito bem ser defendida por
conservadores e por defensores da economia de mercado.
Grande
parte dos problemas ambientais são causados pelo apoio estatal a projetos
antiecológicos de planejamento urbano, que estimulam a poluição , o emprego de
combustíveis fósseis e tornam as cidades esteticamente desagradáveis. Não se
pode culpar o mercado por estímulos e decretos dados pelo Estado: o estímulo à
compra de automóveis por parte do Estado, a iluminação pública com seu grande
gasto de energia, e até mesmo conjuntos habitacionais construídos pelo governo
podem ter consequências ambientais graves, se não forem avaliados da maneira
adequada. Quem administra e empreende tais ações é o Estado.
O
pensamento conservador é um aliado natural da defesa do meio ambiente. Ter
ciência de que o Estado é a parceria entre aqueles que já nos deixaram, vivem e
ainda estão por nascer; da importância do princípio da prudência na
administração pública; e de como é fundamental adequar as políticas públicas às
circunstâncias materiais de cada região é fundamental para que políticas
pró-meio ambiente sejam adotadas.
Além
disso, o meio ambiente e a estética urbana merecem lugares bem acima de
dicotomias impostas por ideólogos de frases feitas e de agressividade
intelectual sem freio. A técnica de “dividir para conquistar” deve ser rejeitada
por qualquer pessoa civilizada.
Portanto,
Denise Abreu é uma candidata conservadora, pois é defensora de ideias
conservasionistas, e se opõe verdadeiramente às ideias do governo atual.
Religiosos, militares, caminhoneiros, produtores rurais, profissionais liberais,
entre outros grupos menosprezados pelo atual governo devem ver essa candidatura
com bons olhos. Ainda que as chances de vencer as eleições sejam pequenas, é um
grande início para pôr fim no projeto de poder petista.
23 de fevereiro de 2014
Eric Carro
Extraído do blog O Bunker da Cultura
http://revistaliberius.com/
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