"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 25 de janeiro de 2014

DESAFIOS PARA A ECONOMIA EM 2014

O desempenho da economia brasileira em 2014 estará condicionado não apenas aos desdobramentos dos fatores domésticos relevantes, mas também, e principalmente, do quadro internacional. A mudança da política econômica norte-americana, com a retirada gradual dos estímulos monetários, provoca impactos tanto na taxa de juros quanto nas taxas de câmbio.
O primeiro efeito é a subida das taxas de juros de títulos (Treasuries) de dez anos, que praticamente dobraram nos últimos oito meses, atingindo cerca de 3% ao ano. Como essa taxa é uma referência para as emissões do setor privado, isso tem impacto não só no encarecimento do financiamento da dívida pública, mas também no do setor privado.
 
 
O segundo efeito é que a maior atratividade do mercado de títulos norte-americanos provoca a valorização do dólar e, como contrapartida, a desvalorização das moedas dos demais países, especialmente aqueles que, como o Brasil, têm necessidades expressivas de financiamentos externos. Nesse ponto estamos hoje mais vulneráveis do que quando da eclosão da crise de 2008, por exemplo. Naquela ocasião, o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro era próximo da metade dos cerca de US$ 81,4 bilhões anuais de agora.
 
 
No que se refere ao nível de atividades doméstico, o crescimento do PIB dos três anos encerrados em 2013 deve ficar muito próximo da média anual de apenas 2%. Se não há grandes evidências de aceleração desse nível, por outro lado também não há fatores que impeçam a sua continuidade no ano em curso.
Como variáveis restritivas, há um claro esgotamento do modelo de incentivo ao consumo. A persistência da inflação, especialmente de alimentos e serviços, diminuiu o ímpeto do crescimento real da renda das famílias, também agora mais comprometida com dívidas e o encarecimento do crédito.
Assim, não se espera grande contribuição do consumo como fator acelerador de crescimento da atividade econômica, embora se deva ressaltar que, ainda assim, continuará a ser positiva.
 
 
Mas há outros fatores que poderão compensar, ao menos parcialmente, esse impacto. O setor industrial deixou de ter desempenho negativo no 2.º semestre de 2013, processo que tende a se consolidar ao longo deste ano.
Para isso contribuem alguns dos incentivos setoriais, mas principalmente a desvalorização do real, que tem representado um ganho de competitividade para os produtores brasileiros diante de seus concorrentes.
Isso vale tanto para as exportações de manufaturados como no mercado interno retomando o espaço então ocupado pelos importadores. Aqui vale a pena destacar dois aspectos importantes.
O primeiro é que o efeito é de longo prazo e, segundo, a desvalorização do real em curso ainda está longe de compensar as desvantagens competitivas da economia brasileira.
Ou seja, se não quisermos transferir para a taxa de câmbio todo o ajuste necessário, é preciso que se avance na melhora dos demais fatores de competitividade, como infraestrutura e logística, tributação, custos de capital e burocracia.
Aliás, ressalte-se, não se trata de escolhas excludentes câmbio x demais fatores, mas, sim, de complementos. A grande maioria dos nossos países concorrentes conta com todos os fatores favoráveis relativamente aos nossos, o que lhes dá ampla vantagem de competir nos mercados externo e interno. O déficit da balança comercial da indústria, que chegou a US$ 105 bilhões no acumulado de 2013, ilustra bem essa distância.
 
 
Outro fator que deverá pesar positivamente para a atividade é o desempenho dos investimentos. Embora aquém do desejável, há uma recuperação em curso tanto do investimento em infraestrutura como nos demais setores. Assim, a continuidade dos programas de concessões e a melhora do ambiente para investimentos privados são fundamentais para isso.
 
25 de janeiro de 2014
Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor da PUC-SP e sócio-diretor da Aclacerda Consultores Associados.

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