"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OS WHITE BLOCS, OU O RETRATO ATUAL DO BRASIL

 

Eles estão infiltrados no Estado brasileiro desde os seus primórdios: vieram com a Corte Absolutista de Dom João, em 1808. Não em naus menores, atrás das principais da esquadra que fugia da invasão napoleônica, mas bem ao lado da Família Real. Aqui compuseram a alta burocracia, renovaram os privilégios, aprofundaram a distância entre administração inchada e população desvalida. Propagaram a cultura da corrupção.

Eles não usam máscaras, pois suas caras de pau prescindem disso. Bem vestidos — os ternos de corte fino substituindo as perucas do século XIX —, têm incrível capacidade de renovação. Seus espaços no poder são mantidos como capitanias hereditárias. Arcaicos em suas práticas do tráfico de influência e enriquecimento ilícito, vestem a roupagem da “modernidade” das “tribos” da livre concorrência e do capitalismo sem riscos.

Eles não atacam bancos: esmeram-se em neles fazer operações sigilosas, aqui ou em paraísos fiscais, que passam ao largo dos órgãos de controle financeiro. Têm força junto aos grandes partidos e abortam qualquer investigação sobre suas movimentações milionárias, como nas CPIs do Banestado, Cachoeira/Delta e quantas outras surgirem tentando jogar luz em tenebrosas transações.

Crescidos na estufa dos negócios particulares, estão, anônimos, nas esferas dos três poderes da República. Nos Judiciários tentam comprar sentenças, envolver magistrados, fazer chicanas e absolver os poderosos. Regozijam-se quando a Justiça tarda e falha. Quanto mais ela pender sua balança para os ricos, melhor.

Nos Executivos, armam licitações dirigidas, beneficiam grandes empresas e estabelecem consórcios de propinas. Montam uma rede de “amigos” especializada em quebrar todas as barreiras republicanas que distinguem o público do privado, o interesse social do negócio mercantil.

Nos Legislativos, alavancam esquemas vitoriosos de financiamento empresarial de campanha e de publicidade despolitizadora. Assim elegem, além dos governos, sua “base de sustentação”, alimentada pela distribuição de cargos para nomeação de apaniguados.
Direcionam as emendas orçamentárias para aqueles que possam se beneficiar de sua execução, cobrando retribuição.
Eles não gostam da claridade das ruas. Agem nos bastidores, justificando-se, no seu fatalismo interessado, com o “sempre foi assim”. Vandalizam o bem comum, frequentam as altas-rodas e têm certeza da impunidade.

Para enquadrá-los, é preciso desmontar a estruturas do poder oligárquico. Uma consigna, efetivamente praticada, também combateria essa chaga: LIMPE. De Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, princípios fundamentais da administração pública, inscritos no artigo 37 da Constituição Cidadã que nos rege, há 25 anos.

26 de dezembro de 2013
Chico Alencar é deputado federal (PSOL-RJ).
O Globo

NOTA AO PÉ DO TEXTO

"Para enquadrá-los, é preciso desmontar a estrutura do poder oligárquico".
Por que sobrevive o tal poder oligárquico? O que confere a ele a intervenção fraudulenta nos negócios do Estado, senão a transparente associação com o poder político vigente, representado pelos três poderes da república?
A ânsia do enriquecimento ilícito imediato, a vontade da manutenção do poder, o consórcio de propinas, o circo armado da mentira pregada sem qualquer pudor, apenas para sustentar o status quo vigente, torna efetiva a sobrevivência no tempo do tal 'poder oligárquico', que apenas mascara os verdadeiros corruptos que se ocultam atrás de mandatos 'democraticamente' conquistados.
Esse tal poder oligárquico, assim denominado indevidamente, deveria denominar-se o poder corrupto, não de famílias, embora algumas oligarquias ainda se façam presentes na modernidade, mas de um Congresso espúrio, farsante em sua maioria, distante dos interesses do Estado e do bem público, interessado apenas na perpetuação das suas absurdas benesses, das suas mordomias eleitas às custas do trabalho de uma nação espoliada.
É fácil mascarar a podridão do ilícito político, que aparelhou as instâncias do Estado com autênticas quadrilhas de assaltantes do erário público/privado, e atribuir-lhe o codinome de "poder oligárquico", mais uma vez tentando enganar o país, cuja culpa do atraso e da miséria, até recentemente era culpa "dazelite".
m.americo
 
 

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