"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

"CORRUPÇÃO DESCARADA"

Grupo de fiscais envolvido em escândalo esbanjava riqueza e imaginava-se intocável; investigação do caso não pode escolher alvos
 

"Quem não gosta de jantar num restaurante caro e bom? Eu gosto." A pergunta retórica e a resposta são de Vanessa Caroline Alcântara, ex-companheira do fiscal Luis Alexandre Cardoso de Magalhães.
 
Segundo Alcântara, o fiscal municipal costumava levá-la a restaurantes nobres de São Paulo, nos quais gostava de pedir o vinho mais caro da carta. O destino seguinte era um hotel dispendioso, cuja diária custava R$ 5.000. Era comum que a noite consumisse R$ 10 mil.
 
Não é preciso esforço para notar a discrepância entre os hábitos faustosos e o salário de Magalhães. Como funcionário público, recebia cerca de R$ 14 mil por mês.
 
Apelidado de "louco" por alguns colegas, o fiscal não fazia questão de disfarçar os sinais de uma riqueza incompatível com os seus vencimentos. Em seu nome ou no das empresas que controla estão 27 imóveis; seu patrimônio estimado é de R$ 18 milhões.
 
Vem do Ministério Público a explicação para o descompasso: Magalhães e pelo menos outros três servidores são acusados de envolvimento num esquema de corrupção que impôs prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais.
 
Tratava-se de cobrar propina para reduzir o valor do ISS (Imposto sobre Serviços) a ser pago por determinada empresa. Os fiscais embolsavam até metade do montante devido; a prefeitura, quase nada.
 
 
Calcula-se que o grupo tenha entesourado R$ 80 milhões. São 59 imóveis, nove quotas de participação em empresas, automóveis de luxo e uma lancha avaliada em R$ 1 milhão. Podem ser todos ingênuos ou inexperientes na arte de ocultar bens ilícitos, mas é ainda assim espantosa a desfaçatez. Imaginavam-se intocáveis.
 
De acordo com a ex-companheira de Luis Magalhães, por exemplo, foi somente após saber-se investigado pela Controladoria Geral do Município que o fiscal tentou usá-la como laranja.
 
O episódio suscita questões embaraçosas para o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Por que agiam com tamanha certeza de impunidade? Sobrava proteção a essas práticas ou faltava investigação por parte dos órgãos públicos?
 
Tampouco está livre de questionamento o prefeito Fernando Haddad (PT). É que Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como chefe do esquema, foi nomeado diretor de finanças da SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal) na atual administração. Além disso, o nome de Antonio Donato, secretário de Governo do petista, já apareceu ligado a Magalhães em escuta autorizada pela Justiça.
 
Espera-se que a promissora Controladoria Geral do Município não faça distinções políticas no exercício de seu dever.

05 de novembro de 2013
Editorial da Folha

Nenhum comentário:

Postar um comentário