"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

DERROTA EM ELEIÇÃO LEGISLATIVA ESVAZIA PROJETO KRCHNERISTA NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS DE PODER

 

    Cristina deverá governar com a oposição de novas e fortalecidas lideranças, como a de seu ex-chefe de Gabinete, Sergio Massa
    Argentina está começando a ter como protagonistas os filhos da democracia’
 

Sergio Massa derrotou o kirchnerismo na província de Buenos Aires
Foto: Alberto Raggio / AP
Sergio Massa derrotou o kirchnerismo na província de Buenos
Aires Alberto Raggio / AP


BUENOS AIRES — A apuração dos resultados confirmou que o kirchnerismo sofreu domingo sua maior derrota eleitoral desde que chegou ao poder, em 2003, e a maioria dos analistas políticos argentinos coincide em assegurar que os próximos dois anos serão os mais difíceis para a presidente Cristina Kirchner - que continua afastada do poder por problemas de saúde e sem data para retornar. Como apenas metade da Câmara e um terço do Senado estavam em jogo, o governo preservará as maiores bancadas nas duas Casas, mas o risco de uma debandada de aliados após o recado das urnas é grande.
 
 
Nesta segunda-feira, na tranquilidade do município de Tigre, na Grande Buenos Aires, governado por ele desde 2007, Massa assegurou ter chegado a hora de as novas gerações políticas argentinas, que não atuaram na dramática etapa da ditadura (1976-1983), construírem um projeto de país onde predominem o diálogo e o consenso.
 
- A Argentina está começando biologicamente a ter como protagonistas políticos os filhos da democracia, dirigentes que não tiveram uma atuação porque eram muito jovens nos processos de fortes antagonismos… Isso dá uma liberdade e uma amplitude mental muito grande - disse Massa, de 41 anos, a um pequeno grupo de correspondentes estrangeiros nos jardins do Museu do Tigre.
 
A pluralidade é, para este novo líder peronista, uma qualidade essencial. E a falta dela foi, segundo ele, um dos principais motivos que o afastou do kirchnerismo, no início deste ano.
 
- Saí do governo porque acredito no diálogo, na construção a partir da crítica e da autocrítica, e isso não existia - explicou o novo deputado da Frente Renovadora, movimento fundado por Massa que já conta com a adesão de vários prefeitos da província de Buenos Aires, economistas como o ex-ministro Roberto Lavagna, empresários e sindicalistas.

Dois terços de votos contra o governo
 
Sua bancada terá em torno de 25 deputados (de um total de 257), numero que Massa espera ampliar em pouco tempo. Seu telefone não para de tocar, e as negociações já começaram. O novo deputado não quer dar nomes, mas responde, com um olhar otimista, quando perguntado sobre novos aliados. Já o kirchnerismo iniciaria 2014 com 117 deputados próprios e 13 aliados. No Senado, o governo também continuará tendo a maior bancada, mas poderia perder alguns congressistas como parte do mesmo processo de migração para projetos com mais futuro. Os números podem mudar com um governo enfraquecido e os planos de reforma constitucional e reeleição de Cristina engavetados.
 
- O kirchnerismo é uma força que está deixando o poder, e com ela acontecerá o que acontece com qualquer força que está saindo do poder... Quantos aliados serão perdidos não sabemos, mas a tendência é a ficar cada vez mais sozinho - afirmou o analista Jorge Giacobbe, da Giacobbe e Associados.
 
Nesta eleição, cerca de 67% dos eleitores de todo o país votaram contra o governo, apenas dois anos depois de a presidente ter sido reeleita com 54% dos votos. Na província de Buenos Aires, Massa obteve uma diferença superior a 1 milhão de votos em relação ao candidato kirchnerista, Martin Insaurralde. Os candidatos K também foram derrotados nos outros quatro maiores distritos eleitorais do país: Córdoba, Mendoza, Santa Fé e Capital Federal.
 
Massa e os demais opositores da Casa Rosada confiam em que esta será a tendência nos próximos meses. Um kirchnerismo em clima de retirada e processo de fortalecimento das bancadas opositoras. A ordem é não perder o controle da iniciativa parlamentar, e para isso o chefe da Frente Renovadora já tem três projetos prontos para apresentar ao Parlamento, após ser empossado, no próximo dia 10 de dezembro. São iniciativas de combate ao narcotráfico, à inflação e ao desemprego.
 
- Vamos percorrer o país, buscar construir um novo paradigma, da mesma forma que fizemos na província de Buenos Aires - assegurou.
 
Massa diz ser peronista, mas “seguidor do Perón que voltou à Argentina depois do exílio, que entendia a importância da conciliação”. O novo deputado não gosta de falar em candidatura presidencial: diz que seria uma falta de respeito com seus seguidores. Mas garante que chegou a hora de discutir o que é o peronismo do século XXI, antes de pensar em qualquer tipo de primárias para escolher o candidato para as presidenciais de 2015.
 
Em conversas informais, seus colaboradores admitem que é impossível não pensar numa candidatura presidencial, mas o líder da Frente Renovadora não quer seguir o exemplo do chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri, do PRO, que aproveitou o bom desempenho de seus candidatos nas legislativas para lançar sua candidatura presidencial para 2015. Massa, pelo contrário, diz estar “em processo de construção”.
 
- Ainda não é hora de candidaturas, temos de atender as demandas do povo primeiro - enfatizou várias vezes durante a entrevista.

29 de outubro de 2013
Janaína Figueiredo - O Globo

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