"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA HELIO FERNANDES

40 anos do assassinato de Allende. A tortura, o fim de uma democracia, a do Chile, jamais interrompida. Barbosa e Fux, sozinhos na sala eletrônica, que sorte, Fux ‘saiu’ no sorteio. Enquanto a televisão apenas transmitia e muito depois comentava, este Blog foi atualizando e comentando, ‘em cima do laço’.
E um número enorme de comentaristas opinando, da forma como entendiam. Sujeitos apenas à própria vontade. Um recurso e uma inovação, aprovadíssima.
 

 
Como eu disse, nervoso e inseguro, o presidente do Supremo foi para o seu gabinete, todos os outros ministros já haviam ido embora. Sem falar em Gilmar Mendes, que saiu, espetacularmente, no meio da fala de Celso de Mello, decepcionado com quem tem elogiado tanto.
 
Todos esqueceram que faltava “sortear” o relator do novo julgamento, ou como querem alguns, outra fase do mesmo julgamento. Na sala do presidente, só o próprio e Fux. Este não é sempre fiel a Barbosa, muito mais do que isso, é total subserviência, quase tocando ou chegando ao ponto da imprudência.
 
Só os dois, resolveram “arriscar” na sorte e realizar o sorteio de Fux, perdão, do novo relator, o ansiado e desejado Fux. Perguntei, me responderam: “Não pode haver dúvida, é eletrônico”.
Não falei nada, não podia, mas aqui, publicamente, deixo a pergunta inócua, inútil, impertinente: “Quem eletroniza o eletrônico”?
 
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PS – Santos Aquino e Almério Nunes, obrigado pelas três palavras definidoras de uma vida. Agradeço como elogio, incorporo como constatação.
 
PS2 – Que ninguém se engane: neste 2013 não haverá nenhum movimento importante na Ação Penal 470, popularizada como mensalão. Os recursos poderão ser protocolados em 30 dias, naturalmente a partir da publicação do acórdão.
 
PS3 – Esse acórdão levará no mínimo 60 dias para ser publicado, depende naturalmente dos ministros liberarem seus votos.
 
PS4 – Ninguém pode cobrar, ministro sobre ministro. Admitamos que sejam publicados em 30 dias, 20 de outubro. Mais 30 dias para os recursos, 20 de novembro. Tudo se correr aritmeticamente (e não matematicamente, como gostam de dizer), sem nenhuma falha nessa contagem.
 
PS5 – 20 de novembro, pertíssimo do recesso do Judiciário, voltarão ao trabalho em 15 de fevereiro, em pleno 2014, ano de duas finais emocionantes, da Copa e do mensalão.
 
PS6 – A partir da volta do recesso, não há expectativa ou perspectiva que seja razoavelmente analisável.
 
PS7 – Votação, só a partir de 2014. Mas será o mais razoável e possível admitir que toda a qualquer votação chegue sempre ao final em 5 a 5. O Supremo, não dividido e sim “rachado”. Nas duas votações do ficha limpa, o mesmo resultado.
 
PS8 – Assim, não havendo voto de Minerva (como tantos insistiram idiotamente), Celso de Mello pode ser, g-l-o-r-i-o-s-a-m-e-n-t-e, o 11º ministro a votar e a desempatar.
 
PS9 – Como ele ainda tem 2 anos e 1 mês para completar 70 anos e cair no que chamam de expulsória, ficará como adora: no centro dos acontecimentos.
 
PS10 – É preciso ressaltar, registrar e ressalvar: mesmo votando a favor dos infringentes, os ministros cumpriam o que está escrito: “Tendo quatro votos a favor, cabia o recurso”. Mas reconhecendo o direito ao recurso, não sinalizavam que reconheciam a falta de elementos para a condenação. Este é um fato importantíssimo.
 
PS11 – Para terminar por hoje, por hoje. Geralmente quem “redige o acórdão” é o relator. Como de forma surpreendente, o relator foi derrotado, esse acórdão é redigido por um ministro do grupo vencedor.
 
PS12 – Mas quem escolheu e indicou foi o próprio Barbosa, que preferiu “um novato” (Marco Aurélio) que chega por último “e quer logo sentar na janelinha” (Romário).
 
PS13 – Barbosa quis dizer ao plenário: “Perdi, mas foi por instantes. E até novembro de 2014, ainda sou e serei o presidente”.
 
OS 40 ANOS DA MORTE DE ALLENDE E DO GOLPE DO SEU ALIADO, PINOCHET
 
Existe apenas um cadáver, no mesmo local (o Palácio Presidencial de La Moneda), e duas versões que pretendem igualmente a propriedade, a credibilidade e a autenticidade histórica. E para conquistarem esse status, deturpam a realidade, alegam que Allende de suicidou ou foi assassinado.
 
Nesses 40 anos não surgiram provas, mas testemunhos, irrefutáveis e insofismáveis, de que Allende foi assassinado, jamais teria praticado, ou como se diz comumente, “cometido” o suicídio.
 
Allende era socialista assumido, não comunista, apesar de ter amigos comunistas, como o grande Pablo Neruda. Mitterrand, presidente da França durante 14 anos, líder da “resistência”, a partir de 14 de junho de 1940, quando os nazistas invadiram a França e se instalaram em Partis, era socialista autêntico.
 
Dizia publicamente: “Tenho horror do comunismo”. Exerceu dois mandatos de 7 anos (agora é de 5), de 1981 a 1988, de 1988 a 1995. Quando ia conquistar o terceiro mandato, surgiu o “adversário” invencível, foi derrotado. Sem eleições, apenas o hospital frio, sem povo, sem voto, sem urnas, apenas médicos.
 
Nesses 14 anos não foi a Moscou, os líderes soviéticos jamais foram convidados a irem à França. Mantinham relações diplomáticas, o embaixador da União Soviética conversava com o ministro do Exterior ou o primeiro-ministro, com Mitterrand, em nenhuma oportunidade.
 
A mesma coisa que fazia o marechal Tito. Socialista, não ia a Moscou. Stalin é que ia à Iugoslávia conversar com ele. A Iugoslávia era um dos nove participantes do “Pacto de Varsóvia”, que reunia os países do leste da Europa. Anticomunistas, mas forçados pela incompetente e “militarizada” União Soviética.
 
A MORTE DE ALLENDE
 
Amava o seu país, fazia política com a mente e o coração. Candidato a presidente em 1958, derrotado, cumprimentou o adversário e voltou às suas atividades. Em 1962 não queria ser candidato, insistiu com Neruda, este recusou, Allende foi para a segunda candidatura. A mesma coisa, derrotado, felicitou o adversário, voltou para causa, pela adoração fora do comum do seu país.
 
Em 1966 não admitiu de modo algum a candidatura, recusou todos os pedidos. Em 1970 os apelos aumentaram muito, aceitou, foi candidato, eleito com margem folgada de votos. Começou se equivocando na convocação dos militares que formariam, com os ministros civis, a base do governo.
 
Foi traído por todos, Exército, Marinha e Aeronáutica, ligadíssimos aos EUA, que financiaram tudo, patrocinaram as “adversidades” que infelicitaram a população. O maior traidor de todos, o general Pinochet, o mais ligado a ele.
 
ESTÁDIO NACIONAL, TORTURA A CÉU ABERTO
 
Bombardearam o palácio presidencial, Allende não saiu de lá junto com a família. Os assassinatos e as torturas começaram antes da derrubada do presidente.
O belo Estádio Nacional, que eu tanto frequentei na Copa do Mundo de 1962 (uma das nove copas que assisti nos países onde se realizavam), imediatamente transformado em subterrâneos (e às vezes nem mesmo precisando de subterrâneos) da morte, da tortura, do esquartejamento.
 
“NÃO ME RENDEREI  DE JEITO ALGUM”
 
Sequestrado no palácio bombardeado e em chamas, Allende pronunciava essa frase pelo rádio, atingia o país inteiro. Se dirigia aos trabalhadores, mas na verdade era a população inteira, inconsolável, emocionada, martirizada pela resistência de um homem. Mesmo os que não votaram em Allende, choravam pelo país.
 
Assustados, os golpistas, já torturadores implacáveis, decidiram que seria melhor que Allende deixasse o Chile. Nem sabiam se ele estava vivo ou morto, ofereceram um helicóptero para que atravessa a fronteira para um país vizinho.

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PS – Este “não me renderei”, interpretado pelos golpistas como antecipação de um “aceito”, já não tinha mais sentido. Allende estava morto, no palácio que já não existia, desaparecera com o presidente.
 
PS2 – Logo, logo e agora completando 40 anos, a dúvida que é alimentada pelos herdeiros dos cruéis e selvagens ditadores: ALLENDE SE MATOU.
 
PS3 – Não importa que, acionou a última bala que matou Allende. Não interessa onde essa bala surgiu, o que pretendem é manter a versão do suicídio.
 
PS4 – Haja o que houve, Allende foi assassinado, seu corpo encontrado nos escombros.
 
PS5 – A morte e a morte de um homem que só pretendia viver com seu país e pelo seu país, não pode servir de absolvição ou de passaporte para a impunidade e a eternidade dos assassinos.
 
PS6 – Assassinato foi o que tirou a vida do socialista Salvador Allende.

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