"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 21 de setembro de 2013

"CHATICE CRÔNICA"

No Brasil a ideia básica é que, em princípio, todos podem, e devem, estar mentindo. Somos o país do“minto, logo, existo”.
 
“Parei minha moto no shopping, roubaram a tampa da válvula do pneu. Tinha uma ótima tesoura Tramontina para tosar meus cachorros, mas alguém a trocou por uma de pior qualidade. O médico me mandou tirar radiografia desnecessária só para gastar dinheiro do plano de saúde. Minha revista semanal sumiu na portaria do prédio…”
 
A prosaica semana de um leitor carioca de um bairro de classe média, tão banal e parecida com a de milhões de brasileiros, mostra como o roubo e a sem-vergonhice estão arraigados na nossa cultura, atrasando o crescimento do nosso IDH, por mais que se invista em educação, tecnologia e infraestrutura.
Mas não estamos condenados a essa cultura que privilegia a mentira e a fraude, que aos poucos vai cedendo aqui e ali por força da lei, da policia e da Justiça, e aos trancos e barrancos o Brasil vai melhorando.
 
Há quem acredite que o Brasil está rico, poderoso, soberano, solidário, mas 43% dos alfabetizados não sabem ler, mais da metade das cidades não tem esgoto tratado, 1/3 das Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e Congresso Nacional estão nas mãos de processados ou condenados pela Justiça. O que esperar dessa gente ?
 
Ao contrário da cultura legal anglo-saxônica — baseada no pressuposto que o cidadão está dizendo a verdade e sabe que vai sofrer graves consequências se não estiver —, no Brasil a ideia básica é que, em principio, todos podem, e devem, estar mentindo, daí a necessidade de tantas exigências de provas e documentos e assinaturas e autorizações e controles e fiscalizações, que aumentam a burocracia e, com ela, a corrupção. Somos o país do “minto, logo, existo”.
 
Só aqui há documentos que precisam de “firma reconhecida” e outros que exigem a presença física no cartório, como se umas fossem “sérias” e outras não, mas as fraudes não diminuem.
Por essas e outras abrir uma empresa no Brasil leva vinte vezes mais tempo do que nos Estados Unidos ou no Chile.
 
A verdade, caros leitores, é que são vícios crônicos inspirando uma crônica chata, resultado de muito trabalho vão e de um grande esforço para não falar do mensalão. Paciência, semana que vem melhora.

21 de setembro de 2013
Nelson Motta, O Globo

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