"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

GOVERNO DE TEMER ACABAOU EM 17 DE MAIO DE 2017 E ELE VIROU UM ZUMBI

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Charge do Duke (dukechargista.com.br)
No calendário oficial, o governo Temer termina no dia 31 de dezembro deste ano. Na vida real, morreu na noite de 17 de maio de 2017. O terremoto provocado pelas revelações da delação da JBS abalou as estruturas de um governo que carecia, desde sempre, da legitimidade das urnas. A partir dali, Michel Temer deixou de ser um presidente que se pretendia reformista para virar um político que usaria todos os meios junto ao Congresso para não cair.
Apenas cinco dias antes, Temer comemorara o seu primeiro ano de governo. Apesar de sua popularidade esquelética (em abril, o Ibope dava ao seu governo 10% de aprovação), ainda conseguia articular um discurso em tom triunfante. “Estamos no caminho certo, chegando no final de uma longa recessão. Preparamos o país agora para uma nova fase de crescimento”, afirmou naquele dia um confiante Temer, diante de todo o seu ministério.
ESTAVA INDO BEM – O governo já conseguira, em dezembro de 2016, aprovar a PEC do teto dos gastos públicos. Mostrou força. Na Câmara, a proposta teve 359 votos a favor. Apenas 116 deputados foram contra. No Senado, a PEC obteve 53 votos; somente 16 votos contrários. A inflação vinha caindo. Assim como os juros.
E o xeque-mate parecia muito perto de acontecer: a reforma da Previdência, a reforma das reformas, estava prevista para ser votada em junho. O texto original até poderia ser um pouco atenuado, mas ninguém, nem a oposição, duvidava da força de Temer no Congresso para aprová-lo.
O governo, portanto, havia de fato conseguido impor uma agenda econômica reformista. As ruas não lhe sorriam, mas Temer era o senhor do Congresso. Ainda no discurso do dia 12 de maio do ano passado, deu-se ao direito de fazer uma previsão: “Estou seguro de que ao completar nosso segundo ano de governo, teremos um país reestruturado e muito mais feliz”.
NO SUBSOLO DO JABURU – Só que o Temer dessa previsão, o presidente que dominava o Congresso, foi a mesma pessoa que recebeu Joesley Batista para uma complicada conversa a dois na noite de 7 de março no Palácio do Jaburu. O diálogo veio a público, e Michel Temer passou a viver em função de três objetivos: não cair, não cair e ainda não cair. Esta tornou-se a pauta prioritária do governo. O resto era acessório.
Especialista na arte de conhecer os desejos de um parlamentar, o presidente negociou tudo o que podia. Sobreviveu às duas denúncias do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Venceu a parada no Congresso. Permaneceu na cadeira de presidente. Uma vitória, sem dúvida. Mas nada muda o fato de que o seu governo desde a noite de 17 de maio de 2017 virou um zumbi.

18 de maio de 2018
Lauro Jardim
O Globo

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