Rombo orçamentário e pleito imprevisível acentuam temores que podem dificultar a recuperação do país
Nem sempre a alta do dólar e outros movimentos dos mercados podem ser atribuídos com precisão a este ou aquele motivo, em particular do campo político. Em ano eleitoral, contudo, tais associações se tornam quase inevitáveis.
É fato que a moeda americana se valoriza em grande parte do mundo, devido à perspectiva de crescimento econômico e de alta de juros nos EUA. Essa tendência se manifesta de modos variáveis entre os países, a depender das fragilidades e incertezas locais.
Na Argentina, mais dependente de capital estrangeiro, os efeitos se mostraram dramáticos. No Brasil, ainda que em grau menor, também se observa nervosismo dos investidores —e as dúvidas suscitadas pelo pleito presidencial são explicações recorrentes.
Já se cogita que tais inquietações tenham consequências além da mera especulação financeira. Na sexta-feira (11), um documento do Fundo Monetário Internacional afirmou que um risco-chave para a recuperação da economia do país é a possibilidade de mudança da agenda reformista após a eleição.
Para Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e presidenciável de chances até aqui obscuras, os efeitos negativos já se dão agora: temores relacionados à disputa pelo Planalto estariam inibindo os investimentos privados e desacelerando a retomada.
Desconte-se o óbvio viés dessa tese, ao mesmo tempo desculpa conveniente para os resultados decepcionantes deste ano e ensaio de discurso de campanha. É inegável, de todo modo, que existem motivos de sobra para angústias.
Estes não se limitam à imprevisibilidade da eleição e aos diferentes defeitos dos principais postulantes.
A fragmentação inédita do quadro partidário nacional prenuncia um cenário inóspito para o próximo governo —ainda mais porque parece improvável que o presidente vá assumir o posto embalado por uma votação consagradora.
À sua espera haverá o enorme rombo orçamentário a exigir decisões imediatas. Levar adiante ou não o teto do gasto federal e a reforma da Previdência, definir a política para o salário mínimo: todas as opções implicam custos elevados.
Não surpreende, pois, que os pré-candidatos mais importantes tratem de cercar-se de economistas de boa reputação ou, ao menos, de mostrar disposição, real ou imaginária, para ajustes e negociações.
Quem pretende herdar um país governável precisa administrar as expectativas —dos mercados, de eleitores, da política— desde já.
19 de maio de 2018
Editorial Foilha de SP
Nem sempre a alta do dólar e outros movimentos dos mercados podem ser atribuídos com precisão a este ou aquele motivo, em particular do campo político. Em ano eleitoral, contudo, tais associações se tornam quase inevitáveis.
É fato que a moeda americana se valoriza em grande parte do mundo, devido à perspectiva de crescimento econômico e de alta de juros nos EUA. Essa tendência se manifesta de modos variáveis entre os países, a depender das fragilidades e incertezas locais.
Na Argentina, mais dependente de capital estrangeiro, os efeitos se mostraram dramáticos. No Brasil, ainda que em grau menor, também se observa nervosismo dos investidores —e as dúvidas suscitadas pelo pleito presidencial são explicações recorrentes.
Já se cogita que tais inquietações tenham consequências além da mera especulação financeira. Na sexta-feira (11), um documento do Fundo Monetário Internacional afirmou que um risco-chave para a recuperação da economia do país é a possibilidade de mudança da agenda reformista após a eleição.
Para Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e presidenciável de chances até aqui obscuras, os efeitos negativos já se dão agora: temores relacionados à disputa pelo Planalto estariam inibindo os investimentos privados e desacelerando a retomada.
Desconte-se o óbvio viés dessa tese, ao mesmo tempo desculpa conveniente para os resultados decepcionantes deste ano e ensaio de discurso de campanha. É inegável, de todo modo, que existem motivos de sobra para angústias.
Estes não se limitam à imprevisibilidade da eleição e aos diferentes defeitos dos principais postulantes.
A fragmentação inédita do quadro partidário nacional prenuncia um cenário inóspito para o próximo governo —ainda mais porque parece improvável que o presidente vá assumir o posto embalado por uma votação consagradora.
À sua espera haverá o enorme rombo orçamentário a exigir decisões imediatas. Levar adiante ou não o teto do gasto federal e a reforma da Previdência, definir a política para o salário mínimo: todas as opções implicam custos elevados.
Não surpreende, pois, que os pré-candidatos mais importantes tratem de cercar-se de economistas de boa reputação ou, ao menos, de mostrar disposição, real ou imaginária, para ajustes e negociações.
Quem pretende herdar um país governável precisa administrar as expectativas —dos mercados, de eleitores, da política— desde já.
19 de maio de 2018
Editorial Foilha de SP
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