"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 15 de março de 2017

LULA DEPÕE, NÃO SABIA DE NADA E NÃO SABE NEM MESMO QUAL É A SUA RENDA MENSAL




PMs reforçaram a segurança no prédio da Justiça Federal para depoimento de Lula
PM fechou a rua de acesso e cercou a Justiça Federal
Em depoimento que durou cerca de 50 minutos durante audiência na 10ª Vara Federal, em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) afirmou na manhã nesta terça-feira (14) que sofre um massacre e que as acusações contra ele são falsas. Neste processo, Lula é réu junto com outras seis pessoas acusadas de tentarem impedir o acordo delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras, no âmbito da Operação Lava Jato. O acordo de colaboração foi posteriormente firmado por Cerveró.
“Há mais ou menos três anos tenho sido vítima, eu diria, de um massacre”, disse. “Todo dia, no café da manhã, no almoço, na janta, alguém insinuando: ‘Tal delator vai prestar depoimento e vai delatar o Lula'”, afirmou o ex-presidente. “Eu não sou contra a Lava Jato. Sou contra execrar as pessoas pela imprensa”.
INDICADO PELO PMDB – Lula disse ainda que não tinha relação com Cerveró e que não temia a delação do ex-diretor da Petrobras. “Sobre o Cerveró, eu não o conhecia. Só agora ele ficou famoso. Eu só o vi em reuniões. Portanto, não tinha nenhum interesse de indicá-lo [para a Petrobras].”
O ex-presidente afirmou que Cerveró foi uma indicação do PMDB à diretoria da estatal. “Eu não definia cargos na Petrobras. O presidente não indica, só recomenda ao conselho da empresa a partir da capacidade técnica das pessoas”, disse.
NA CONDIÇÃO DE RÉU – Esta é a primeira vez que um juiz ouve Lula na condição de réu em processo aberto desde o início da Lava Jato, em março de 2014. Além desse caso, ele é réu em mais duas ações penais na 10ª vara de Brasília e em outras duas em Curitiba (PR), na vara do juiz federal Sérgio Moro.
Além de Lula, o ex-senador Delcídio do Amaral também é réu na mesma ação. “O depoimento de Cerveró era um problema para Delcídio e não para mim”, afirmou o ex-presidente. “Só tem um brasileiro que pode ter medo de uma delação do Cerveró. Era o Delcídio. Ele sim era próximo dele. Eu nunca fui próximo do Cerveró”, disse Lula.
Ainda senador, Delcídio Amaral foi preso em novembro de 2015 acusado de tramar a fuga de Cerveró do Brasil. Ele também firmou acordo de delação premiada. “Depois de presos há alguns dias, as pessoas começam a procurar um jeito de sair da cadeia. Acho que isso que aconteceu com o Delcídio”, declarou o ex-presidente.
RELAÇÃO COM BUMLAI – Em sua delação, Delcídio disse que Lula manifestou “grande preocupação com a situação de José Carlos Bumlai em relação às investigações da Lava Jato”, pois temia que o fazendeiro fosse preso “em razão das colaborações premiadas que estavam vindo à tona”, em especial a de Cerveró e a do lobista Fernando Baiano. Um dos pontos investigados pela Lava Jato é um empréstimo tomado por Bumlai com o banco Schain que teria sido destinado ao PT.
Em seu depoimento hoje, Lula afirmou que nunca discutiu negócios com o pecuarista Bumlai, de quem é amigo pessoal. “Bumlai sabe que a relação que ele tinha comigo não permitia que ele discutisse qualquer negócio, porque não levo para casa ninguém pra discutir negócio. Negócio eu discutia no Palácio [do Planalto]”, disse Lula.
Ao ser perguntado sobre se seu nome teria sido usado na negociação do empréstimo, Lula disse não ter conhecimento e que apenas Bumlai e os representantes do Schain poderiam confirmar a informação. “Se o senhor soubesse quanta gente usa meu nome em vão”, disse o ex-presidente.
RENDA MENSAL? – No começo da audiência, respondendo perguntas-padrão do juiz federal substituto Ricardo Augusto Soares Leite, que proibiu fotografar ou filmar o réu, Lula disse ter renda mensal de pelo menos R$ 30 mil — R$ 6.000 de aposentadoria pela anistia e R$ 26 mil ou 30 mil das empresas de palestras–, mas declarou ter dúvida sobre os valores exatos.
Um grupo de cerca de 50 manifestantes aguardou do lado de fora do prédio da Justiça Federal de Brasília o término do depoimento. Durante a saída do carro com Lula, o grupo entoou o coro de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”. Antes, durante a audiência, foram ouvidos gritos de “Fora, Temer” e “Olê, olê, olá, Lula, Lula”. Deputados federais do PT também acompanharam a audiência.
COMBATE À CORRUPÇÃO – Na audiência, Lula também afirmou que nenhum outro governo fez tanto pelo combate à corrupção quanto as gestões do PT na Presidência da República e que não há políticos ou empresários que possam apontar nenhum ato ilegal praticado por ele.
“Duvido que tenha um empresário ou político que tenha coragem de dizer que um dia me deu 10 reais, ou que um dia Lula pediu 5 centavos pra ele”, disse. “Se tem um brasileiro nesse momento que quer a verdade nesse país, sou eu”, afirmou o ex-presidente.
Na reta final do depoimento, demonstrando emoção na voz, Lula disse ter interesse em esclarecer as denúncias contra ele para provar sua inocência. “O senhor está diante de um homem que está disposto a prestar tantos quantos depoimentos forem necessários”, disse. “Eu quero defender minha honra, que é valor mais importante que eu tenho”, afirmou.
PROCESSO NO FINAL – Lula foi o último réu a depor no processo, o que indica que a ação já está em sua fase final de julgamento.
Após o depoimento do ex-presidente, o juiz Ricardo Leite deu um prazo de cinco dias para que os advogados dos réus e também o Ministério Público Federal indiquem se querem solicitar mais alguma diligência, como a apresentação de novas provas ou depoimentos.
Depois dessa etapa, a próxima fase da ação é a apresentação de alegações finais pela acusação e pela defesa. Em seguida, o juiz emite sua decisão de julgamento, podendo condenar ou absolver os réus. Não há prazo para que a sentença seja proferida.
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PS –
 Com o fechamento da rua e o cerco da PM à sede da Justiça Federal, anunciado ontem, o PT desistiu da manifestação a favor de Lula. Quanto ao depoimento do ex-presidente, ele não mudou o estilo. Não sabe de nada, nunca viu nada, não fez nada. Não sabe nem quanto ganha. Acha que recebe R$ 26 mil ou R$ 30 mil de sua empresa de consultoria, que há anos não fatura nada, pois Lula não simula mais fazer “palestras” e ninguém o contrata para dar “consultoria”. Trata-se de um bem-sucedido brasileiro das “zelites”, que nem sabe quanto ganha. Como dizia Vinicius de Moraes, que maravilha viver. (C.N.)

15 de março de 2017
Felipe Amorim
Do UOL, em Brasília

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