Tenho observado que o clamor popular não surge de um sentimento genuíno, mas de algo sugerido por terceiros. Vejo, também, que o julgamento moral das pessoas é nublado por filtros culturais ou ideológicos, conforme os interesses em jogo. Ninguém se escandaliza se uma cidade inteira morrer e o fato não for veiculado em horário nobre de televisão.
Considera-se normal o fato de as pessoas se matarem todos os dias nas ruas do Brasil, mas ganha ares de escândalo internacional a matança de bandidos perigosos e violentos nas cadeias de Manaus, porque exibida à exaustão. O fato exige mobilização das autoridades e a população se sente amedrontada, mas esses espasmos sentidos por todos são uma mistura de fingimento e sugestão.Fingimento de quem diz que vai fazer e acontecer, quando já sabia do problema e deixou para lá, e sugestão de quem só se espanta com o barulho anunciado, como ocorre com os perus.
Quando um bandido comete um crime pavoroso, para usar a famosa expressão do presidente Michel Temer, todo um aparato se volta para amparar o indivíduo indefeso e traumatizado pelas injustiças sociais. O próprio bandido finge estar convencido de que é uma vítima da sociedade, mas no fundo ele sabe que age por opção, movido por preguiça, ganância, inveja, despeito e ressentimento. No momento em que um policial comete um delito, ninguém pergunta se ele está passando por algum trauma, se tem um distúrbio psicológico ou se sente esmagado pelo sistema.
Num episódio recente, em que uma uma criança foi baleada por um agente de custódia, que já havia sido demitido da Polícia Civil por tentativa de fraude em aposentadoria e readmitido por decreto do ex-governador Agnelo Queiroz, no último dia de governo, só faltaram perguntar se era costume dos policiais civis do DF saírem atirando a esmo nas pessoas.
O julgamento moral, filtrado, transforma os mesmos seres em coitados ou imbecis, quando, na verdade, são apenas criminosos.
14 de janeiro de 2017
Miguel Lucena é delegado da Polícia Civil do Distrito Federal e jornalista.
Considera-se normal o fato de as pessoas se matarem todos os dias nas ruas do Brasil, mas ganha ares de escândalo internacional a matança de bandidos perigosos e violentos nas cadeias de Manaus, porque exibida à exaustão. O fato exige mobilização das autoridades e a população se sente amedrontada, mas esses espasmos sentidos por todos são uma mistura de fingimento e sugestão.Fingimento de quem diz que vai fazer e acontecer, quando já sabia do problema e deixou para lá, e sugestão de quem só se espanta com o barulho anunciado, como ocorre com os perus.
Quando um bandido comete um crime pavoroso, para usar a famosa expressão do presidente Michel Temer, todo um aparato se volta para amparar o indivíduo indefeso e traumatizado pelas injustiças sociais. O próprio bandido finge estar convencido de que é uma vítima da sociedade, mas no fundo ele sabe que age por opção, movido por preguiça, ganância, inveja, despeito e ressentimento. No momento em que um policial comete um delito, ninguém pergunta se ele está passando por algum trauma, se tem um distúrbio psicológico ou se sente esmagado pelo sistema.
Num episódio recente, em que uma uma criança foi baleada por um agente de custódia, que já havia sido demitido da Polícia Civil por tentativa de fraude em aposentadoria e readmitido por decreto do ex-governador Agnelo Queiroz, no último dia de governo, só faltaram perguntar se era costume dos policiais civis do DF saírem atirando a esmo nas pessoas.
O julgamento moral, filtrado, transforma os mesmos seres em coitados ou imbecis, quando, na verdade, são apenas criminosos.
14 de janeiro de 2017
Miguel Lucena é delegado da Polícia Civil do Distrito Federal e jornalista.
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