"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de janeiro de 2017

A GUERRA DOS RESSENTIDOS

Há uma criminalidade diferente nas ruas do Distrito Federal – como, de resto, em todo o país – e nenhuma política de segurança terá êxito se o fenômeno não for analisado da forma como merece.

O balanço da criminalidade, feito pela Secretaria de Segurança Pública, debruçou-se sobre os dados gerais referentes a homicídios, mostrando que o DF atingiu o menor índice nesse quesito nos últimos 23 anos: foram 19,7 homicídios em 2016 a cada 100 mil habitantes, contra 24,3 de 2014 e 21,2 de 2015. A taxa média do Brasil é de 29,5 por 100 mil.

Houve também uma queda em dezembro de 2016 comparado com o mesmo mês de 2015: 48 homicídios contra 68.

O dado não revelado é que 90% dos homicídios são decorrentes de acertos de contas entre bandidos, cujo mundo parece correr em paralelo ao restante da sociedade.

Dos 48 homicídios registrados em dezembro de 2016, somente quatro não tiveram criminosos como vítimas.

Esses delinquentes, geralmente jovens de 15 a 29 anos, travam uma guerra particular entre si e têm o mesmo perfil: famílias desestruturadas, semi-analfabetos, ignorantes, invejosos, gananciosos e ressentidos.

A maioria não suporta responsabilidades e considera um fardo os anos de estudo, abandonando a escola para fazer coisa “melhor”, na ótica deles: usar droga, transar, fazer filho para ser criado por outros, traficar e roubar de quem trabalha.

São pobres atacando pobres, os que querem boa vida sem fazer nada e os tolos que se acordam de madrugada e saem todo dia para ganhar o pão. A pobreza, portanto, não pode servir de desculpa, embora a miséria moral seja o fio condutor de toda desgraça.

São jovens arrogantes, tratam mal os professores, batem nos pais e violentam meninas da família.

Olham de soslaio, vivem desconfiados e não respeitam nenhuma autoridade.

Dizem que as vítimas levam tiros porque são muito apegadas a bens, como telefone celular, como se a pessoa fosse obrigada a se despojar de seus pertences para satisfazer os desejos dos gatunos.

Para as assistentes sociais, a quem engabelam com maestria, dizem que querem se regenerar, ser algo na vida, mas se contradizem quando lhes é indicado um emprego de balconista: “Pô, tia, aí você quer me lascar!”.

Creio que o sucesso para reduzir os crimes violentos é centrar nesses grupos específicos, desmantelando-os por meio de investigações qualificadas, e desenvolver políticas verdadeiras – e não pirotecnias para enganar o povo e desviar dinheiro público - para tentar evitar que os pequeninos acabem engrossando esse exército que começa a ficar sem controle.


14 de janeiro de 2017
Miguel Lucena é delegado da Polícia Civil do Distrito Federal e jornalista

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