Reportagem de Simone Iglesias, Maria Lima, Evandro Éboli e Eduardo Barreto, edição de sexta-feira de O Globo, revela que, depois de escolher Antonio Imbassahy para Secretário de Governo, no lugar de Geddel Vieira, o presidente Michel Temer mais uma vez teve que recuar e adiar a nomeação, em consequência de forte movimento contrário, vindo, é claro, do PMDB, mas disfarçado como impulso movido pelo Centrão, que apoia o governo. Incrível. A escolha de Imbassahy fora inclusive articulada conjuntamente com o senador Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique.
Com mais esse triste episódio, Michel Temer, como digo no título, tornou-se recordista absoluto em matéria de recuos políticos. Dificilmente poderá ser ultrapassado na história do Brasil. Revela não se sentir seguro no cargo de presidente da República. Para decidir as questões inerentes ao poder, vale acentuar, precisa ter a seu lado, como no caso Renan Calheiros e o STF, os ex-presidentes José Sarney e o mesmo FHC. A distância entre as duas situações foi de apenas dois dias.
No caso da Secretaria de Governo, a vacilação registrada, seguida por um falso adiamento, é ainda mais grave no sentido da fragilidade demonstrada. Isso porque a Secretaria de Governo tem a seu cargo a coordenação política do Executivo. Trata-se, assim, da escolha pessoal do próprio presidente da república. Tão pessoal quanto a nomeação do chefe da Casa Civil. Cargos de estrita confiança.
VULNERABILIDADE – No momento em que Michel Temer recua e resolve compartilhar uma opção unicamente sua, tacitamente confessa ao mesmo tempo sua fragilidade e vulnerabilidade.
Falta-lhe vocação para chefe do Executivo. Estaria melhor nas ações de bastidores. Gosta de encaminhar a tomada de decisões, não de com elas se comprometer diretamente. Em seis meses de governo, nomeou e teve que substituir seis ministros. Antonio Imbassahy tornou-se o sétimo da série, com a diferença de que repetiu o personagem de Dias Gomes, que foi sem nunca ter sido.
O senador Romero Jucá foi brevemente ministro do Planalto. Envolvido pela Operação Lava-Jato, sentiu-e na obrigação de pedir para ser exonerado. Apesar disso, é HOJE o líder do governo no Senado, função que desempenhou nos governos de FHC, Lula, Dilma, até atingir a escala Michel Temer. Mas esta é outra questão.
E ARMÍNIO FRAGA? – Ia esquecendo a cogitação de Armínio Fraga para o Planejamento, no lugar de Dyogo de Oliveira. Nesse momento da ópera, entrou no palco Henrique Meirelles e vetou a substituição desenhada por Aécio Neves.
Qual será o próximo recorde a ser quebrado? Caberá a tarefa ao atual presidente da República, que poderá partir em busca de superar as suas próprias marcas políticas. Porém jamais poderá ser igualado no conjunto de avanços e recuos.
Veja-se por exemplo, a reforma da Previdência. Um artigo incluindo as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiro desapareceu no texto original. Provavelmente a culpa foi do redator, não do Palácio do Planalto.
E assim caminha o governo, enquanto a população perde a esperança de o país poder sair de uma crise de várias origens e de diversas faces.
10 de dezembro de 2016
Pedro Coutto
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