A esperada recuperação da economia após o impeachment de Dilma ainda não começou a acontecer e, pelo visto, os efeitos desta crise afetam as projeções para este ano e também para o próximo. Observamos que a economia não está produzindo boas notícias no volume e necessidade para resolver os problemas e também a política sequer vem ajudando a economia.
Lembro-me de dois tipos possíveis de recuperação econômica. Uma é a retomada ocupando a capacidade ociosa. A recessão aumenta naturalmente a capacidade ociosa, as empresas têm a capacidade de produzir mais, porém produzem bem menos. Portanto, abre-se um espaço a ser ocupado. Isso pode ser considerado uma recuperação. A outra é a recuperação da economia quando ela ocupa a capacidade ociosa e vai mais além, com aumento da capacidade de produção por novos investimentos. Esta é a forma mais saudável de recuperação. Para mim, ainda está difícil visualizar no horizonte brasileiro esta recuperação através do crescimento de investimento.
O Produto Interno Bruto (PIB) encerrou o terceiro trimestre do ano com queda de 0,8% em relação ao trimestre anterior. Com isso, o país registra o sétimo trimestre seguido de retração da economia. Já no resultado acumulado do ano até setembro, o PIB apresentou recuo de 4% em relação à igual período de 2015, maior queda para este período desde o início da série em 1996.
Diante desses resultados apresentados recentemente, um dos colaboradores bem próximo ao presidente Temer não deixou escapar a oportunidade e disparou sem piedade: “a equipe dos sonhos não está conseguindo entregar os sonhos da equipe”. Como conseqüência, abre-se um grande precedente para que alguns membros da cúpula governamental possam criticar outros setores estratégicos, agravando a turbulência na área política, distanciando o mercado da expectativa de melhoria da economia, aumentando as incertezas e dificultando a permanência do Ministro da Fazenda à frente da sua pasta.
Como vemos, o cenário econômico continua ainda desfavorável, abafando o otimismo que norteou os primeiros meses deste governo que pretendia recolocar rapidamente o país na trilha da sua recuperação econômica. Após a finalização do processo de impeachment da ex-presidente, economistas e empresários passaram a imaginar um percurso num “mar de rosas” por onde a economia brasileira deveria navegar. Em junho passado, no auge da euforia com a mudança do governo, o cenário estabelecido ensejava que o pior da “tempestade perfeita” já tinha sido parcialmente dissipado e com a transição política já plenamente realizada, seria o bastante para iniciar a revitalização econômica.
As bases dessa exaltação foram apoiadas em projeções que sinalizavam inflação declinante e, da mesma forma, da taxa básica de juros, o que favorecia estímulos à demanda agregada em nossa economia. Esse processo conduziria a um discreto crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no final deste exercício, com possibilidades de ser mais robusto no próximo ano.
Em outro momento histórico que faz parte do nosso passado, precisamente no início da década de 90, ocorreu uma situação similar a essa que estamos revivendo. O delírio de otimismo aconteceu quando o ex-presidente Collor teve que abandonar o Palácio do Planalto pela porta do fundo ao final de um processo de impeachment, assumindo a vaga o seu vice, Itamar Franco (morto há cinco anos). Devido ao caos econômico que experimentamos diante das feridas abertas pelo Plano Collor na economia e por causa da corrupção desenfreada naquela ocasião, a atmosfera política tornou-se insustentável para a permanência do ex-presidente alagoano no comando do País.
Com a chegada de Itamar à presidência, o ambiente encheu-se de expectativas extremamente positivas quanto ao futuro da Nação, apesar de que entre os brasileiros daquela época poucos conheciam a figura deste típico mineiro de forte personalidade, com seu “topete” imponente,desembarcando repentinamente no poder, envolto a bons propósitos.
Essa onda de otimismo se traduziu em êxtase em relação à economia brasileira apenas por um breve período.Passados alguns meses, a sociedade sentia que os problemas econômicos ainda prosseguiam diante de uma inflação incontrolável. A grave situação econômica reinante naquele período corroeu rapidamente o otimismo que chegou a fervilhar durante os primeiros dias da renúncia de Collor. Somente o advento do Plano Real, divulgado ao final de 1993, trouxe alguma esperança ao povo brasileiro.
A mecânica do otimismo sem maiores fundamentos pode ser ajustada para a realidade atual. Não tenho dúvida de que boa parte da sociedade brasileira já começou a perceber que as grandes questões econômicas herdadas dos períodos petistas ainda perduram, apesar de que a qualidade da equipe e da gestão da política econômica do governo Temer seja inegavelmente superior aos dois últimos desgovernos da seita petista. Esta equipe vem demonstrando enfrentar dificuldades na execução do modelo econômico que foi escolhido,sem conseguir amenizar os malversação dos recursos públicos diante de inúmeras e graves distorções relativas ao descaso dos últimos anos e aos erros que foram gerados na economia brasileira.
Desse modo, fica comprovado que a recuperação da atividade econômica brasileira poderá ser mais demorada e gradual que a antecipada previamente, estando ainda distante de uma realidade equilibrada, devido ao desemprego crescente, ao setor industrial que patina e ao consumo paralisado. Isso demonstra que faltam ao governo Temer, neste momento, instrumentos eficientes para impulsionar a demanda agregada; uma política expansionista fica impedida pelo ajuste fiscal em curso enquanto que a política monetária trava uma luta contínua para baixar a inflação.
Igualmente, ainda encontra-se impetuoso o ritmo que provoca a alta dos preços, impondo-os a se situarem num elevado patamar inflacionário. Muitos previam que o grau de recessão predominante propiciasse uma queda mais rápida da inflação o que, lamentavelmente, não vem coincidindo. Diante disso, a taxa de juros vem caindo lentamente e corre um sério risco de ter seu ciclo de queda interrompido se, por acaso, aparecerem imprevistos inflacionários nos primórdios de 2017. Isso revela que o estímulo monetário, através da redução da taxa de juros, será prolongado e, conseqüentemente, poderá inibir um potencial aumento da demanda agregada através deste virtuoso canal.
Paralelamente, sabemos que a resolução dos nossos principais problemas estruturais depende exclusivamente da aprovação deles no Congresso, que vem atuando com aparente morosidade. Presenciamos um bom começo e o avanço da PEC 241/55, mas ela, a meu ver, isoladamente, não é suficiente para gerar credibilidade, reduzir a inflação nem tampouco impulsionar o crescimento econômico. Com relação à reforma da Previdência, além de ser talvez a mais importante delas, mas, com certeza, a mais polêmica, precisa ter um tratamento diferenciado com relação à celeridade da sua tramitação.
O presente déficit público continua clamando pela urgência do seu equilíbrio, já que recomeça a influenciar negativamente a expectativa dos agentes econômicos. É importante acentuar que o problema fiscal é crescente em outras esferas do poder público e faz tempo que vem agonizando com a vigorosa queda da arrecadação em função da forte recessão instalada.
Fica assim evidente que a totalidade desses elementos insinua que o desfecho para os problemas que devastam a economia brasileira ainda deverá demorar a ser alcançado. Essa verdade tem se colocado de forma implacável sobre aqueles que se mostraram há meses atrás excessivamente otimistas. Pelo menos, nisso tudo, o direcionamento da política econômica é bem melhor que a anterior, mas a colheita dos frutos, na presente conjuntura, só consigo enxergar mais adiante.
09 de dezembro de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
Lembro-me de dois tipos possíveis de recuperação econômica. Uma é a retomada ocupando a capacidade ociosa. A recessão aumenta naturalmente a capacidade ociosa, as empresas têm a capacidade de produzir mais, porém produzem bem menos. Portanto, abre-se um espaço a ser ocupado. Isso pode ser considerado uma recuperação. A outra é a recuperação da economia quando ela ocupa a capacidade ociosa e vai mais além, com aumento da capacidade de produção por novos investimentos. Esta é a forma mais saudável de recuperação. Para mim, ainda está difícil visualizar no horizonte brasileiro esta recuperação através do crescimento de investimento.
O Produto Interno Bruto (PIB) encerrou o terceiro trimestre do ano com queda de 0,8% em relação ao trimestre anterior. Com isso, o país registra o sétimo trimestre seguido de retração da economia. Já no resultado acumulado do ano até setembro, o PIB apresentou recuo de 4% em relação à igual período de 2015, maior queda para este período desde o início da série em 1996.
Diante desses resultados apresentados recentemente, um dos colaboradores bem próximo ao presidente Temer não deixou escapar a oportunidade e disparou sem piedade: “a equipe dos sonhos não está conseguindo entregar os sonhos da equipe”. Como conseqüência, abre-se um grande precedente para que alguns membros da cúpula governamental possam criticar outros setores estratégicos, agravando a turbulência na área política, distanciando o mercado da expectativa de melhoria da economia, aumentando as incertezas e dificultando a permanência do Ministro da Fazenda à frente da sua pasta.
Como vemos, o cenário econômico continua ainda desfavorável, abafando o otimismo que norteou os primeiros meses deste governo que pretendia recolocar rapidamente o país na trilha da sua recuperação econômica. Após a finalização do processo de impeachment da ex-presidente, economistas e empresários passaram a imaginar um percurso num “mar de rosas” por onde a economia brasileira deveria navegar. Em junho passado, no auge da euforia com a mudança do governo, o cenário estabelecido ensejava que o pior da “tempestade perfeita” já tinha sido parcialmente dissipado e com a transição política já plenamente realizada, seria o bastante para iniciar a revitalização econômica.
As bases dessa exaltação foram apoiadas em projeções que sinalizavam inflação declinante e, da mesma forma, da taxa básica de juros, o que favorecia estímulos à demanda agregada em nossa economia. Esse processo conduziria a um discreto crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no final deste exercício, com possibilidades de ser mais robusto no próximo ano.
Em outro momento histórico que faz parte do nosso passado, precisamente no início da década de 90, ocorreu uma situação similar a essa que estamos revivendo. O delírio de otimismo aconteceu quando o ex-presidente Collor teve que abandonar o Palácio do Planalto pela porta do fundo ao final de um processo de impeachment, assumindo a vaga o seu vice, Itamar Franco (morto há cinco anos). Devido ao caos econômico que experimentamos diante das feridas abertas pelo Plano Collor na economia e por causa da corrupção desenfreada naquela ocasião, a atmosfera política tornou-se insustentável para a permanência do ex-presidente alagoano no comando do País.
Com a chegada de Itamar à presidência, o ambiente encheu-se de expectativas extremamente positivas quanto ao futuro da Nação, apesar de que entre os brasileiros daquela época poucos conheciam a figura deste típico mineiro de forte personalidade, com seu “topete” imponente,desembarcando repentinamente no poder, envolto a bons propósitos.
Essa onda de otimismo se traduziu em êxtase em relação à economia brasileira apenas por um breve período.Passados alguns meses, a sociedade sentia que os problemas econômicos ainda prosseguiam diante de uma inflação incontrolável. A grave situação econômica reinante naquele período corroeu rapidamente o otimismo que chegou a fervilhar durante os primeiros dias da renúncia de Collor. Somente o advento do Plano Real, divulgado ao final de 1993, trouxe alguma esperança ao povo brasileiro.
A mecânica do otimismo sem maiores fundamentos pode ser ajustada para a realidade atual. Não tenho dúvida de que boa parte da sociedade brasileira já começou a perceber que as grandes questões econômicas herdadas dos períodos petistas ainda perduram, apesar de que a qualidade da equipe e da gestão da política econômica do governo Temer seja inegavelmente superior aos dois últimos desgovernos da seita petista. Esta equipe vem demonstrando enfrentar dificuldades na execução do modelo econômico que foi escolhido,sem conseguir amenizar os malversação dos recursos públicos diante de inúmeras e graves distorções relativas ao descaso dos últimos anos e aos erros que foram gerados na economia brasileira.
Desse modo, fica comprovado que a recuperação da atividade econômica brasileira poderá ser mais demorada e gradual que a antecipada previamente, estando ainda distante de uma realidade equilibrada, devido ao desemprego crescente, ao setor industrial que patina e ao consumo paralisado. Isso demonstra que faltam ao governo Temer, neste momento, instrumentos eficientes para impulsionar a demanda agregada; uma política expansionista fica impedida pelo ajuste fiscal em curso enquanto que a política monetária trava uma luta contínua para baixar a inflação.
Igualmente, ainda encontra-se impetuoso o ritmo que provoca a alta dos preços, impondo-os a se situarem num elevado patamar inflacionário. Muitos previam que o grau de recessão predominante propiciasse uma queda mais rápida da inflação o que, lamentavelmente, não vem coincidindo. Diante disso, a taxa de juros vem caindo lentamente e corre um sério risco de ter seu ciclo de queda interrompido se, por acaso, aparecerem imprevistos inflacionários nos primórdios de 2017. Isso revela que o estímulo monetário, através da redução da taxa de juros, será prolongado e, conseqüentemente, poderá inibir um potencial aumento da demanda agregada através deste virtuoso canal.
Paralelamente, sabemos que a resolução dos nossos principais problemas estruturais depende exclusivamente da aprovação deles no Congresso, que vem atuando com aparente morosidade. Presenciamos um bom começo e o avanço da PEC 241/55, mas ela, a meu ver, isoladamente, não é suficiente para gerar credibilidade, reduzir a inflação nem tampouco impulsionar o crescimento econômico. Com relação à reforma da Previdência, além de ser talvez a mais importante delas, mas, com certeza, a mais polêmica, precisa ter um tratamento diferenciado com relação à celeridade da sua tramitação.
O presente déficit público continua clamando pela urgência do seu equilíbrio, já que recomeça a influenciar negativamente a expectativa dos agentes econômicos. É importante acentuar que o problema fiscal é crescente em outras esferas do poder público e faz tempo que vem agonizando com a vigorosa queda da arrecadação em função da forte recessão instalada.
Fica assim evidente que a totalidade desses elementos insinua que o desfecho para os problemas que devastam a economia brasileira ainda deverá demorar a ser alcançado. Essa verdade tem se colocado de forma implacável sobre aqueles que se mostraram há meses atrás excessivamente otimistas. Pelo menos, nisso tudo, o direcionamento da política econômica é bem melhor que a anterior, mas a colheita dos frutos, na presente conjuntura, só consigo enxergar mais adiante.
09 de dezembro de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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