"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

TOM DO DISCURSO DO ITAMARATY COM OS BOLIVARIANOS É ADEQUADO

Em sua última coluna, Elio Gaspari "psicografou" um bilhete do Barão do Rio Branco para o Presidente Michel Temer. 
No bilhete, o Barão advertia para o fato de que, em menos de seis meses, a diplomacia do atual governo havia "encrencado" com cinco países latino-americanos. 
Para Rio Branco, o comportamento mais assertivo do Brasil em relação a esses vizinhos seria contrário aos interesses nacionais, uma vez que, na América do Sul, "precisamos ser um fator de moderação."

O Barão imaginário se referia à recente reação do Itamaraty a comentários de governos que questionaram a legitimidade e a legalidade da presidência de Michel Temer. 

Os termos das respostas da chancelaria brasileira foram considerados fortes para a tradição diplomática do país. 
No entanto —deve-se notar— adotaram tom mais sóbrio e conciliatório que o dos ataques ao Brasil.

Em protesto ao impeachment de Dilma Rousseff e à efetivação de Michel Temer, os governos de Bolívia, Equador e Venezuela resolveram retirar seus embaixadores no Brasil. Em diplomacia, retirar embaixador é um ato muito simbólico. Traduzido para as relações humanas, significaria: "não quero mais papo com você". Considerando-se a densidade histórica das relações do Brasil com seus vizinhos, vê-se que a situação é séria.

Mas criticar publicamente a legitimidade de um governo recém-investido —ainda mais em um país vizinho— também é sério e simbólico. Sobretudo quando a rejeição ao impeachment de Dilma agrega a seu viés ideológico a defesa de benefícios conseguidos junto a um governo outrora generoso com países "ideologicamente amigos".

Nesse contexto, a reação adversa dos governos de Bolívia, Equador e Venezuela representa um ato de autodefesa e frustração, diante do fato de que fontes de financiamento vão começar a minguar, e de que a influência de Caracas, Havana e La Paz sobre o curso da política externa brasileira —tão presente e perceptível no governo Dilma— se encerrou.


Depois de ter visto senadores constrangidos nas ruas de Caracas, ter permitido que sua embaixada funcionasse como cárcere terceirizado para preso político e ter "perdido" refinarias na Bolívia, o Brasil encontra-se em momento de inflexão.

Precisa dar um reboot em suas relações com os bolivarianos. Deve mostrar quem é.


O Rio Branco psicografado acredita que, ao agir com firmeza e assumir discurso combativo, o Brasil correria o risco de se indispor e perder a posição de mediador que sempre teve no continente. 

Mas como não ser combativo quando o que está em questão é a própria legitimidade do governo que se representa, ou, em outras palavras, o exercício da soberania nacional no exterior?

Para os tempos que correm, o Brasil adota o discurso diplomático adequado. Diante das críticas deselegantes e desinformadas por figuras lamentáveis como Nicolás Maduro, como deveria agir o governo brasileiro? Qual teria sido a alternativa ao discurso do Itamaraty? Fingir que não é com a gente?

O Brasil é um país grande. O que nos desautorizaria mais como mediadores? Falar grosso ou não ter voz?



06 de setembro de 2016
Alexandre Vidal Porto, Folha de SP

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