"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

HORA DE EXERCER A AUTORIDADE

Em benefício dos brasileiros sufocados pelo desastre econômico que o populismo lulopetista provocou, ressalve-se que Michel Temer merece o crédito de ter-se cercado de uma competente equipe econômica

De regresso da China, onde deve ter tido a oportunidade de refletir sobre a enorme responsabilidade que lhe pesa sobre os ombros desde que passou a governar livre dos inconvenientes da interinidade, o presidente Michel Temer não poderá mais fugir da escolha que o atormenta: colocar sua autoridade a serviço da recuperação política, econômica e moral do País, tarefa com a qual mais de uma vez se declarou comprometido, ou continuar cedendo aos interesses e conveniências eleitorais de muitos dos que o cercam, principalmente seus correligionários do PMDB.

As perspectivas são preocupantes. O noticiário de ontem já destacava a pressão que se prepara entre seus aliados para convencê-lo a adiar o envio da proposta de reforma da Previdência ao Congresso para depois do segundo turno das eleições municipais. O motivo: esse tema pode prejudicar o desempenho nas urnas dos candidatos do PMDB e aliados. Além de adiar o início da discussão de um dos pontos fundamentais do programa de saneamento das finanças públicas, o que se deseja sugerir a Temer é uma artimanha de natureza eleiçoeira comparável, nos objetivos, ao estelionato eleitoral que Dilma Rousseff cometeu para se reeleger.

Em benefício dos brasileiros sufocados pelo desastre econômico que o populismo lulopetista provocou, ressalve-se que Michel Temer merece o crédito de ter-se cercado de uma competente equipe econômica, cuja atuação começa a produzir sinais, ainda muito tímidos, de recuperação da confiança dos agentes econômicos, fator essencial para a retomada dos investimentos. A reversão da crise, no entanto, depende de medidas rigorosas que contenham eficazmente a desenfreada gastança populista que a provocou. São medidas impopulares e que por isso já estão sendo cinicamente exploradas pela irresponsável oposição lulopetista, que acusa o “governo sem voto” de Temer de estar a serviço dos interesses da elite conservadora.

Se efetivamente acreditam, como afirmam, na necessidade de medidas duras de saneamento das contas públicas e de incentivo à retomada do crescimento econômico, os políticos aliados de Temer, a começar por seus ministros, têm a obrigação de apresentar os argumentos do governo à população, de convencer os brasileiros de que tempos difíceis exigem medidas duras. No caso da Previdência, por exemplo, trata-se de explicar o óbvio: com a progressiva mudança do perfil etário da população, que resulta em crescente aumento de aposentados e pensionistas em relação aos trabalhadores ativos que sustentam financeiramente o sistema, este acumula um déficit que resultará, a médio prazo, na inexistência de dinheiro suficiente para pagar aposentarias e pensões.

É preciso, portanto, que os políticos que hoje estão no governo se preocupem mais com o futuro do País do que com os argumentos que a oposição possa usar na eleição municipal. A oposição está fazendo o seu papel, que naturalmente terá algum reflexo no debate eleitoral, mas seus argumentos só prevalecerão se os governistas não tiverem coragem e competência para contraditá-los. Afinal, acreditam ou não no que dizem que estão fazendo? A desculpa usada por gente ligada a Temer para empurrar com a barriga o envio ao Congresso do projeto de reforma da Previdência e de outras medidas polêmicas revela bem a qualidade de homens públicos que não têm o menor escrúpulo de priorizar seus interesses pessoais e partidários em prejuízo da verdadeira prioridade que o momento impõe: o combate sem trégua à crise. A opinião desses aliados, no entanto, não pode prevalecer num governo que se apresenta como comprometido com a reconstrução das bases para o crescimento e para o bem-estar dos brasileiros.

Michel Temer é um político experiente e hábil e certamente sabe onde pisa. Exerce agora um mandato presidencial legítimo e projeta uma imagem muito distinta do modelo populista com o qual o lulopetismo e seus adeptos seduziram muitos brasileiros. Precisará de coragem para livrar-se dos interesses políticos menores, surpreender os brasileiros que hoje não o admiram e consagrar-se como o presidente da República que devolveu a esperança a seu povo.



06 de setembro de 2016
Editorial Estadão

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