País vive o fim da queda no vácuo da atividade e o início ainda tímido de uma recuperação em V, que ficará claro em 2017
Estamos deixando para trás três acontecimentos políticos relevantes e que têm marcado com tintas fortes este ano de 2016 no Brasil. Dois atores importantes - a ex-presidente Dilma Rousseff e o deputado federal Eduardo Cunha - deixaram de ser protagonistas e entram agora em acelerado processo de perda de poder e influência. Com o passar do tempo a mídia esquecerá deles.
Já o presidente Lula, acusado pelo Ministério Público Federal de ser o chefe da quadrilha do Mensalão e Petrolão, muda também de papel na política brasileira. E vai arrastar neste seu caminhar o PT - por absoluta falta de outra opção - para o limitado espaço político que foi sua origem nas últimas décadas do século passado.
O PT hegemônico - principalmente entre 2007 e 2015 - não existe mais hoje e este fato vai provocar, nos próximos anos, um rearranjo estrutural na política brasileira. A resposta para esta questão só será conhecida a partir das eleições de 2018, mas a maior probabilidade é de chegarmos a uma nova maioria de centro direita nos moldes do período FHC.
Mas se, no âmbito da política, teremos que esperar para olhar com maior grau de certeza para a próxima década, na economia as incertezas são bem menores. Existe hoje uma equipe de governo com ideias claras sobre como administrar o caos herdado do governo Dilma e uma conjuntura econômica que começa a mostrar sinais de recuperação do metabolismo normal das economias de mercado. Com esta nova combinação fica mais fácil ao analista realizar a tarefa ingrata de olhar para frente e propor cenários com algum grau de credibilidade. É o que me proponho a fazer neste encontro mensal com o leitor do Valor.
A primeira questão importante é exatamente minha convicção de que, com a gestão correta da economia, podemos voltar nossa atenção para uma dinâmica de mercado mais estável e usar os ensinamentos que a teoria econômica nos disponibiliza. E o que sabemos hoje é que o Brasil sofre os efeitos da ruptura da bolha de consumo que prevaleceu até o ano de 2012 e que foi mantida artificialmente pelo governo Dilma para ganhar as eleições de 2014. Portanto é preciso buscar os ensinamentos de situações semelhantes que ocorreram em outros países para facilitar nossa tarefa. E felizmente temos na ruptura da bolha americana, entre 2008 e 2014, um banco de dados rico e de clareza meridiana para nos auxiliar.
A experiência americana mostra que temos que estar preparados para viver três momentos distintos na economia: a queda no vácuo da atividade econômica, seguida de uma recuperação em V nos anos seguintes e um período difícil de consolidação da recuperação. No caso brasileiro estamos vivendo o fim do primeiro movimento e o início ainda tímido do segundo, com a recuperação em V ficando mais clara ao longo de 2017.
Para dar uma visão do que deve acontecer mais à frente, faço uso do gráfico que mostra a evolução do índice Bovespa no período 2015 a 2016. No caso da bolha americana, o comportamento das Bolsas como indicador antecedente da recuperação da economia teve um grau de acerto muito grande.
No gráfico anexo temos a evolução dos preços das ações brasileiras a partir do início do segundo mandato de Dilma. Um primeiro movimento veio com a ilusão criada com a nomeação de um novo ministro da Fazenda e que foi seguido pela volta atrás da ex-presidente. Chegamos então ao ápice da crise de confiança quando da perda de grau de investimento pelo Brasil. Com a posse ainda provisória do vice-presidente e a nomeação de nova equipe econômica o mercado iniciou uma recuperação, que ganhou nova força com o impeachment da presidente eleita.
Já temos alguns sinais importantes de que a mudança de direção na gestão da economia está permitindo que a segunda fase do ciclo tradicional da ruptura da bolha de consumo ganhe força entre nós. Tomando o índice de inflação medida pela Fipe no município de São Paulo como referência do comportamento da inflação fica claro que já vivemos o período de desinflação gerado pela queda do consumo e pelo fim do choque de alimentos ocorrido no ano passado.
Este processo deve ganhar força em 2017, permitindo que o Banco Central inicie o tão esperado movimento de redução agressiva de juros. E com isto teremos o começo da recuperação da atividade econômica, elemento fundamental para consolidar a recuperação cíclica que faz parte do metabolismo de situações como a que estamos vivendo. Continuo esperando um crescimento de 2% em 2017 e de 4% em 2018. E estou hoje em boa companhia.
Mas a partir de 2019 a economia converge para o cenário político ainda incerto a que me referi e passará a depender também dos resultados das eleições de 2018. Uma continuidade do crescimento sustentado vai precisar de uma agenda abrangente de reformas no novo ciclo que se abrirá para todos nós brasileiros.
20 de setembro de 2016
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
Valor Econômico
Estamos deixando para trás três acontecimentos políticos relevantes e que têm marcado com tintas fortes este ano de 2016 no Brasil. Dois atores importantes - a ex-presidente Dilma Rousseff e o deputado federal Eduardo Cunha - deixaram de ser protagonistas e entram agora em acelerado processo de perda de poder e influência. Com o passar do tempo a mídia esquecerá deles.
Já o presidente Lula, acusado pelo Ministério Público Federal de ser o chefe da quadrilha do Mensalão e Petrolão, muda também de papel na política brasileira. E vai arrastar neste seu caminhar o PT - por absoluta falta de outra opção - para o limitado espaço político que foi sua origem nas últimas décadas do século passado.
O PT hegemônico - principalmente entre 2007 e 2015 - não existe mais hoje e este fato vai provocar, nos próximos anos, um rearranjo estrutural na política brasileira. A resposta para esta questão só será conhecida a partir das eleições de 2018, mas a maior probabilidade é de chegarmos a uma nova maioria de centro direita nos moldes do período FHC.
Mas se, no âmbito da política, teremos que esperar para olhar com maior grau de certeza para a próxima década, na economia as incertezas são bem menores. Existe hoje uma equipe de governo com ideias claras sobre como administrar o caos herdado do governo Dilma e uma conjuntura econômica que começa a mostrar sinais de recuperação do metabolismo normal das economias de mercado. Com esta nova combinação fica mais fácil ao analista realizar a tarefa ingrata de olhar para frente e propor cenários com algum grau de credibilidade. É o que me proponho a fazer neste encontro mensal com o leitor do Valor.
A primeira questão importante é exatamente minha convicção de que, com a gestão correta da economia, podemos voltar nossa atenção para uma dinâmica de mercado mais estável e usar os ensinamentos que a teoria econômica nos disponibiliza. E o que sabemos hoje é que o Brasil sofre os efeitos da ruptura da bolha de consumo que prevaleceu até o ano de 2012 e que foi mantida artificialmente pelo governo Dilma para ganhar as eleições de 2014. Portanto é preciso buscar os ensinamentos de situações semelhantes que ocorreram em outros países para facilitar nossa tarefa. E felizmente temos na ruptura da bolha americana, entre 2008 e 2014, um banco de dados rico e de clareza meridiana para nos auxiliar.
A experiência americana mostra que temos que estar preparados para viver três momentos distintos na economia: a queda no vácuo da atividade econômica, seguida de uma recuperação em V nos anos seguintes e um período difícil de consolidação da recuperação. No caso brasileiro estamos vivendo o fim do primeiro movimento e o início ainda tímido do segundo, com a recuperação em V ficando mais clara ao longo de 2017.
Para dar uma visão do que deve acontecer mais à frente, faço uso do gráfico que mostra a evolução do índice Bovespa no período 2015 a 2016. No caso da bolha americana, o comportamento das Bolsas como indicador antecedente da recuperação da economia teve um grau de acerto muito grande.
No gráfico anexo temos a evolução dos preços das ações brasileiras a partir do início do segundo mandato de Dilma. Um primeiro movimento veio com a ilusão criada com a nomeação de um novo ministro da Fazenda e que foi seguido pela volta atrás da ex-presidente. Chegamos então ao ápice da crise de confiança quando da perda de grau de investimento pelo Brasil. Com a posse ainda provisória do vice-presidente e a nomeação de nova equipe econômica o mercado iniciou uma recuperação, que ganhou nova força com o impeachment da presidente eleita.
Já temos alguns sinais importantes de que a mudança de direção na gestão da economia está permitindo que a segunda fase do ciclo tradicional da ruptura da bolha de consumo ganhe força entre nós. Tomando o índice de inflação medida pela Fipe no município de São Paulo como referência do comportamento da inflação fica claro que já vivemos o período de desinflação gerado pela queda do consumo e pelo fim do choque de alimentos ocorrido no ano passado.
Este processo deve ganhar força em 2017, permitindo que o Banco Central inicie o tão esperado movimento de redução agressiva de juros. E com isto teremos o começo da recuperação da atividade econômica, elemento fundamental para consolidar a recuperação cíclica que faz parte do metabolismo de situações como a que estamos vivendo. Continuo esperando um crescimento de 2% em 2017 e de 4% em 2018. E estou hoje em boa companhia.
Mas a partir de 2019 a economia converge para o cenário político ainda incerto a que me referi e passará a depender também dos resultados das eleições de 2018. Uma continuidade do crescimento sustentado vai precisar de uma agenda abrangente de reformas no novo ciclo que se abrirá para todos nós brasileiros.
20 de setembro de 2016
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
Valor Econômico
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