"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

DEPUTADOS COBRAM NOME DO AUTOR DA EMENDA QUE ANISTIAVA POLÍTICOS CORRUPTOS


https://s02.video.glbimg.com/x216/3880289.jpg
Aldemar Vigário logo perguntaria: “Quem? Quem? Quem?”

















No dia seguinte à tentativa de votação de uma proposta que na prática anistiava o caixa dois em campanha eleitoral, parlamentares usaram a tribuna da Câmara para criticar a manobra e acusar líderes dos principais partidos de costurar um “jabuti” às escondidas. Eles cobraram a identificação do autor da proposta que seria posta em votação nesta segunda-feira (19) já que até o momento ninguém assumiu a responsabilidade sobre a emenda que seria incluída numa proposta engavetada desde 2007 na Casa. “Ninguém quer ser pai de filho feio”, resumiu o deputado Marcos Rogério (DEM-RO).
ENCENAÇÃO – O deputado Hildo Rocha (PMDB-MA) acusou os líderes dos grandes partidos de enganar os parlamentares e incluir na pauta de votações uma matéria não prevista. “Não vejo a posição de líderes aqui que fizeram toda essa encenação para nos usar”, reclamou. O peemedebista chamou a tentativa de votação de “trama” para anistiar os envolvidos na operação Lava Jato e “atentado contra a moral”. “A sociedade quer saber qual é a digital que está ali”, exigiu.
Na mesma linha de Rocha, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que a proposta incluída na pauta na noite anterior foi construída “debaixo dos panos”. “Isso é indecente e desonesto”, enfatizou. “O episódio de ontem tem de ser repudiado. Não podemos sair dos nossos Estados para votar matérias importantes e sermos surpreendidos com uma verdadeira armação, sem ninguém com hombridade para assumir essa matéria”, emendou Domingos Sávio (PSDB-MG).
EFEITOS DEVASTADORES – Ex-relator do processo de cassação do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Marcos Rogério disse ser favorável à criminalização do caixa dois, mas ponderou que não se pode improvisar uma mudança tão profunda que produza “efeitos devastadores”.
Incomodado com a pressa de se pôr em votação uma proposta que até agora não é conhecida da maioria dos parlamentares, o deputado pregou a votação de um texto que dê segurança jurídica e solucione as lacunas da legislação, mas que não dê anistia geral. “Fizeram uma emenda no porão, às escondidas, e queriam que o plenário aceitasse”, concluiu.
O líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (SP), afirmou que a tentativa de votar um projeto de lei tem a ver com o fato de empresários de grandes empreiteiras estarem negociando delações premiadas no âmbito da operação Lava Jato. “Quem vai acreditar que não se quer livrar a cara de todos? Bem na hora em que as duas maiores empreiteiras do País negociam delação, a OAS e a Odebrecht, e têm uma mega lista de parlamentares implicados, o Congresso vem e quer passar uma borracha geral nisso?”, afirmou.
HOUVE UMA “GRITA” – Segundo Ivan Valente, o projeto só não foi votado na noite de segunda-feira, 19, porque houve “uma grita dos deputados que ainda têm juízo”. “Eu não pensei que pudéssemos chegar a tanto. Nós não tivemos acesso ao relatório. Esse projeto não tem paternidade. Foi gestado tanto por gente do governo quanto da oposição”, disse.
As declarações do líder do PSOL aconteceram durante uma audiência da comissão especial da Câmara que debate o pacote de dez medidas anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal. O tema dominou a discussão do colegiado, que aprovou um requerimento para que o vice-procurador-geral eleitoral Nicolao Dino venha à comissão para falar sobre a criminalização do caixa 2 em campanhas.
DELAÇÕES – A delação de empresários da Odebrecht, incluindo o dono da empreiteira, Marcelo Odebrecht, está na fase final. Em março, uma planilha com a indicação de pagamentos feitos pela Odebrecht a políticos foi encontrada pela força-tarefa da operação Lava Jato. A lista trazia pelo menos 279 nomes ligados a 24 partidos políticos.
A delação da OAS também deve ser retomada após a Procuradoria Geral da República determinar a suspensão das negociações em agosto, depois de informações sobre o acordo vazarem para a imprensa.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Jamais se viu nada igual na História da República. Como imaginar uma proposta sendo votada no Congresso, em regime de “urgência urgentíssima” (a denominação é mesmo essa…), sem que houvesse um autor. Está diretamente implicados o presidente Rodrigo Maia e o deputado Beto Mansur, que presidiu a sessão, na calada da noite. “Mas o fizeram (ou fá-lo-iam)  a mando de quem? Quem? Quem?” – perguntaria na Escolinha do Planalto o personagem Odelmário Vigário, completando a indagação: “Michel Temer, Eliseu Padilha ou Raimundo Nonato?” (C.N.)

20 de setembro de 2016
Deu em O Tempo
Agência Estado

Nenhum comentário:

Postar um comentário