A Operação Marrocos contra o tráfico de drogas na Cracolândia revelou a preocupante ligação de um grupo que se diz defensor de sem-teto - o Movimento Sem-Teto de São Paulo (MSTS) - com o Primeiro Comando da Capital (PCC)
A Operação Marrocos contra o tráfico de drogas na Cracolândia, realizada pela Polícia na sexta-feira passada, revelou a preocupante ligação de um grupo que se diz defensor de sem-teto – o Movimento Sem-Teto de São Paulo (MSTS) –, que age na região, com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Isso mostra que o problema existente ali adquiriu contornos muito graves, com uma estreita relação entre dependentes, lideranças de sem-teto, traficantes e uma das mais perigosas organizações criminosas do País.
Foi uma operação bem planejada e de envergadura, que contou com 600 policiais do Departamento de Narcóticos (Denarc) e o apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM). As investigações que lhe deram base duraram oito meses, tendo sido feitas mais de mil horas de gravação de telefonemas com autorização judicial, nas quais líderes do MSTS aparecem negociando drogas e o dirigente desse grupo clandestino, Robson Nascimento Santos, preso na ocasião, tratando de repasses de dinheiro com o candidato a vereador pelo PCdoB Manolo Wanderley. Ao todo foram presas 32 pessoas e executados 39 mandados judiciais de busca e apreensão.
A ação num de seus principais alvo – o prédio do antigo Cine Marrocos – resume bem o que foi a operação e o seu significado. Moram ali cerca de 300 famílias que invadiram o imóvel insufladas e comandadas pelo MSTS. No 12.º andar foram apreendidas drogas e armas – 1 fuzil AK-47, 3 escopetas, cerca de 100 facões, 15 quilos de crack e 25 quilos de maconha, além de aparelhos de radiocomunicação.
No imóvel vasculhado pela polícia, andar por andar, eram realizadas reuniões de membros do MSTS e do PCC para tratar da divisão do dinheiro do trafico na Cracolândia e decidir o que fazer com traficantes em dívida com a organização. O local se transformara no seu centro de operações na região. Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, diretor do Denarc, o objetivo do MSTS era estruturar ali o PCC: “O MSTS foi criado para disfarçar a organização criminosa”.
Tão importante quanto a prisão dos principais líderes desse movimento – além de Robson Nascimento Santos, a vice-presidente Lindalva Silva e o secretário-geral Wladimir Ribeiro Brito, este em Maceió, onde passava “férias” – é a polícia e os demais órgãos do governo estadual e da Prefeitura tomarem medidas para combater a perigosa promiscuidade de movimentos de sem-teto e o PCC, que pelo visto já comanda o tráfico de drogas na Cracolândia.
Não será tarefa fácil, pelo bom “negócio” que é o tráfico – ele movimenta ali 10 quilos de droga por dia e lucra R$ 4 milhões por mês, segundo estimativa da Polícia – e porque o PCC não para de dar demonstrações da sua força e capacidade de aliciamento e organização. Para isso é indispensável que, de uma vez por todas, as autoridades de segurança pública se convençam de que, por mais importantes que sejam operações como essa que acaba de ser realizada, um combate eficaz ao tráfico exige ação permanente.
A experiência da Cracolândia mostra o alcance limitado das ações isoladas realizadas ali de tempos em tempos. Os traficantes se reorganizam rapidamente e tudo volta a ser como antes. Isso é lamentável, porque o fato de ser uma área relativamente pequena e bem delimitada torna mais fácil o combate ao tráfico ali. Uma circunstância até agora não devidamente explorada.
Esse episódio deixa também evidente a facilidade com que o crime organizado se infiltra em movimentos como o dos sem-teto, a ponto de criar um grupo próprio para atuar em seu favor. Daqui para a frente será importante exercer vigilância constante para evitar que os outros grupos já existentes sejam também contaminados. A insistência desses grupos em difundir a ideia de que é legítima qualquer ação em defesa dos que eles classificam de sem-teto, mesmo as flagrantemente ilegais, como as invasões de prédios e terrenos, só agrava o problema.
09 de agosto de 2016
Editorial Estadão
A Operação Marrocos contra o tráfico de drogas na Cracolândia, realizada pela Polícia na sexta-feira passada, revelou a preocupante ligação de um grupo que se diz defensor de sem-teto – o Movimento Sem-Teto de São Paulo (MSTS) –, que age na região, com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Isso mostra que o problema existente ali adquiriu contornos muito graves, com uma estreita relação entre dependentes, lideranças de sem-teto, traficantes e uma das mais perigosas organizações criminosas do País.
Foi uma operação bem planejada e de envergadura, que contou com 600 policiais do Departamento de Narcóticos (Denarc) e o apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM). As investigações que lhe deram base duraram oito meses, tendo sido feitas mais de mil horas de gravação de telefonemas com autorização judicial, nas quais líderes do MSTS aparecem negociando drogas e o dirigente desse grupo clandestino, Robson Nascimento Santos, preso na ocasião, tratando de repasses de dinheiro com o candidato a vereador pelo PCdoB Manolo Wanderley. Ao todo foram presas 32 pessoas e executados 39 mandados judiciais de busca e apreensão.
A ação num de seus principais alvo – o prédio do antigo Cine Marrocos – resume bem o que foi a operação e o seu significado. Moram ali cerca de 300 famílias que invadiram o imóvel insufladas e comandadas pelo MSTS. No 12.º andar foram apreendidas drogas e armas – 1 fuzil AK-47, 3 escopetas, cerca de 100 facões, 15 quilos de crack e 25 quilos de maconha, além de aparelhos de radiocomunicação.
No imóvel vasculhado pela polícia, andar por andar, eram realizadas reuniões de membros do MSTS e do PCC para tratar da divisão do dinheiro do trafico na Cracolândia e decidir o que fazer com traficantes em dívida com a organização. O local se transformara no seu centro de operações na região. Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, diretor do Denarc, o objetivo do MSTS era estruturar ali o PCC: “O MSTS foi criado para disfarçar a organização criminosa”.
Tão importante quanto a prisão dos principais líderes desse movimento – além de Robson Nascimento Santos, a vice-presidente Lindalva Silva e o secretário-geral Wladimir Ribeiro Brito, este em Maceió, onde passava “férias” – é a polícia e os demais órgãos do governo estadual e da Prefeitura tomarem medidas para combater a perigosa promiscuidade de movimentos de sem-teto e o PCC, que pelo visto já comanda o tráfico de drogas na Cracolândia.
Não será tarefa fácil, pelo bom “negócio” que é o tráfico – ele movimenta ali 10 quilos de droga por dia e lucra R$ 4 milhões por mês, segundo estimativa da Polícia – e porque o PCC não para de dar demonstrações da sua força e capacidade de aliciamento e organização. Para isso é indispensável que, de uma vez por todas, as autoridades de segurança pública se convençam de que, por mais importantes que sejam operações como essa que acaba de ser realizada, um combate eficaz ao tráfico exige ação permanente.
A experiência da Cracolândia mostra o alcance limitado das ações isoladas realizadas ali de tempos em tempos. Os traficantes se reorganizam rapidamente e tudo volta a ser como antes. Isso é lamentável, porque o fato de ser uma área relativamente pequena e bem delimitada torna mais fácil o combate ao tráfico ali. Uma circunstância até agora não devidamente explorada.
Esse episódio deixa também evidente a facilidade com que o crime organizado se infiltra em movimentos como o dos sem-teto, a ponto de criar um grupo próprio para atuar em seu favor. Daqui para a frente será importante exercer vigilância constante para evitar que os outros grupos já existentes sejam também contaminados. A insistência desses grupos em difundir a ideia de que é legítima qualquer ação em defesa dos que eles classificam de sem-teto, mesmo as flagrantemente ilegais, como as invasões de prédios e terrenos, só agrava o problema.
09 de agosto de 2016
Editorial Estadão
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