Ilustração reproduzida do blog Ronaldo Cesar
Analisando-se objetivamente a entrevista do presidente Michel Temer a Claudia Safatle, Andrea Jubé, Bruno Peres e Cesar Felício, no Valor, edição de sexta-feira, pode se verificar que ao contrário do que está colocando na aparência, no fundo da questão ele deixa claro que pode ser mesmo candidato à sua própria sucessão. Ele sabe que o PMDB não possui outro nome mais forte do que o dele para concorrer daqui a dois anos. Aliás, dentro da tese do candidato próprio, postura que ele sempre defendeu, ele é de fato o nome mais forte. Deixou escapar na entrevista uma expressão chave: não quer cometer “estelionato eleitoral”, ou seja, exatamente aquilo que Dilma Rousseff praticou nas eleições de 2014. Disse uma coisa na campanha, adotou a posição oposta no governo.
Mas a frase de Michel Temer se ajusta a um contexto que induz a uma interpretação que traduz seu pensamento. A de que, caso se saia muito bem no seu mandato, poderá disputar o mandato seguinte. Ele não fez diretamente essa conexão, porém repetiu na entrevista ao Valor expressões usadas pelo deputado Rodrigo Maia quando lançou a candidatura. Quer dizer, concordou em princípio com a condicionante colocada pelo presidente da Câmara Federal. Ou seja: admite indiretamente rever a negativa quanto a candidatura, caso haja um bom desempenho de sua administração.
SEM ESTELIONATO – E a frase “não quero cometer estelionato eleitoral” significa positivamente o sinal claro de que não anunciará uma plataforma na campanha para descumpri-la no governo. Acentuou, portanto, que não dirá uma coisa e fará outra. Para o quadro político brasileiro, ele iluminou e condicionou a possibilidade de ser mesmo candidato. Depende de seu êxito ou não à frente do Palácio do Planalto, superado o episódio do afastamento definitivo da hoje quase ex-presidente Dilma Rousseff.
A entrevista de Temer certamente agradará ao PMDB e desagradará ao PSDB. Mas que poderá fazer agora o PSDB? Nada. É parte integrante do governo e não possui outro caminho político a não ser seguir o roteiro realmente imposto pelo presidente da República.
Dos três grandes partidos do país, assim, só resta citar o PT, já que a rede de Marina Silva não possui a estrutura de suporte nacional.
PT E LULA – O PT, no primeiro turno, poderá concorrer com uma candidatura própria, a qual, nesta altura da ópera não deverá ser a de Luiz Inácio Lula da Silva. Pois, é preciso não esquecer que pesa sobre ele ameaça de condenação, que o tornará inelegível. Se não for para a prisão, haverá inevitavelmente o pedido de asilo a uma Embaixada com a qual possua maior identidade ou intimidade. Citei a diferença porque sua mulher, Marisa Letícia, possui por descendência cidadania italiana.
Em política é preciso se interpretar os ideogramas contidos nas frases os quais acolhem os verdadeiros pensamentos e hipóteses. Nenhuma posição política se esgota em si mesma.
Ela abre caminho para desdobramentos que virão depois. Política é assim. Nada que a vida humana desconheça de modo absoluto. As posições variam de momento para momento e os panoramas também.
15 de agosto de 2016
Pedro do Coutto
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