"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

A VITÓRIA DO SOCIALISMO REAL EM ESCALA MUNDIAL!



O texto abaixo é mais um resumo de um dos capítulos do livro “A NOMENKLATURA – Como Vivem as Classes Privilegiadas na União Soviética”, de autoria de MICHAEL S. VOSLENSKY, considerado no Ocidente um dos mais eminentes especialistas em política soviética. Foi professor de História na Universidade de Amizade dos Povos Patrice Lumumba, em Moscou, e membro da Academia de Ciências Sociais junto ao Comitê Central do PCUS. O livro foi editado no Brasil pela Editora Record.

NOMENKLATURA, uma palavra praticamente desconhecida pela maioria dos brasileiros, exceto por alguns especialistas, merece tornar-se tão célebre quanto o termo GULAG. Designa a classe dos novos privilegiados, essa aristocracia vermelha que dispõe de um poder sem precedentes na História, já que ela é o próprio Estado. Atribui a si mesma imensos e inalienáveis privilégios – dachas e moradias luxuosas, limusines, restaurantes, lojas, clínicas, centros de repouso especiais e quase gratuitos -.
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Eis o objetivo declarado da Nomenklatura, aplicando o princípio leninista que preconiza procurar o ponto fraco do adversário e aí concentrar seu ataque: ela tenta sua chance em diversos pontos do planeta. É na Europa que procede com mais método, ainda que com bastante circunspecção. A Europa não constitui, propriamente dito, o ponto fraco do campo ocidental, mas sempre segundo Lenin, “ela constitui o elo particular que convém agarrar com todas as forças paa ter toda corrente nas mãos.

Atualmente, a produção industrial dos países socialistas representa mais de um terço do total mundial. Se a Europa Ocidental caísse sob o controle da Nomenklatura, essa proporção aumentaria consideravelmente, assegurando-lhe, assim, uma predominância absoluta nesse setor primordial. Ocorreria o mesmo em termos de mão-obra e potencial científico.

A passagem da Europa PA o campo nomenklaturista faria, pois, pender a balança a favor da Nomenklatura. Os que, na América, falam ativamente em se barricar, se necessário, na “fortaleza americana”, deveriam indagar-se que perspectivas se ofereceriam aos EUA, se tivessem de enfrentar uma Nomenklatura dona da massa continental coberta pela Europa, Ásia, África, uma Nomenklatura que se entregaria, além do mais, a um trabalho de sapa em seu próprio território. A integridade da Europa Ocidental é essencial, pois é ela que e determina a resposta à pergunta feita por Lenin: “Quem vencerá quem?

Isso não impede, de maneira alguma, a Nomenklatura de passar ao ataque simultaneamente em outras partes do mundo. No Sul da Europa e no Sul das repúblicas soviéticas da Ásia Central se estendem as vastas superfícies dos países do Terceiro Mundo. Ela lançou uma ofensiva nessa direção, tendo como objetivo de instaurar ali, por todos os lados, Estados do tipo “Democracia Popular” (os projetados para o Terceiro Mundo são, para Moscou, “Estados nacionais democráticos”). E se isso ainda não está no domínio do possível,ela espera conseguir uma “finlandização” adaptada às possibilidades do bloco África-Ásia.

A Índia, de Indira Gandhi (antes da derrubada e depois da volta desta), nos fornece um bom exemplo do que poderia ser esse tipo ‘finlandização”. A Finlândia é um pequeno país, enquanto a Índia é imensa e conta com uma população muito mais numerosa do que a da União Soviética, mas, a despeito dessas diferenças flagrantes, as relações que ela mantinha, sob Indira Gandhi, com a URSS, lembravam as que existiam entre a Finlândia e Moscou. Durante esse período, a Nomenklatura soube explorar o medo sentido pelos dirigentes indianos diante da China PA torná-los conciliadores e receptivos a seus conselhos.

Durante os últimos anos a África viu nascer numerosos governos do tipo das democracias populares. Um Estado do Terceiro Mundo deve reunir um certo número de condições antes de ostentar o label de “país de orientação socialista” pela Nomenklatura. Ela não leva em consideração nem o nível de desenvolvimento das forças produtivas nem a importância da classe operária, nem mesmo a existência de um partido comunista: as tomadas de posição pró-ocidentais ou pró-soviéticas do regime considerado constituem para ela o critério essencial desse reconhecimento. Disso resultam certas flutuações nas apreciações que a propaganda da Nomenklatura faz sobre a natureza dos regimes políticos dos diversos Estados do Terceiro Mundo.Os partidos baatistas, no poder na Síria e no Iraque, foram, durante muito tempo, tachados de fascistas, e agora são considerados democráticos e revolucionários. Kadhafi, que ela tratava anteriormente de reacionário, fascista e fanático, transformou-se depois em estadista progressista e socialista.

A atitude dos governantes pode ser decisiva. Assim, a República Centro-Africana, aos olhos de Moscou, poderia constituir um Estado Nacional-Democrático perfeitamente aceitável. Para isso bastaria Bokassa declarar-se Secretário-Geral do Partido, mandar o imperialismo norte-americano para os quintos dos infernos, e proclamar seu devotamento indefectível aos ideais socialistas. Mas, ao invés disso, proclamou-se Imperador, demonstrando, sem equívoco a orientação pouco socialista de seu regime.

Seria um erro querer minimizar o impacto da política seguida pela Nomenklatura nesses países, pois ela sabe jogar com a hostilidade que os povos do Terceiro Mundo votam aos seus antigos colonizadores, e a sua propensão a considerar os ocidentais como recolonizadores em potencial, quer possuam colônias ou não. Bem curiosamente, a União Soviética, última potência colonial do mundo, figura do lado anticolonialista na opinião dos políticos do Terceiro Mundo. O desenvolvimento econômico constitui o problema essencial da maior parte desses países. Nesse domínio, o Ocidente lhes poderia ser de muito maior valia do que a URSS, e conseqüentemente, o Ocidente seria o aliado natural do Terceiro Mundo.

Mas, a Nmenklatura lançou um slogan afirmando o contrário, e ele foi levado a sério nos círculos políticos do Terceiro Mundo, Eis aí um dos êxitos mais importantes de sua diplomacia e de sua propaganda, pois lhe permitiu ganhar o apoio sistemático de um certo numero de países do Terceiro Mundo, vozes começaram a se fazer ouvir para denunciar a política neo-colonialista da Rússia nos países em vias de desenvolvimento. Mas, com toda evidência, levará muito tempo antes que esta tomada de consciência repercuta sobre a política externa desse país.

Enquanto espera, a Nomenklatura não se limita a querer edificar sociedades socialistas nos países do Terceiro Mundo e da Europa Ocidental. Visa igualmente a América do Norte, a Austrália e a Nova Zelândia. Documentos oficiais do PCUS e de outros partidos comunistas afirmam, com vigor, que o socialismo não parará nas portas de nenhum país do planeta, que ele representa o futuro radioso da humanidade inteira.
Radicalismo verbal? Não! É realmente o plano da classe dos nomenklaturistas. Sob a capa do socialismo real para todos, a Nomenklatura procura instaurar sua hegemonia sobre a totalidade do planeta.

Há uma opinião que surge de tempos em tempos no Ocidente. Segundo ela, seria possível conter a agressividade da Nomenklatura, pagando-lhe um tributo que consistiria em ajudá-la a vencer as dificuldades que encontra tanto nos países do Leste quanto na União soviética. É o conteúdo da famosa “doutrina Sonnenfeld”, que afirmava que os EUA deveriam dar mão forte as dirigentes soviéticos para lhes permitir boas relações “orgânicas” com os povos dos outros países do Leste. Alexander Yanov, que emigrou da URSS para os EUA, enunciou idéias bem semelhantes quando recomendou aos ocidentais apoiar a “NOVA CLASSE”.

O defeito desses raciocínios é que eles desprezam um dado fundamental: é impossível livrar-se do expansionismo e da agressividade da Nomenklatura, mesmo pagando-lhe tributo, pois eles constituem a característica fundamental dessa classe. Quando muito, pode-se, deixando-lhes como alimento povos e países – aliados potenciais – ganhar tempo, enquanto ela está ocupada em devorá-los e digerí-los. Mas, quando o último prazo se esgotar, e quando se estiver à beira do abismo, não restará mais nenhum aliado.

É claro que existe outra linha de conduta possível, conclui o autor do texto, aqui resumido: MICHAEL S. VOSLENSKY.

30 de agosto de 2016
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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