As regras são claras, como diria o comentarista Arnaldo Cesar Coelho. Este conceito, no entanto. é valido para o esporte, mas está desmoralizado no que se refere à política. A Lei do Impeachment, ainda em vigor, não vale mais quase nada. O Supremo a modificou de maneira informal, digamos assim, e um novo rito passou a prevalecer, sem estar escrito em documento algum, validado apenas por analogia. De acordo com esse novo rito virtual, o Senado precisa apenas de maioria simples para afastar a presidente Dilma Rousseff. Isso significa que ausências e abstenções não contam e o resultado se dará por maioria dos votos válidos. Como 50 senadores já se declararam a favor do impeachment e apenas 20 são contrários, a fatura está liquidada.
Logo após a apuração dos votos no placar eletrônico (não haverá a votação nominal prevista na lei), a Mesa do Senado se reunirá para editar o chamado “decreto de acusação”, já previamente redigido pela assessoria. Assim que for assinado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), caberá ao primeiro-secretário, senador Vicentinho Alves (PR-TO), a desagradável tarefa de entregar a intimação à presidente Dilma Rousseff, no local onde ela estiver, para declará-la afastada do governo.
Ainda segundo a lei que continua em vigor (mas não está valendo muito), Dilma poderá permanecer morando “no palácio residencial” (Alvorada), com todas as mordomias, seguranças, carros oficiais etc., mas recebendo apenas meio salário.
LEIS NÃO VALEM NADA
Acontece que no Brasil do terceiro milênio as leis não valem muito, o que predomina é a interpretação dos ministros do Supremo. Portanto, se os presidentes do Judiciário e do Legislativo, Ricardo Lewandowski e Renan Calheiros, quiserem conceder salário integral, jatinho à disposição e outras prerrogativas à presidente afastada, não haverá surpresa alguma. Nada de novo na frente ocidental, diria o genial escritor alemão Erich Maria Remarque.
Não há cerimônia de posse. De caneta em riste, o vice Michel Temer começará logo a governar, como se efetivo fosse, nomeando e demitindo adoidadamente, para que a administração pública siga seu curso.
UMA PRESIDENTE-ZUMBI
Ao invés de fazer como Fernando Collor, que apresentou logo sua renúncia, Dilma pretende ficar no Palácio Alvorada, aguardando que o processo tramite no Senado, como se tivesse alguma chance de reverter a situação. Sua saúde é precária, está sendo tratada para esquizofrenia e usa como sonífero uma droga fortíssima, que é ingerida por pacientes em salas de cirurgia, antes de serem submetidos à anestesia geral.
Há dois meses ela não lê jornais ou revistas, nem assiste a telejornais. Recebe diariamente uma sinopse elaborada pela assessoria, que dá destaque às notícias aparentemente positivas, como o afastamento de Cunha, mas amacia as informações que possam agravar o estado de saúde dela, como a petição da Procuradoria-Geral da República para que a presidente seja investigada no Supremo por crimes de obstrução à Justiça, caracterizados pela manobra no Superior Tribunal de Justiça para libertar Marcelo Odebrecht e pela nomeação de Lula para obter foro privilegiado de ministro.
SEM A MENOR CHANCE
É um crime que assessores e ministros deixem de informar a real situação à presidente Dilma, sob o falso pretexto de não agravar o estado de saúde dela. Tentam alimentá-la com falsas esperanças de que faltam apenas oito votos para que ela recupere o mandato,ainda há 11 indecisos e existe até possibilidade de reverter alguns votos a favor do impeachment, como alguns jornalistas ligados ao PT insistem em apregoar.
Comemoram o retorno do ministro Armando Monteiro (PTB-PE) ao Senado, para votar a favor dela. É uma ilusão, porque na prática isso não altera em nada o placar, que continua 50 a 20, porque Monteiro substituirá seu suplente Douglas Cintra (PTB-PE), que também iria votar contra o impeachment.
NÃO HÁ MAIS INDECISOS
Ninguém revela à presidente Dilma que já não existem indecisos. Os 11 senadores que ainda não declararam voto só estão agindo assim para proteger os cargos comissionados que nomearam na gestão de Dilma. Assim que a atual presidente for afastada, eles vão aderir ao novo governo e assim conseguirão preservar os empregos de parentes, amigos e correligionários. Essa manobra já foi até acertada como a equipe de Temer, mediante intermediários.
Entre os 11 “indecisos”, seis são de um mesmo partido, o PMDB, que na votação final vai fechar questão a favor do novo governo. Além disso, Temer pode também conseguir alguns votos de senadores que ainda estão apoiando Dilma, por motivos meramente fisiológicos, para preservar as nomeações que fizeram na era do PT.
Quem continua a dar falsas esperanças a Dilma Rousseff não conhece o funcionamento da política brasileira ou realmente está mal intencionado, usando a presidente como massa de manobra em favor dos interesses de Lula e do PT, sem demonstrar a mínima preocupação ao precário estado de saúde dela. É uma perversidade, não há a menor dúvida.
08 de maio de 2016
Carlos Newton
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