Vivemos mesmo a era do imprevisto. É a marca dessa radical transição que atravessamos, iniciada em algum momento no final do século XX e que se estenderá por várias décadas à frente.
Um tempo de mudanças estruturais, tecnológicas, científicas e socioeconômicas vertiginosas; crises em sucessão; desencontro crescente entre a sociedade digital e a política analógica; contradições. Quem diria, alguns meses antes de um presidente dos EUA desembarcar em Cuba, ainda na vigência da dinastia dos Castro, que veria ele a primeira-dama passeando por Habana Vieja?
Ou que um candidato “estrangeiro”, como Donald Trump capturaria o eleitorado republicano e conquistaria a indicação do partido par default? Ou que, com a indicação garantida antes mesmo da convenção, teria que travar intensa luta para conseguir o apoio dos caciques do partido, sem saber se chegará às eleições com esse referendo?
Ou, mesmo, que Hillary Clinton, legítima representante do establishment democrata, teria dificuldades em ganhar a indicação nas primárias, contestada por um socialista septuagenário, apoiado majoritariamente pelos eleitores mais jovens? Quem diria que Londres elegeria o primeiro prefeito muçulmano, em meio a violenta campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, em boa parte por apoiar uma política anti-imigração mais rigorosa?
Nenhum desses eventos esteve no radar dos analistas, até praticamente a véspera de ocorrerem. Esses imprevistos, que podem mudar o rumo da política de um país ou de um continente, ou ter repercussões globais têm registro na história. Mas, em nenhuma época recente eles se multiplicaram por toda parte e na frequência com que ocorrem agora. Ao contrário do padrão de tempos normais, eles nos surpreendem a todo momento.
É a marca da transição, que tem por característica, além dessas surpresas recorrentes do inesperado, a permanente contradição. Todos os movimentos da história contemporânea ocorrem em simultâneo com seus contrários.
Nenhum desses eventos esteve no radar dos analistas, até praticamente a véspera de ocorrerem. Esses imprevistos, que podem mudar o rumo da política de um país ou de um continente, ou ter repercussões globais têm registro na história. Mas, em nenhuma época recente eles se multiplicaram por toda parte e na frequência com que ocorrem agora. Ao contrário do padrão de tempos normais, eles nos surpreendem a todo momento.
É a marca da transição, que tem por característica, além dessas surpresas recorrentes do inesperado, a permanente contradição. Todos os movimentos da história contemporânea ocorrem em simultâneo com seus contrários.
A aguda polarização nos EUA, desembocará numa eleição na qual se defrontarão o hiperconservador e hiper-heterodoxo Donald Trump e Hillary Clinton, a grande dama do establishment Democrata.
Ela, provavelmente terá muitos votos de eleitores republicanos, apoio de caciques do partido rival e de financiadores leais aos conservadores, inconformados com a supremacia de Trumo. Obama, que conquistou a marca de presidente progressista por tentar mudar o status quo no segundo mandato, será substituído por um super-conservador ou por uma representante do status quo Democrata.
Em plena campanha anti-imigração, Londres elege Sadiq Khan seu prefeito, o primeiro muçulmano a governar uma grande capital europeia. Ele se apresenta ao povo de Londres ao lado de seus contendores e o candidato da extrema direita lhe dá ostensivamente as costas. Os extremistas avançam por toda a Europa e Londres dá essa resposta. Eles querem acabar com a União Europeia, muitos analistas já consideram esse inédito experimento federativo entre nações e de união monetária perdido.
Milhares de pessoas enchem a praça de Varsóvia, pedindo que a UE se mantenha e, nela, o espaço polonês. Nas mesmas eleições em que o eleitor de Londres preferiu o muçulmano ao conservador, o eleitor escocês pôs os conservadores, que se imaginava a caminho da extinção na Escócia, em segundo lugar no parlamento, deslocando os trabalhistas para terceiro.
Quem quiser identificar alguma tendência indicativa dos rumos que a sociedade global tomará, terá mais sorte se aventurar-se pelas mudanças que estão ocorrendo nas cidades. Bristol, defenestrou um prefeito carismático, que a projetou no cenário global como a cidade mais verde do mundo, para eleger um trabalhista negro que denunciou o crescimento das desigualdades.
Quem quiser identificar alguma tendência indicativa dos rumos que a sociedade global tomará, terá mais sorte se aventurar-se pelas mudanças que estão ocorrendo nas cidades. Bristol, defenestrou um prefeito carismático, que a projetou no cenário global como a cidade mais verde do mundo, para eleger um trabalhista negro que denunciou o crescimento das desigualdades.
Londres preferiu um muçulmano pró-Europa, a um conservador favorável à "Brexit" (saída da Grã-Bretanha da UE). Pode, também, prestar atenção no que acontece no domingo, 15 de maio, para quando o movimento de rua francês Nuit Debout convocou mobilização global de protesto contra a austeridade, para ver se a convocação teve êxito. Mas não deve esperar um movimento unificado, com palavras de ordem uniformes.
Verá um movimento com demandas disparatadas, a maioria difusa ou expressa em questões que não justificariam mobilização de massa global. Não é pelo conteúdo das demandas, ou busca de um fio condutor comum, uma organização no comando, ou mesmo o sucesso de uma convocação que se encontrará tendências. Elas estarão na espontaneidade, da diversidade, no uso cada vez mais eficiente das redes sociais para fins políticos imprecisamente definidos. Se tiverem alguma definição discernível. No divórcio cada vez mais evidente entre a sociedade — que se alargou e diferenciou — e a política, que persiste estreita, convencional e padrão.
Os eventos mais interessantes dessa grande transição que vivemos ocorrem nas cidades ou no plano global. Estão no local e no global, ou na dimensão glolocal — e não nacional — desse mundo em vertiginosa transformação. As velhas estruturas ruem e as novas não emergem completamente no mesmo compasso.
Os eventos mais interessantes dessa grande transição que vivemos ocorrem nas cidades ou no plano global. Estão no local e no global, ou na dimensão glolocal — e não nacional — desse mundo em vertiginosa transformação. As velhas estruturas ruem e as novas não emergem completamente no mesmo compasso.
É entre os escombros do velho mundo e as obras inacabadas, muitas puramente experimentais, do novo mundo, que se pode encontrar tendências. Pode se encontrar os sinais do novo tempo na crise do estado nacional, na emergência de eventos globais de toda natureza, no ressurgimento das cidades que pareciam decadentes, nas transformações políticas locais e globais. Mas não se deve esperar que eles façam sentido automaticamente ou sejam fáceis de interpretar.
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