"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de maio de 2016

BODE EXPIATÓRIO

Sempre fui aclamado como um notável espírito de porco, em todos os sentidos.

Em criança sempre torcia pelo bandido, quando vejo esses surfistas que aparecem na televisão, torço freneticamente pelas ondas. Sei que não agrado a ninguém, mas agrado a mim mesmo pelas canoas furadas que tomei e continuo tomando.

Tudo isso para confessar que não considero o Eduardo Cunha o vilão número 1 do nosso tempo. Qualquer catástrofe no catastrófico momento que estamos vivendo é atribuído a ele, até mesmo o desabamento da ciclovia de São Conrado, que matou pouca gente porque Eduardo Cunha não estava em seus melhores dias.

Desde os tempos bíblicos, as sociedades não podem passar sem um bode expiatório e não adianta jogá-lo ao mar como jogaram o profeta Jonas, um sujeito esperto que conseguiu se abrigar no ventre de uma baleia. Não estou insinuando que o Eduardo Cunha faça o mesmo, e pelo que sei não há baleias disponíveis em Brasília.

No passado tivemos um mega bode expiatório que era o Paulo Maluf. Nos tempos romanos tivemos Catilina, que abusou da paciência nossa - segundo Cícero e as gramáticas latinas. Aliás, é uma das primeiras manifestações do espírito de porco que me acompanha até hoje, tive um gato que batizei com o nome de Catilina. Ele realmente abusava da minha paciência.

No caso de Cunha não chego a tanto. Não o chamarei de Jonas nem de Catilina, não quero dizer que ele seja inocente, porque, na verdade ninguém é inocente, sobretudo dona Dilma. Cabe a ele e a ela provarem que não têm dinheiro na Suíça e nunca deram pedaladas fiscais.

Quando Pilatos colocou em leilão Barrabás e Jesus, a plebe rude escolheu Barrabás. Não quer dizer que prefira Cunha a Dilma. Mas ele não é responsável pelo dinheiro que o Brasil mandou para Angola e outros países.



03 de maio de 2016
Carlos Heitor Cony, Folha de São Paulo

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