"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

BRASIL ENFRENTA UMA EQUAÇÃO AINDA INCONCLUSA



Agora, Michel  Temer tem de governar um país dividido





















Dividido o país estava e assim continuará, em termos tanto ideológicos quanto políticos. Foi a partir de Getúlio Vargas que mais se acentuou a dicotomia, não havendo a menor expectativa de que vá arrefecer. Os acontecimentos que culminaram com a votação de ontem na Câmara dos Deputados demonstram o choque interminável entre as duas principais concepções que dividem o planeta: de um lado, os beneficiados pelo berço ou pela riqueza; de outro, os despojados das condições de sobrevivência acordes com suas necessidades. No meio deles, grupos a oscilar na busca entre as duas realidades.
Digladiam-se o cidadão bem nascido, pleno de facilidades e disposto a multiplicar os benefícios que usufrui pelo fruto de seu trabalho, de sua família ou de seu ócio. Agarra-se ao direito de continuar onde está e até de ampliar suas benesses e suas posses, ignorando reclamos a respeito da distribuição dos benefícios da civilização e da cultura. Cada um que cuide de si, caso o berço não lhe tenha sido favorável ou a riqueza não lhe tenha batido à porta.
A maioria lava as mãos, contenta-se em sustentar que cumpre seus deveres, paga seus impostos e não tem que prestar contas à indigência ou à má sorte dos outros.
CUIDANDO DE SI
Sempre haverá, no grupo superior economicamente, os exploradores, os larápios e os bandidos, mas a grande parte imagina cumprir suas obrigações cuidando de si.
São esses os que moldam as leis às suas conveniências, impondo a força ao direito. Como também a malícia à ética.
Desde que o mundo é mundo assiste-se ao redor desses privilegiados aqueles que fracassam, ao pretender alçar-se a patamares mais justos e menos miseráveis, e então bradam e se indignam, sempre prontos a investir sobre os detentores das vantagens, impossibilitados de sucesso.
Entre a massa submetida a cada vez maiores sacrifícios também existirão os aproveitadores, os malandros e os empenhados em não fazer força.
A ERA DA CARIDADE
Houve tempo, em nossa civilização, que não havia salário mínimo, nem férias remuneradas, nem horas extraordinárias, muito menos educação gratuita para os filhos, tratamento médico sem exploração ou pagamento, até moradias e transporte público condizentes. Sem falar na garantia do trabalho.
A caridade supria pequena parcela dessas necessidades, mas foi necessário que a lei evoluísse a ponto de transformar em direito e garantia essas evidências antes tidas como esmolas.
Assim passaram-se décadas, ora premidas por mais exigências dos menos favorecidos, ora inundadas pelas espertezas dos que conservavam seus privilégios pelos mecanismos de sempre.
SEM QUALIDADES
Derrubaram Getúlio Vargas por conta de sua resistência, não deixaram que João Goulart acompanhasse seus passos, mas a natureza das coisas seguiu o curso inexorável. Pleno de defeitos e de falta de compreensão, mas eivado da consciência de sua missão, o Lula marcou pontos. Veio Dilma, com os defeitos e nenhuma qualidade do antecessor.
Arregimentaram-se as elites, ávidas de recuperar o tempo perdido. Aproveitaram-se das tentações em que caíram os representantes das massas, inserindo a corrupção na difícil equação. O resultado aí está, ainda inconcluso. Ganhará o retrocesso, eterno objetivo das elites? Ou conseguirão sobreviver as massas, desde que extirpadas de aproveitadores e de obtusos?
Ninguém se iluda: estamos em uma etapa ainda indefinida, porque sujeita a todo tipo de percalços e nem por sombra completará o problema.

18 de abril de 2016
Carlos Chagas

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