A presidente Dilma Rousseff está vendo seu governo ruir sem qualquer capacidade de reação. O pedido do Ministério Público de prisão preventiva do ex-presidente Lula, ao qual a petista tentou se agarrar nos últimos dias em busca de sobrevivência, foi um golpe tão forte que, mesmo entre os mais sinceros aliados, já se admite a possibilidade de ela não terminar o mandato.
O clima em toda a Esplanada dos Ministérios é de consternação. A cada dia, aumenta o grupo de auxiliares da presidente que reconhecem que a Operação Lava-Jato pode, sim, derrubar o governo, seja pelo impeachment, seja pelo processo que tramita do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seja pela renúncia. Enquanto o envolvimento de Lula nas investigações de corrupção na Petrobras estava na base das suspeitas, o Planalto se sentia mais confortável para tentar sair do imobilismo. Mas com o criador de Dilma podendo ir para a cadeia, a crise política se instalou de vez no gabinete presidencial — e num grau sem precedentes.
O entendimento é de que, se Dilma já estava completamente isolada, sem base política para tirar as cordas do pescoço, agora, será difícil esperar qualquer movimento que possa dar esperança de descolamento da crise, e não será a nomeação de Lula que mudará esse quadro. Com isso, a economia tende a afundar de vez. Para o empresariado, não há como atuar num ambiente de negócios tão confuso, em que não se sabe se o atual governo conseguirá chegar ao fim do mandato, quem seria o potencial sucessor de Dilma e que medidas poderiam ser adotadas para a retomada da confiança.
RISCO DE CAOS SOCIAL
Os agentes econômicos alertam, ainda, para o risco de caos social. Está claro que, com Lula no centro da Lava Jato, o país, que já vivia um clima de confronto ideológico, se dividiu por completo. Nesse quadro, não há qualquer perspectiva de avanço de medidas no Congresso para desanuviar o horizonte. “Chegamos a um momento em que basta apertar um botão para mergulharmos numa convulsão social. Estamos no pior dos mundos para aqueles que querem produzir, empregar e gerar renda”, ressalta o presidente de uma das maiores empresas do país.
A situação está tão fora da ordem no Brasil, que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, foi desautorizado pelo presidente do PT, Rui Falcão, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Na tentativa de passar o mínimo de credibilidade, o ministro aproveitou a cerimônia de 30 anos do Tesouro Nacional para defender a necessidade de reforma da Previdência Social. Mas, pouco depois, em São Paulo, teve que ouvir de Falcão que a reforma estava fora de qualquer cogitação. O encontro de Barbosa, do petista e de Lula, por sinal, sequer estava na agenda oficial do ministro, apesar de a Fazenda alegar que a conversa estava marcada havia um mês.
FRITURA DE BARBOSA
Barbosa está sofrendo com o PT o mesmo que o seu antecessor, Joaquim Levy. Todas as vezes que alguma medida de ajuste fiscal era apresentada, o partido gritava, sob o argumento de que prejudicaria os trabalhadores. Esses ataques, ressalte-se, tinham o aval de Barbosa, que sonhava assumir o comando da Fazenda. O PT precisa entender, contudo, que o ajuste fiscal em nada prejudica a população. Muito pelo contrário. Foi a desarrumação das contas públicas durante o governo Dilma que provocou a maior crise econômica do país em mais de três décadas, trazendo de volta a inflação, que maltrata, sobretudo, os mais pobres, e o desemprego, que, neste ano, pode chegar a 14%.
A fragilidade de Barbosa é reflexo do descalabro a que o país chegou. O governo se tornou uma miragem. A presidente Dilma só pensa em salvar a própria pele. Quase nada está sendo feito para reverter a gravíssima recessão e recompor as forças políticas. Apostando no pior, o mercado financeiro, espertamente, tenta tirar proveito, ao puxar a bolsa de valores para cima e derrubar o dólar. Sem reação, cabe ao lado mais frágil da moeda, a população, colher os imensos prejuízos.
15 de março de 2016
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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